Recentemente, vi notícia sobre residual agroquímico detectado em hortaliças, pela fiscalização oficial de alimentos. Não é notícia nova, mas a sensação é de que, hoje, esse tipo de ocorrência vem recuando. Aliás, assinalo desde já: é legítimo e necessário o conceito de fiscalização regular dos alimentos. A alimentação é um direito do homem e, na era do abastecimento em escala, esse direito precisa ser assegurado com qualidade, segurança e saudabilidade.
Em geral, as razões associadas aos problemas de residual em alimentos são velhas conhecidas nossas. Coisas como erros de aplicação, inadequação de equipamentos, uso de produtos sem registro na cultura, tempo de carência ou demora no registro de produtos novos, de menor toxicidade. Tudo isso ressurge a cada vez que se constata alguma inconformidade.
Estamos em um país onde mais de 70% do abastecimento de hortifrútis já acontece via supermercado. Portanto, as condições estruturais de fluxo desses alimentos favorece a rastreabilidade, que se torna assim uma ferramenta estratégica para assegurar a sua saudabilidade – e ainda melhorar a integração dentro das cadeias produtivas e o nível de gestão da qualidade entre os produtores.
Segurança do alimento e eficiência produtiva em uma tacada só. E, se a isso agregarmos ações customizadas de capacitação no campo, nos pontos onde a rastreabilidade identificar gargalos, então somamos um terceiro elemento ao resultado: educação. Aí sim teremos um salto qualitativo em grau sistêmico, com ganhos e progresso para todo mundo – a começar pela mesa do consumidor, nosso dever primordial.
É sonho? Creio que não, pois já acontece no mercado, como mostra o Programa Rama*, criado para rastrear e monitorar o uso de agroquímicos em frutas, verduras e legumes vendidos em mais de 80 mil supermercados do País. Seus resultados são positivos: mais de 11.000 origens produtivas registradas e rastreadas, em processo que pode identificar inconformidades ao longo de todo o sistema, criando atalhos para a sua correção.
É coisa do Sudeste brasileiro, mais rico? Acho que não, pois há iniciativas similares no Nordeste e no interior de Santa Catarina, por exemplo. Ou seja, tem muita gente consciente do papel essencial da rastreabilidade, trabalhando para consolidar essa nova realidade no mercado FLV. Mas, como quase tudo no Brasil, precisamos fazer muito mais.
(*) Programa realizado pela ABRAS – Associação Brasileira de Supermercado, envolvendo associações estaduais do setor.