Em anos anteriores, os agricultores costumavam pedir chuva, mas na safra de verão 2023/2024, a situação mudou. Duas semanas após a abertura do calendário de plantio de soja, os produtores do Rio Grande do Sul agora aguardam ansiosamente o sol para que o solo esteja pronto para receber a principal cultura extensiva do estado. Alencar Rugeri, assistente de culturas da Emater/RS-Ascar, afirma: “A intensidade e a frequência das chuvas têm atrapalhado a estratégia de plantio, e o desafio reside nas dificuldades decorrentes do planejamento interrompido afetando as atividades agrícolas.” Décio Teixeira, Vice-Presidente da Associação dos Produtores de Soja do Rio Grande do Sul (Aprosoja RS), acrescenta: “O Rio Grande já pode dizer que o plantio começou com atrasos.”
Efeitos do El Niño
Essa situação é resultado dos efeitos do El Niño, com previsões indicando chuvas mais frequentes, intensas e prolongadas no último trimestre do ano, juntamente com tempestades, rajadas de vento e granizo, que estão impactando as culturas agrícolas.
Desafios no campo
O líder da Aprosoja RS lembra que, embora o calendário estabelecido pelo Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) permita o plantio de soja a partir de 1º de outubro, poucos produtores costumam plantar mais cedo, geralmente preferindo iniciar a semeadura na segunda metade de outubro e início de novembro. Para esta safra, a persistência das chuvas e o excesso de umidade que encharcam os campos e tornam o acesso das máquinas impossível demandam atenção redobrada. “Os agricultores terão que aguardar uma janela para colher as culturas de inverno antes de avançar com o plantio, quando o solo estiver mais seco,” explica Teixeira.
As operações no campo serão desafiadoras e exigirão eficiência e agilidade. As previsões climáticas indicam chuvas intensas em algumas áreas do estado nesta semana, de acordo com o Boletim Agrometeorológico Integrado da Secretaria da Agricultura, Pecuária, Produção Sustentável e Irrigação (Seapi), em colaboração com a Emater/RS-Ascar e o Irga. Essas chuvas também estão prejudicando a implantação da cultura do arroz. No caso do trigo, os agricultores têm tentado aproveitar os períodos mais secos para continuar a colheita, que atingiu 11% da área de cultivo na semana passada.
Safra de soja em crescimento
De acordo com a Emater/RS-Ascar, a safra de soja 2023/2024 abrangerá campos em 441 municípios, com uma estimativa de 6,74 milhões de hectares cultivados, um aumento de 1,3% em comparação com a safra anterior, e uma produtividade estimada de 3.327 kg/ha. A empresa prevê que a soja deverá gerar R$ 50 bilhões em vendas de produção e aponta uma tendência de crescimento ao longo da última década. Em 2014, foram cultivados 4,99 milhões de hectares, e a safra atual reflete um aumento de 35% na área e um aumento de 72% na produção, passando de 13,04 milhões de toneladas em 2014 para uma expectativa de 22,44 milhões de toneladas neste ciclo.