De acordo com o último relatório da FAO, a produção mundial de carnes nesse ano poderá avançar menos de 2% e atingir o patamar de 302 milhões toneladas, impactada pelo alto custo da alimentação animal e pela estagnação no consumo global. O estudo estima que cerca de 60% dessa expansão deve se concentrar nos países em desenvolvimento uma vez que as indústrias dos países mais desenvolvidos continuam sofrendo bastante com a perda de rentabilidade.
O resultado das estimativas para 2012 determina índice de crescimento sustentado na produção de carne de aves (2,2%) e suína (1,9%), enquanto a carne bovina (0,4%) e ovina (0,9%) continuam contribuindo mais modestamente. A diminuição do ritmo nas relações transacionais em 2012 – crescimento de 2,2% – poderá movimentar entre os diferentes países apenas 600 mil toneladas adicionais e prejudicar o desempenho da indústria exportadora de carnes, principalmente quando comparado ao ano passado, período em que o fluxo de embarques havia avançado 8%.
O índice de preço das carnes inflacionado alcançou 174 pontos em Outubro, retornando ao patamar verificado no mesmo período do ano passado, reforçado pelo elevado custo do milho e do farelo de soja, cuja influência na produção de carnes modula sua oferta e distribuição. Ainda de acordo com a FAO, desde Julho, o preço das carnes de aves e suína, subiu 9% e 12%, respectivamente.
CARNE SUÍNA
A mitigação de enfermidades que assolavam os rebanhos asiáticos e a adequação da capacidade de abate das instalações em países desenvolvidos deve favorecer a produção em 2% e alcançar quase 111 milhões de toneladas de carne suína. Essa quantidade adicionada aos estoques já acumulados deve ainda pressionar os preços locais no curto prazo, apesar da recuperação no mercado internacional.
O recorde no abate de suínos e oferta de carne nos Estados Unidos difere da situação do Canadá onde a disponibilidade enxugou por conta dos prejuízos acumulados e muitos produtores tornaram-se insolventes. A produção no México, por sua vez, tem se expandido em resposta ao melhoramento genético das linhagens, com mais leitões por fêmea e maior ganho de peso.
Na União Europeia a contração na oferta segue a reestruturação do setor em cumprimento às rigorosas regras relacionadas ao meio ambiente e bem-estar animal, enquanto na Rússia, o fenômeno se deve à prevalência da peste suína africana.
Ao contrário, a Ásia vai responder por praticamente 90% do incremento produtivo global, motivada por políticas de incentivo e consumo na China, mitigação de enfermidades na Coréia do Sul, recuperação pós-tsunami no Japão e pelos investimentos consistentes nas cadeias de suprimento e processamento no Vietnã, embora na Tailândia, o baixo preço pago ao suíno tem desestimulado a produção.
No caso do Brasil, a expectativa é produzir 3,3 milhões de toneladas de carne suína em 2012, embora a quantidade exportada até Outubro já encontra patamar 12% superior àquela embarcada nos dez primeiros meses do ano passado.
CARNE DE AVES
O ritmo na produção de carne de aves também deve enfraquecer-se nesse ano e avançar apenas 2% – ao invés dos 3,4% apurados em 2011 – por influência do alto preço da ração e pela contenção do consumo, tanto nos países desenvolvidos quanto naqueles em desenvolvimento. O modesto incremento de 2,2 milhões de toneladas – 67% originário na Ásia – culminará em pouco mais de 104 milhões de toneladas de carne de aves produzidas em 2012.
O frango é considerado a proteína de origem animal que conta com preço mais competitivo frente às demais carnes, e a impossibilidade de repasse integral do recente aumento do custo da ração para o varejo tem comprometido sobremaneira o desempenho econômico dos produtores. Essa combinação de efeitos indesejáveis tem diminuído o índice de alojamento das aves e deve interromper o avanço da produção de carne de frango nos Estados Unidos e no Brasil.
Apesar do inusitado recuo à vista, a avicultura de corte brasileira pode ainda produzir 13 milhões de toneladas de carne de frango em 2012, caso a demanda recrudesça em resposta às festas de fim de ano.
Diferentemente, o desempenho argentino vem crescendo vigorosamente e o país já ocupa a quinta posição entre os maiores produtores, graças aos investimentos públicos, grande disponibilidade de cereais e oleaginosas e nutrição animal com preço bastante competitivo.
Curiosamente, as perspectivas são positivas também na União Europeia e na Rússia em atendimento à vigorosa demanda doméstica.
Até a China reserva um prognóstico bom por causa dos investimentos crescentes na produção, em resposta à substituição crescente de carne suína por aves. O incremento da produção também é verificado na Índia, Indonésia, Japão, Malásia e Tailândia, embora a oferta já venha pressionando o preço e consequentemente a rentabilidade dos produtores.
A Organização para o Desenvolvimento e Cooperação Econômica/OECD propõe o seguinte ranking em 2020 para os principais produtores globais de carne de frango: Estados Unidos ainda na liderança com 19,2 milhões de toneladas, a China na segunda posição com 20,8 milhões de toneladas, o Brasil ocupando o terceiro lugar com 15 milhões de toneladas e seguido da União Europeia com 12,6 milhões de toneladas. Diante dessa potencialidade a produção brasileira de rações para alimentação de frangos de corte pode alcançar mais de 39 milhões de toneladas em 2020.
Há alguns anos o Serviço de Observação Estratégica Europeia profetizou que “a perda de competitividade dos principais atores globais permitiria ao Brasil abocanhar mais da metade do crescimento do mercado com 30% das exportações globais de carnes até 2020; único país onde a produção de carne de frango aumentaria mais rápido do que o consumo; e que poderia mais que dobrar as exportações de carne suína, por conta dos potenciais mercados ainda não explorados”.
O pensador e administrador Peter Drucker uma vez registrou que a melhor maneira de prever o futuro é criá-lo. Mãos à obra!
Ariovaldo Zani é vice-presidente executivo do Sindirações