Nos últimos sete meses, o milho colhido no inverno do ano passado foi prioridade nos portos brasileiros. Mas agora é a soja que volta o dominar a pauta de exportações do país. Com o avanço da colheita de verão – as principais regiões produtoras registram mais da metade da área colhida -, a saída da oleaginosa começa a ganhar força.
A inversão nas exportações dos dois grãos é observada no balanço de março. De acordo com os números da Secretaria de Comércio Exterior (Secex), as remessas de soja saltaram de 959 mil toneladas em fevereiro para 3,53 milhões de toneladas no mês passado, crescimento de 270%. Apesar da evolução, o volume ainda é inferior se comparado ao registrado no mesmo período do ano passado, quando 4,24 milhões de toneladas do produto deixaram o país. A expectativa do mercado é de que o cenário continue favorável à oleaginosa nos próximos meses.
“A partir de agora a soja recupera magistralmente o ritmo de exportação. O Brasil precisa colocar o produto no mercado antes da entrada da safra norte-americana [prevista para setembro]”, lembra o técnico da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) no Paraná, Eugênio Stefanelo.
As informações vindas dos Estados Unidos apontam para boas condições climáticas e de umidade de solo. A expectativa, portanto, é de uma boa colheita no país, que no ano passado teve quebra de mais de 100 milhões de toneladas de soja e milho, reflexo da pior estiagem dos últimos 50 anos.
Para o analista da Safras & Mercado, Luis Fernando Gutierrez, outro fator importante que deve ser considerado é a safra brasileira recorde de soja, de 81,6 milhões de toneladas, conforme levantamento da Expedição Safra Gazeta do Povo. Com a maior oferta de oleaginosa, o país precisa exportar cerca de seis milhões de toneladas a mais em relação as 32,9 milhões de toneladas da safra passada. “A gente prevê exportações mais fortes que no ano passado chegando a 38,6 milhões de toneladas”, aponta. Se confirmado, o volume colocará o Brasil no topo do ranking mundial, como maior fornecedor do produto no planeta.
Além da soja em grão, o Brasil ainda deve negociar 15 milhões de toneladas de farelo e 1,8 milhão de toneladas de óleo.
Engarrafamento – Com a engrenagem dos portos brasileiros funcionando a todo vapor para a soja, a expectativa é de que os navios fiquem menos tempo na fila em alto mar à espera de autorização para carregar os produtos. Isso se não chover. Ontem, 94 embarcações aguardam na fila para atracar em Paranaguá, uma das principais portas de saída da safra nacional. Somente nos três berços do corredor de exportação de grãos do terminal paranaense eram 67 navios. Em Santos, entre fundeados e esperados para as próximas 48 horas, são 201 embarcações.
“Da porteira para dentro a situação está ótima e a produtividade está aumentando. O problema é do lado de fora, com a logística estrangulada”, lamenta Carlos Murate, presidente da cooperativa Integrada, de Londrina, no Norte do estado. “A questão de infraestrutura deixa a gente de cabelo em pé”, complementa Stefanelo.