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Soja torna China principal destino das exportações brasileiras em 2014

A China ganhou terreno e passou a ser o país no mundo que mais comprou do Brasil.

Soja torna China principal destino das exportações brasileiras em 2014

A antecipação do embarque da safra de soja ao exterior, motivada pela perspectiva de que os preços caiam no segundo semestre, provocou efeito concentrador nos destinos das exportações. A China ganhou terreno e passou a ser o país no mundo que mais comprou do Brasil. Foi responsável por US$ 1 em cada US$ 5 gerados pela exportação brasileira entre janeiro e abril.

Com 85% da pauta aos chineses reduzida a apenas três produtos — soja, minério de ferro e óleos brutos de petróleo – o cenário mostra que a soja compensou o recuo nos embarques a outros importantes parceiros da região no mesmo período, como Japão, Coreia do Sul e Taiwan.

Dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (Mdic) indicam que neste ano o Brasil embarcou US$ 2 bilhões a mais de soja para a China do que em 2013. De janeiro a abril, os chineses compraram US$ 6,7 bilhões do grão produzido no Brasil, um valor 41% maior do que o registrado no ano passado. O anúncio de uma grande safra prevista nos Estados Unidos no segundo semestre e os bons preços no mercado mundial anteciparam os embarques neste ano.

José Augusto de Castro, presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB) afirma, no entanto, que a perspectiva para 2014 é que as exportações aos chineses fiquem estáveis ou tenham pequena queda em valor ante 2013. “Os preços no mercado futuro estão altos até agosto e caem em setembro. Como 82% dos embarques do produto vão para a China e os preços das outras commodities estão em queda, esse incremento no comércio não deve se sustentar até o fim do ano”, diz ele.

De fato, o preço do minério de ferro está em queda neste ano. A manutenção de US$ 4,6 bilhões em exportações do produto à China se deveu ao aumento de 16,3% dos embarques em volume. A previsão da AEB é que o minério fique em média 8% mais barato neste ano. Em óleos de petróleo, no entanto, houve recuo de volume embarcado, o que tirou US$ 500 milhões do comércio com os chineses.

A previsão da AEB é diferente do registrado até abril, quando o total de embarques ficou 14,6% maior na média diária, em US$ 14 bilhões. Assim, a China aumentou em três pontos percentuais a sua fatia entre os destinos das exportações brasileiras, alcançando 20,3% do total. No primeiro quadrimestre do ano passado, os Estados Unidos eram o principal parceiro, absorvendo 19,8% das exportações. Neste ano, os americanos responderam por 18,2% do total apesar de terem comprado 17,4% a mais do que ano passado na média diária.

Já as vendas brasileiras a outros países asiáticos foram afetadas pelo recuo nos preços de outras commodities. As vendas ao Japão, à Coreia do Sul e a Taiwan no primeiro quadrimestre do ano retrocederam 23%, 32% e 35%, respectivamente, em relação ao mesmo período do ano passado. E os número da Organização Mundial de Comércio (OMC) indicam que o Brasil perdeu espaço nesses mercados. Enquanto as importações de sul-coreanos e taiwaneses aumentaram 2,8% e 0,2% de janeiro a abril, as compras do Japão cresceram vigorosos 5,5% no acumulado até março – último mês com dados disponíveis.

A queda nas vendas de minério de ferro, cereais, carne, café e algodão a esses três países – principais produtos embarcados a eles – ajudou a subtrair US$ 1,4 bilhão das vendas totais do Brasil neste ano.

A concentração da pauta à China não pode ser vista como algo necessariamente ruim, segundo o consultor da Câmara Empresarial Brasil-China (CEBC), Claudio Frischtak, já que existe uma elevada complementaridade entre as duas economias. No médio e longo prazo, a China seguirá como um país que demanda do exterior recursos naturais, e o Brasil, com fortes vantagens comparativas nessa área, tenderá a ganhar espaço nesse mercado. “Não é fácil imaginar um cenário futuro diferente do da concentração da pauta. E o aumento do volume do minério de ferro mostra que ganhamos mercado, por exemplo”, diz Frischtak.

O mais preocupante dos números do início do ano no comércio exterior é o encolhimento das vendas a outros mercados, “o que mostra uma persistente perda de competitividade das exportações”, diz o consultor. A desvalorização cambial do segundo semestre de 2013 não foi suficiente para reverter o quadro, cuja tendência não deve ser alterada, avalia Frischtak.

“Do ponto de vista estrutural, a grande questão é a de recompor mercados. Se não reverter a trajetória, a China pode se tornar, em alguns anos, 30% até 40% do destino total das exportações brasileiras”, diz Frischtak.

O encolhimento das vendas a Japão, Coreia do Sul e Taiwan não é fruto apenas de perda de mercado, na análise de Rodrigo Branco, pesquisador do Centro de Estudos de Estratégias de Desenvolvimento da Uerj (Cedes /Uerj). Ele vê um fluxo no comércio exterior internacional mais tímido neste ano do que o observado em 2013.

“Há um efeito híbrido. Creio que o resultado pior com esses países não se dá por algo específico. A queda nos preços das commodities e a demanda mais arrefecida estão presentes em muitos destinos para os quais o Brasil exporta”, afirma Branco.