Relatório divulgado nos Estados Unidos, pelo Conselho de Defesa dos Recursos Naturais (NRDC)*, revela que 40% dos alimentos colocados no mercado consumidor norte-americano são desperdiçados — e que a maior parte desses restos de comida rica em nutrientes acaba apodrecendo em aterros sanitários.
Por lá, a opinião pública ainda não dá muita atenção a este fato dramático, embora uma quantidade significativa de energia, terra e água sejam empregadas anualmente para produzir esses alimentos perdidos.
No Brasil, a realidade tende a ser parecida, pois vivemos o mesmo modelo de civilização, assentado na urbanização acelerada e no conceito de sociedade de consumo, dois fatores que estão na origem do problema. A nossa diferença é que aqui ainda faltam levantamentos para fazer um diagnóstico amplo e completo da questão.
Em outro estudo, o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos mostra que o desperdício total de alimentos no mercado doméstico alcançou o equivalente a 165,8 bilhões de dólares em 2008 — ano mais recente para o qual há uma análise completa, desse tipo. São 390 dólares anuais per capita, jogados fora.
As causas dessa perda gigante estão associadas a aspectos estruturais de produção e logística, ou de gestão, “no dentro” e “no pós porteira”. Mas também incluem regulamentações, aversão cultural a produtos esteticamente desagradáveis e mais um sem número de outras pequenas ou grandes razões.
Está na hora de lançar um olhar mais atento ao problema, priorizando o desperdício de alimentos dentro de políticas públicas e programas de qualidade das empresas, inclusive com metas para redução das perdas e metodologias para avaliar resultados alcançados.
E, como hoje muito se fala do marketing da sustentabilidade, fazer também o Marketing Anti Desperdício – ou do Desperdício Zero. Não apenas com campanhas pontuais aqui e acolá, mas com ações de profundidade em toda a cadeia agro alimentar.
No campo, por exemplo, estimular a busca de mercados secundários para produtos com imperfeições. Na agroindústria, fazer uma revisão do design de produtos e uma reengenharia de processos produtivos e logísticos.
Entre os consumidores, certamente há espaço para projetos de marketing educativo, visando difundir conceitos para uma alimentação inteligente — com porções realistas, compra adequada, estocagem apropriada e quantidades racionais no preparo.
Nos serviços de alimentação, pode-se incentivar cardápios com escolha mais limitada e porções flexíveis, além do treinamento das equipes e campanhas de conscientização. Tudo monitorado com auditoria rigorosa sobre as perdas — da agroindústria até a mesa.
Quem vai fazer tudo isso? Todos, pois todos perdem com a situação atual e todos ganharão se soluções forem encontradas: governos, empresas e consumidores. Este é um desafio de triplo resultado.
(*) NRDC – Natural Resources Defense Council; “Wasted: How America is losing up to 40 percent of its food from farm to fork to landfill”, Dana Gunders, agosto 2012.
Coriolano Xavier
Membro do CCAS – Conselho Científico para a Agricultura Sustentável.
Professor do Núcleo de Estudos do Agronegócio da ESPM – Escola Superior de Propaganda e Marketing.