Dependendo do comportamento dos preços no segundo semestre, isso poderá acontecer ainda em 2014. Mas, se os atuais patamares de negociação não se sustentarem, a chance de a marca ser atingida no ano que vem também é grande, a julgar pelas primeiras estimativas para a próxima safra (2014/15).
Em levantamento divulgado ontem, o Ministério da Agricultura passou a estimar o VBP da oleaginosa neste ano em R$ 99,36 bilhões, pouco acima do previsto em abril e montante 8% superior ao de 2013 (R$ 91,99 bilhões, deflacionados pelo IGP-DI da FGV de abril), até agora o maior já registrado. O indicador mensura apenas a produção do grão, “da porteira para dentro”. Ou seja, não captura o valor agregado ao longo da cadeia com as vendas de derivados como farelo, óleo ou proteínas voltadas aos setores de alimentos e bebida.
A estimativa também volta a chamar a atenção para a forte expansão do cultivo da commodity no Brasil nos últimos anos e sua crescente participação no VBP do campo como um todo no país. Em 2007, último ano em que ficou abaixo de R$ 50 bilhões (foram R$ 45,56 bilhões, nas contas da assessoria de gestão estratégica do ministério), a soja representou 23,7% do VBP das 20 principais lavouras do país (R$ 192,39 bilhões) e 15,7% do VBP total da agropecuária (R$ 290,89 bilhões). Em 2014, se o cenário traçado for confirmado, as fatias serão de 33,5% e 22,1%, respectivamente. Tanto o VBP das lavouras quanto o total – e também o da pecuária – serão os maiores da história brasileira este ano.
A colheita de soja desta safra 2013/14 está praticamente definida, sujeita apenas a ajustes marginais nas estimativas envolvendo a “safrinha” semeada em Mato Grosso, uma novidade que começa a ganhar força. Conforme a Conab, a partir de uma área plantada de 30,03 milhões de hectares, 8,3% maior que em 2012/13, a produção nacional deverá bater o recorde de 86,57 milhões de toneladas, um aumento de 6,2% em igual comparação. O incremento da colheita não acompanhará o da semeadura por causa das perdas provocadas pela seca do início do ano em lavouras da região Sul.
Por muito pouco esse volume não colocou o Brasil na liderança da produção global de soja em grão em 2013/14. Mas, conforme o Departamento de Agricultura dos EUA (USDA), principal referência para esse tipo de comparação – e que considera uma produção brasileira de 87,5 milhões de toneladas -, os EUA colheram 89,5 milhões e mantiveram a ponta. Mas vem do próprio USDA o sinal mais claro de que o VBP da soja no Brasil insistirá em chegar aos R$ 100 bilhões no ano que vem, caso isso não ocorra em 2014. Conforme o órgão, a expansão vai prosseguir e o volume chegará a 91 milhões de toneladas em 2014/15, cujo plantio terá início em setembro.
Nas exportações, entretanto, o Brasil já encabeça o ranking mundial. De acordo com o USDA, os embarques de soja em grão do país somarão 44,5 milhões de toneladas em 2013/14, contra as 43,55 milhões previstas para os EUA, e o volume vendido no exterior chegará a 45 milhões de toneladas em 2014/15, enquanto o “rival” alcançará 44,23 milhões. Nas contas da Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove), as exportações nacionais do grão somarão 43 milhões de toneladas no ano-civil 2014, 204 mil a mais que no ano passado. Mas a receita com essas vendas está prevista pela entidade em US$ 21,5 bilhões, mais de US$ 1,3 bilhão mais baixa.
Esse cálculo dá a medida do risco de o VBP do grão não bater em R$ 100 bilhões em 2014 – tanto que a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) estima “apenas” pouco mais de R$ 96 bilhões. Como boa parte dos analistas, a Abiove prevê maior pressão sobre as cotações da matéria-prima no segundo semestre, em consequência do forte aumento da produção estimado para os EUA em 2014/15, cujo plantio está em andamento. Graças a essa pressão, a entidade projeta o preço médio da tonelada exportada do grão neste ano em US$ 500, ante os US$ 533 de 2013. Em abril, de acordo com a Secretaria de Comércio Exterior (Secex/Mdic), os embarques da commodity renderam US$ 4,1 bilhões e a tonelada embarcada confirmou a tendência e saiu por R$ 501,1, queda de 5,6% em relação ao mesmo mês do ano passado.
Mas, como lembra Antônio Sartori, da corretora gaúcha Brasoja, é sempre preciso “esperar o inesperado”. Eventuais adversidades climáticas que prejudiquem o desenvolvimento da safra atual e a oferta de soja nos EUA podem perfeitamente evitar quedas mais profundas das cotações internacionais e até provocar valorizações. Cálculos do Valor Data com base nos contratos futuros de segunda posição de entrega negociados na bolsa de Chicago indicam que o preço médio do grão alcançou US$ 14,75,58 por bushel em abril, com valorizações de 4,8% em relação à média de dezembro e de 7,7% sobre a de abril de 2013.