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A tragédia - por Joel Naegele

A região serrana do Rio de Janeiro passa por um período bastante delicado. As chuvas causaram prejuízos financeiros e emocionais incalculáveis ao produtor rural. Leia artigo.

Difícil escrever alguma coisa a ser publicada nesse período triste que estamos vivendo que não se refira ao sofrimento indescritível dos moradores das áreas devastadas pelo verdadeiro tsunami ocorrido em nossa região serrana.

A destruição, de caráter monumental, alcançou uma faixa territorial dotada de belezas naturais, que se descortinam quando se viaja entre os municípios atingidos.  O deslizamento de seus morros em razão de fortes chuvas – e que excederam, em muito, as piores previsões que se poderiam fazer antes do desastre – irão marcar para sempre esses dias.

As imagens projetadas por diversas redes de TV realmente mostravam o acúmulo de nuvens formadas na região Norte, que atravessavam todo país, mas que ficaram concentradas na região Sudeste – fruto do fenômeno denominado “Convergência do Atlântico”. Segundo  especialistas , a altitude das serras serviu de contenção e, com isso, formou-se o que se convencionou denominar de “cabeça d’água”, ou “tromba d’água”, que desabou sobre Petrópolis, Teresópolis e Nova Friburgo.

Por uma questão de posicionamento geográfico, os vizinhos Sumidouro, São José do Vale do Rio Preto, Bom Jardim e Areal, receberam o resultado do acúmulo de água, lama, galhos de árvores e tudo mais que a violência dos rios em turbilhão trouxeram, trazendo terríveis conseqüências.

A devastação levou de roldão toda ou quase toda produção de olerículas que predomina na região, causando enorme prejuízo aos produtores, centenas dos quais pequenos e médios, cujas economias irão demorar muito a se equilibrar. Além do mais, as terras antes cultivadas com carinho e dedicação, foram invadidas por areia, lama e entulhos de toda a espécie, constituindo um empecilho a mais para a retomada da produção.

 O Rio Grande se tornou maior ainda, invadindo fazendas, derrubando pontes, causando estragos e prejuízos enormes aos produtores.  A Cooperativa de Macuco se viu impossibilitada de trazer a produção da região atingida e, além disso, por força da queda da ponte de Bom Jardim e dos danos causados nas estradas com os deslizamentos, deixamos de atender nossa clientela que povoa as cidades vitimadas.

Não sei se devemos associar as ocupações consideradas ilegais como as únicas responsáveis pelo desastre em si.  Mas certamente o alto número de vítimas fatais há de ser levado a débito dessas ocupações. É possível que os morros pudessem, sim, descer da maneira como vimos, sem as construções ali realizadas. Mas as mortes e os enormes danos causados às pessoas que sobreviveram, certamente deverão ser levados à conta das construções hoje consideradas de alto risco. Na realidade, hoje se sabe que elas sempre foram de alto risco.

Queira Deus que os dirigentes do país, dos estados e dos municípios, principalmente os últimos, representados pelos prefeitos, possam estar cercados de todos os cuidados na orientação dos encarregados de permitir construções em suas cidades, procurando levar em conta a característica das áreas onde se pretende edificar.

Que a lição sirva de exemplo. 

*Joel Naegele é Vice-presidente da Sociedade Nacional de Agricultura, Conselheiro da Associação Comercial do Rio de Janeiro, Membro da Câmara Setorial de Agroegócio da Alerj e Diretor da Associação Comercial de Cantagalo.