A relação de troca entre a soja e os insumos vai cair significativamente na próxima safra, com os produtores podendo perder até 10 sacas de 60 kg por hectare em rentabilidade em determinadas regiões, em função da elevação dos custos e da queda do preço da oleaginosa, disse nesta segunda-feira um pesquisador Cepea.
“Houve uma queda nos preços da soja, mas principalmente uma elevação do custo”, disse à Reuters o pesquisador Mauro Osake, especialista em gestão agrícola do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea).
O volume de soja necessário para pagar pelo custo total de cada hectare está calculado atualmente em 52,5 sacas, contra 42,5 sacas calculadas em abril de 2012, tomando como base a região de Sorriso, importante polo produtor no norte de Mato Grosso.
A produtividade média na região na última safra foi perto de 57 sacas por hectare, segundo o Cepea, centro de pesquisas em agronegócio da Universidade de São Paulo.
Em outras palavras, o lucro do produtor, soja que sobra após serem pagos todos os custos, será muito mais apertado no próximo ano.
O cálculo inclui insumos – fertilizantes, defensivos e sementes, por exemplo -, depreciação, financiamentos e arrendamento, entre outros itens, e supõe que os produtores vão utilizar na próxima safra o mesmo pacote tecnológico que usaram na anterior.
A safra 2013/14 começa a ser plantada no Centro-Oeste em meados de setembro.
O preço recebido pelo produtor na região de Sorriso caiu mais de 9 por cento de abril de 2012 para abril de 2013, estando atualmente em 41 reais por saca, de acordo com as pesquisas do Cepea, em linha com um recuo nas cotações internacionais, diante da safra recorde no Brasil e expectativa de recuperação nos estoques globais.
Na outra ponta da formação da rentabilidade do produtor, os custos têm subido.
O preço do fertilizante –insumo que mais pesa– a ser pago pelo produtor, na revenda, subiu 4 por cento em Sorriso em 1 ano. Os herbicidas subiram 12 por cento, o diesel 8 por cento e a mão-de-obra 8 por cento. A semente transgênica está 5 por cento mais cara. Já os fungicidas e os insecticidas caíram 2 e 4 por cento, respectivamente.
Na virada do ano o salário mínimo do país foi reajustado. O diesel, usado no maquinário agrícola e nos caminhões que transportam a safra, tem sido elevado nos últimos meses pelo governo federal para diminuir um déficit nas contas da Petrobras.
Fertilizantes – O pesquisador Mauro Osake avalia que muitos produtores –capitalizados após uma sequência de boas e rentáveis safras– aproveitaram para comprar boa parte dos fertilizantes antecipadamente.
Por outro lado, quem ainda não fez as aquisições está cauteloso, após um recuo recente nas cotações internacionais da soja.
“A negociação de fertilizantes deu uma parada nas últimas semanas”, ponderou.
Do ponto de vista do produtor, a melhor alternativa é fechar os negócios logo de uma vez, afirmou ele.
“O produtor não pode ficar ‘bobeando’ muito se quiser pagar seu custo total. Ele vai ter que trabalhar muito bem para ter uma produtividade de equilíbrio.”
Levantamento do Cepea sobre a relação entre preço de fertilizantes e preço da soja mostra que a margem dos produtores caiu nos últimos quatro meses. Veja na tabela abaixo:
Relação de Troca – SOJA X FERTILIZANTES
Sacas de 60 kg necessárias para compras 1 t de fertilizante
Potássio Fósforo*
Jan | Abr | Jan | Abr | |
Sorriso/MT | 27 | 32 | 32,2 | 36,5 |
Rondonópolis/MT | 23 | 27 | 29 | 31,4 |
Cascavel/PR | 22,5 | 24,4 | 26 | 28,8 |
Balsas/MA | 24 | 26,6 | 26,3 | 29,33 |
* Variação da relação de troca entre janeiro e abril de 2013
A queda nas cotações futuras da soja no mercado internacional, motivada por uma expectativa de colheita abundante, incluindo a recuperação das lavouras dos EUA, afetadas por uma seca na temporada passada, está também desmotivando a venda antecipada da safra 2013/14, disseram especialistas na semana passada.
Plantio da próxima safra – Apesar das margens reduzidas, o pesquisador do Cepea acredita que a área plantada com soja continuará expandindo no próximo período.
“Eu aposto no aumento ainda, mas não na mesma magnitude do ano passado”, disse Osake.
Só na safra 2012/13 o Brasil acrescentou 10 por cento de área cultivada com soja, semeando um recorde de 27,7 milhões de hectares, de acordo com dados oficiais do governo.
“A rentabilidade ainda é positiva, mesmo no fechamento de abril. A motivação ainda existe. Enquanto tiver área, eles (produtores) vão continuar plantando”, explicou.
O pesquisador disse que ainda é prematuro para fazer uma estimativa de área plantada em 2013/14 e preferiu não fazer uma projeção.