Fonte CEPEA

Carregando cotações...

Ver cotações

Comentário

A dose faz o veneno - por Ariovaldo Zani

Artigo aborda estudo sobre os efeitos dos antimicrobianos em animais com foco na saúde de frangos e infecções bacterianas em consumidores.

A dose faz o veneno - por Ariovaldo Zani

Objetivando avaliar os efeitos dos antimicrobianos em animais R. S. Singer e colaboradores em 2007 compararam simultaneamente a saúde de frangos e a incidência de infecções bacterianas nos consumidores através do estudo dinâmico baseado em modelagem matemática.

Os achados sugeriram que o grupo sem acesso aos antibióticos abrigaria mais microorganismos e apresentaria lesões adicionais de carcaça. Esses animais quando inseridos na cadeia de alimentação humana ofereceriam maior risco do que os animais mantidos sob regime preventivo. A dedução se dá por conta da provável extensão do tratamento para cura, mais dias de internação e cuidados médicos dedicados àqueles pacientes acometidos que hipoteticamente consumiram animais com a saúde debilitada.

Inúmeras conclusões científicas sustentam a convicção que o risco dos antimicrobianos usados na alimentação animal induzirem resistência bacteriana (perigo) é extremamente baixo e depende da carne consumida conter o microorganismo (fator causal) e, acima de tudo, que a saúde humana tenha sido comprometida por causa da ingestão dessa carne contaminada (ineficácia da antibioticoterapia).

Outros resultados disponíveis demonstram que a demora ou falha na recuperação da saúde (antibioticoterapia ineficiente) é expressa por 1 caso em cada milhão de eventos anualmente (Hurd et al, 2004), quando da infecção por Campilobacter pela ingestão de carne contaminada com Campilobacter (causalidade) originária de aves, suínos e bovinos que receberam cuidados preventivos, terapêuticos ou foram alimentados com ração adicionada de Macrolídeos.
Na Dinamarca achados similares revelaram os epidemiologicamente desprezíveis sete casos/ano de Campilobacteriose, de acordo com Alban et al, 2008.
No caso dos Enterococcus (perigo), a suposta resistência induzida em pacientes nos Estados Unidos foi atribuída à infecção de origem hospitalar, principalmente por conta do uso intensivo do antibiótico vancomicina na clínica médica humana (fator causal). O raciocínio poderia ser aplicado à carne, todavia a probabilidade de risco ao consumidor é não significativa porque falta causalidade. A vancomicina jamais fora administrada aos animais, fosse para prevenção, tratamento ou melhora do desempenho dos animais, por força da regulamentação em vigor naquele país.

Portanto, é evidente que para assegurar se determinada causa gera algum risco é necessário estabelecer a avaliação do risco, pois é claro que na ausência de causalidade não há risco. Além disso, a probabilidade do risco que depende simultaneamente do agente perigoso, do agente acometido e da causalidade deve ser modulada por cálculo estatístico.

O perigo desencadeia naturalmente a sensação de preocupação, contudo não pode ser confundido com o risco. O perigo é apenas um fator do risco que também depende da exposição, ou seja, Risco = Perigo x Exposição.

Até a água e o oxigênio representam algum perigo potencial que depende da exposição ou quantidade. A sabedoria popular já apregoava: “A dose faz o veneno!”

Essa correlação do perigo (água, por exemplo) com a exposição (quantidade) determina o risco, ou seja, a ingestão regular da água potável mantém o equilíbrio metabólico e não representa qualquer risco, enquanto muita água de uma onda gigante pode provocar afogamento e envolver grande risco. Já o oxigênio, essencial à manutenção da vida, se exposto à alta concentração molar leva à desaceleração dos batimentos cardíacos, convulsões e até a morte.

Apesar de tanto conhecimento acumulado e disponível, tem recrudescido a motivação ideológica em prol do discutível princípio da precaução na tentativa de correlacionar exclusivamente os antimicrobianos empregados na alimentação animal à hipotética resistência bacteriana.

A exemplo da água e do oxigênio, as bactérias também representam perigo e já foram identificadas até em fazendas orgânicas de produção de brotos de feijão; na água dos rios e oceanos e naquela colhida do subterrâneo; em focas do Ártico; em porcos selvagens e babuínos que se alimentam exclusivamente da natureza e inclusive em amostras do subsolo congelado há mais de 30 mil anos, cujos testes isotópicos aplicados não encontraram qualquer vestígio de contato animal ou humano.

Os pesquisadores e especialistas em microbiologia, farmacocinética e epidemiologia comungam da mesma percepção em relação ao conjunto de vantagens e benefícios resultantes dos ganhos de produtividade agropecuária e crêem que a mobilização intensa e racional de tecnologia – particularmente dos aditivos e medicamentos veterinários – é indispensável para prevenção, tratamento e maximização do desempenho zootécnico.

Já as autoridades responsáveis pela segurança alimentar, edição dos preceitos sanitários e fiscalização da cadeia de produção dos alimentos, por sua vez, são consideradas legítimas guardiãs da saúde pública, cuja base regulatória depende incondicionalmente da avaliação dos prováveis riscos envolvidos.

Os elos envolvidos na dinâmica da cadeia de produção parecem partilhar do mesmo propósito, ou seja, do compromisso para superação dos desafios contemporâneos da humanidade, combate à fome e disponibilização de alimentos seguros.

Em unanimidade devem estar convencidos que riscos são baseados nos fatos científicos e jamais motivados por conotação ideológica e que o risco do risco alternativo pode ser maior do que o risco do risco real!

Ariovaldo Zani é vice-presidente executivo do Sindirações