Uma frente fria trouxe chuvas para a região Sudeste do Brasil nos últimos dias, ajudando a aliviar temporariamente a seca. No entanto, esse alívio não deve durar. A previsão do tempo indica que, a partir do dia 23 de setembro, as temperaturas devem voltar a subir, e o país retornará ao cenário de estiagem. Atualmente, cerca de 1.400 cidades brasileiras estão em situação de seca extrema ou severa.
Carlos Raupp, professor do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da USP (IAG/USP), afirma que a previsão climática sazonal aponta para a persistência de baixa umidade e altas temperaturas nas regiões Centro-Oeste, Norte, Nordeste e Sudeste. Dessa forma, as chuvas ficarão concentradas na região Sul. O Brasil ainda está sob os efeitos do término do fenômeno El Niño. “O El Niño atuou desde o ano passado até o primeiro semestre de 2024, resultando em um período muito seco, com chuvas abaixo do normal no Norte e Centro-Oeste, e chuvas intensas no Sul”, explica Raupp. Com o término do fenômeno, há um bloqueio atmosférico, um sistema de alta pressão que inibe a formação de chuvas e impede a passagem de frentes frias para as regiões Sudeste e Centro-Oeste.
Além disso, a maior incidência de radiação solar e a ausência de nuvens contribuem para uma onda de calor. Esse cenário favorece a propagação de incêndios e a concentração de poluentes na superfície. “A estabilidade atmosférica neste sistema de alta pressão desfavorece a dispersão vertical dos poluentes, o que agrava os efeitos dos incêndios e da poluição veicular e industrial”, acrescenta o meteorologista.
Impacto na Agricultura
O clima seco tem preocupado os produtores agrícolas no Brasil. No entanto, a previsão de chuvas em algumas regiões nas próximas semanas já está estimulando o início do plantio da nova safra. De acordo com Ludmila Camparotto, agrometeorologista da Rural Clima, o clima deve melhorar gradualmente no Centro-Sul do país. “Algumas áreas mais ao sul do Brasil, como Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná, devem receber chuvas mais intensas nesta semana. No final desta semana, áreas do sul de Mato Grosso do Sul e São Paulo também devem ser beneficiadas por precipitações, ainda que de forma bastante irregular.”
O Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) prevê que, no próximo trimestre, as chuvas ficarão concentradas no Sul do país e na região da Bacia Amazônica. O noroeste do Centro-Oeste deverá voltar a receber umidade somente no início de outubro, enquanto o restante da região enfrentará chuvas abaixo da média histórica. O Nordeste, por sua vez, deve ser a região mais seca, com previsão de apenas 25 milímetros de precipitação nos próximos três meses em algumas áreas.
Por enquanto, as chuvas previstas devem contribuir mais para a sensação térmica e a qualidade do ar do que para elevar os níveis de umidade do solo, essenciais para um bom plantio. “Essas chuvas são mais para aliviar as condições atmosféricas do que para garantir boas condições de plantio, principalmente em São Paulo e Mato Grosso do Sul. Com exceção do Sul, as chuvas ainda não foram suficientes para um solo apropriado para plantio”, explica Ludmila.