A falta de chuvas e o calor excessivo já causaram perdas de pelo menos 40% na safra paulista de soja, segundo técnicos da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado. Dos 29,9 milhões de sacas de 60 quilos previstos, serão colhidos 17,9 milhões, ainda assim se as chuvas vierem a tempo de salvar as lavouras mais novas. O prejuízo das condições climáticas na cultura já atinge R$ 744 milhões, conforme a cotação da soja nesta quinta-feira (6/2). No sudoeste paulista, uma das principais regiões produtoras, as perdas chegam à média de 45%, mas as lavouras tardias, plantadas a partir de novembro, tiveram quebra de até 80%, segundo o dirigente da Secretaria em Itapeva, engenheiro agrônomo Vandir Daniel da Silva.
Mais do que a chuva, as plantas sentem a alta temperatura, segundo ele. “Nossa região é de clima ameno, mas a temperatura no campo tem chegado a 40 graus, o que leva à queda das flores e ao abortamento dos grãos.” Apenas no município de Itapeva, as perdas na soja beiravam um milhão de sacas. Em Capão Bonito, o agricultor Emilio Kenji Okamura via a soja ressequida pelo sol numa área de 300 hectares e contabilizava o prejuízo. “Boa parte dessa área já tem perdas de 40%”, disse. Agricultores que irrigam a soja enfrentam outro problema: sem chuva, as minas e lagoas onde é feita a captação da água estão secando. Na região de Ourinhos, Vale do Paranapanema, lavouras inteiras amarelaram antes da hora sob o sol forte. “Não choveu o necessário e as vagens não encheram, é só palha”, disse o agricultor Orlando Sartori.
O Estado de São Paulo não é grande produtor de soja, ocupa a oitava posição no País, mas a estiagem e o calor afetam também as lavouras do Paraná, segundo maior produtor. De acordo com a pesquisadora Juliana Yaguchi, do Departamento de Economia Rural (Deral) da Secretaria da Agricultura, a área plantada no Estado de 4,89 milhões de hectares – 5% mais que na safra anterior -, deveria produzir 16,5 milhões de toneladas, mas ela acredita que esse número será revisto para baixo. “A expectativa era de grande produtividade, mas já temos regiões sem chuva há 25 dias e o calor chega a 40 graus. Ainda não é possível mensurar, mas já há quebra”. Segundo ela, se não chover, as perdas podem ser ainda maiores. “O agricultor está olhando para o céu e pedindo chuva”, disse.
Milho – Em São Paulo e no Paraná já foram registradas perdas na safra de milho em razão da estiagem. Nas lavouras do sudoeste paulista, a quebra nas lavouras de milho pode chegar a 40%. “Só não vai ser maior porque o milho foi plantado antes e pegou boas chuvas na fase inicial”, disse Vandir Silva. As plantações do sul do Paraná, que concentra 40% do milho produzido no Estado, estão sendo mais afetadas. “O plantio foi feito mais tarde e a lavoura está pegando o período mais seco”, disse a pesquisadora do Deral. Os efeitos da seca nos dois Estados e em regiões produtoras do Rio Grande do Sul e do Mato Grosso do Sul podem afetar o desempenho da safra brasileira de grãos, prevista em 91,5 milhões de toneladas. Apesar da quebra, a safra ainda deverá ser recorde.