A Shell e a Unicamp firmaram parceria para pesquisas na área de biocombustíveis e biogás. A companhia irá investir cerca de R$ 6,1 milhões na instalação de uma planta piloto para processamento de biomassa e produção de biohitano, um biogás enriquecido com hidrogênio, o que lhe confere maior potencial energético. As pesquisas serão conduzidas pelo Laboratório de Genômica e bioEnergia (LGE), do Instituto de Biologia (IB), e pela Faculdade de Engenharia Agrícola (Feagri) da Unicamp.
A parceria foi assinada no final de março pelo reitor da Unicamp, professor Antonio José de Almeida Meirelles, e por Alexandre Breda, gerente de tecnologias de baixo carbono da Shell. Participaram do evento os líderes do projeto, professores Gonçalo Pereira, coordenador do LGE, e Gustavo Mockaitis, docente da Feagri. Também estiveram presentes os diretores das faculdades, professores André Freitas (IB) e Angel Pontin Garcia (Feagri), e o diretor executivo da Agência de Inovação da Unicamp (Inova), Renato Lopes.
De acordo com Alexandre Breda, a Shell tem como meta zerar suas emissões de carbono até 2050, o que depende de tecnologias voltadas ao uso de biocombustíveis. “Uma empresa não consegue atingir esse objetivo sem a contribuição da academia e dos governos. A parceria com a universidade é fundamental para trazer soluções tecnológicas e para nos ajudar a dialogar com a sociedade”, comenta.
As pesquisas realizadas com investimentos da Shell irão se concentrar em duas frentes: a instalação de uma planta piloto de processamento de biomassa para produção do biohitano e a exploração da biomassa do Agave para obtenção de biocombustíveis e biogás. O biohitano é um biogás obtido a partir de processos de digestão anaeróbia em que há uma concentração maior de hidrogênio em comparação com o metano.
“Por conter cerca de 30% a mais de hidrogênio, o biohitano tem o dobro do potencial energético. Um litro dele tem quase o dobro de energia do biometano. Quando enriquecido pelo hidrogênio, é um gás extremamente energético“, explica Gonçalo Pereira. O produto tem grande valor para a indústria petroquímica mas pesquisas na área são recentes: “Ainda não existe produção industrial de biohitano. Por isso a Shell se mostrou interessada”.
Os pesquisadores também pretendem investigar o potencial da biomassa do Agave para produção de biocombustíveis. A planta é utilizada para produção de fibras de sisal e de tequila, mas ainda pouco explorada do ponto de vista energético. São necessários estudos a respeito dos processos bioquímicos envolvidos em sua digestão por microorganismos e da forma como sua biomassa pode ser processada para obtenção de energia.
“Queremos estudar esses processos em escala micro no Laboratório de Genômica e bioEnergia e elevar a escala disso na Feagri. Ou seja, desenvolver uma forma de transformar o conhecimento sobre a biomassa de Agave e sobre os microorganismos que irão transformá-la em um processo piloto, depois em escala semi-industrial e, então, em escala industrial”, detalha Gustavo Mockaitis.
Por ser uma espécie adaptada a regiões semi-áridas, o Agave é uma opção para o desenvolvimento de áreas como o sertão nordestino. “Para sermos competitivos economicamente, precisamos de biomassa barata. O Agave é uma planta com produtividade semelhante à da cana-de-açúcar, e cujo cultivo pode gerar empregos, renda e manter as pessoas do campo”, defende Gonçalo.