O ministro da Agricultura, Nikolai Fiodorov, recomendou aos agricultores russos que aumentem o plantio de milho para “elevar a produtividade na pecuária de corte e leiteira”. Isso porque o país pode perder até 11 milhões de toneladas da safra do próximo ano devido à redução da semeadura de grãos no inverno.
Esse é o caso da holding “Talin”, que, segundo a vice-diretora geral da área de criação de suínos, Evguênia Tolstikh, não cultiva milho para alimentar os seus porcos. “Somos completamente autossuficientes em relação às matérias-primas que compõem a ração combinada, mas não utilizamos o milho para essa finalidade. Esse vegetal não cresce muito bem na região do Volga, além disso, ele pode acumular toxinas, por isso, é provável que seja até perigoso inclui-lo na formulação da ração”, justifica a especialista.
Por outro lado, Evguêni Mikhailov, chefe do departamento de projetos e investimentos da maior agro holding russa, JSC Grupo “Cherkizovo”, observa que para as regiões com um clima apropriado ao cultivo do milho a proposta do Ministério da Agricultura é bastante racional.
“É um produto altamente energético e de fácil assimilação. Contém carotenoides, gordura, amido e açúcar, também possui baixo teor de fibras, mas é muito rico em proteínas. Se for de boa qualidade, o milho permite a obtenção de elevados indicadores econômicos e de produtividade na criação de aves e suínos”, comenta.
Potencial de exportação – Mesmo antes do anúncio do governo, os agricultores russos já vêm aumentando a safra de milho, cuja importação chegava a 1 milhão de toneladas até pouco tempo atrás.
“Desde o ano passado, o volume de exportação do milho se igualou ao da cevada, que ocupa o segundo lugar depois do trigo, e este ano esperamos um novo recorde de produção – mais de 10 milhões de toneladas. Provavelmente, o milho se tornará a segunda maior cultura em volume de exportação”, comenta Andrei Sizov, diretor-executivo do Centro Analítico SovEkon.
Segundo dados do Instituto de Estudos do Mercado Agrícola (IKAR), com base na safra deste ano o potencial de exportação é de 2 milhões de toneladas. O produto deve ser comercializado nos mercados tradicionais de exportação de grãos da Rússia, ou seja, no norte da África, Oriente Oriente Médio e, talvez, no sul da Europa.
Por enquanto, o milho russo não irá para a China, por causa dos preços de transporte, dificuldades de logística e simples ausência de certificado. Além disso, seria necessário concorrer com a Ucrânia, que produz, em média, 10 vezes mais milho do que a Rússia e já o fornece com êxito para o Japão e para a China.
A Rússia, assim como a Ucrânia, possui uma vantagem importante: ambos os países são os únicos fornecedores de milho não OGM (geneticamente modificado) no mercado mundial. “Os outros grandes exportadores, EUA, Argentina e Brasil, podem oferecer apenas variedades de OGM”, afirma Sizov.
Lembrança soviética – A recente declaração do ministro da Agricultura, Nikolai Fiodorov, de que o milho pode ser a salvação para a safra de grãos, suscitou muitas comparações com o líder soviético Nikita Khruschov. Quando, no final dos anos 1950 e início dos anos 1960, Khruschov estimulou a produção de milho na agricultura soviética, a iniciativa resultou na escassez de pão e na necessidade de importar grãos para a Rússia em 1963 – fato que não repetia desde o fim da Segunda Guerra Mundial. Daquele momento em diante, qualquer proposta para aumentar as áreas de plantio do “rei dos campos”, como o milho era chamado na URSS, acaba dando fruto a opiniões pouco favoráveis.