Abate Humanitário. Sempre me indignei com esse termo, já que animais não podem ser abatidos como humanos, como tivéssemos essa modalidade de extermínio. A seguir retransmito uma pequena história que eu li na rede, para finalizarmos no propósito do artigo:
“Tão logo o animal põe a cabeça para fora do túnel escuro e apertado que o conduz rumo ao amplo salão iluminado, encara seu destino, alguns segundos antes que eletrodos despejem em seu cérebro amperes de eletricidade, ele ficará inconsciente. O tempo é curto, mas o animal pode ver ao seu redor outros parceiros sofrendo a mesma operação. O suíno como exemplo, da sua altura do coração verte um grosso jorro de sangue, a massa de ruídos supera os 110 decibéis, com gritos dos animais que estão atrás na fila, barulhos de grossas correntes metálicas movimentando-se em carrossel, de jatos de fogo subindo, de máquinas a pleno vapor. Quando o corpo rosado do animal com 120 kg, pernas dianteiras esticadas – contração muscular provocada pela corrente elétrica -, cai na esteira rolante, encontrando o operador de sangria.
Ricos mercados, como o europeu, são os alvos mais cobiçados. O Brasil nunca foi habilitado para vender carne para a Comunidade Europeia, com exceção de ave, ora o argumento era a sanidade da carne, ora, o preço, ora, o jeito como os animais são tratados e isso mudara. Frigoríficos representam o agronegocio brasileiro, chegando ao dia do domínio de toda a teoria e a prática exigida pelos exigentes examinadores internacionais. A Sociedade Mundial de Proteção Animal (WSPA, na sigla inglesa), ONG de 28 anos e presente em 156 países, faz força-tarefa de veterinários e zootecnistas especialistas em bem-estar animal dentro das fábricas. A desconfiança que sempre existiu entre as entidades de proteção e a indústria de proteína animal rompeu-se graças a um convênio firmado há um ano entre a entidade e o Ministério da Agricultura. Com o aval do ministério e o interesse nos mercados externos, ficou mais fácil para a WSPA entrar em territórios vetados, como eram os abatedouros.
Anualmente, abatemos 40 milhões de bovinos, 30 milhões de suínos e 4 a 5 bilhões de frangos, números gigantescos, podendo ser multiplicados em dois, três ou quatro vezes. Isso depende de conquistarmos novos mercados, porque temos tecnologia, mão de obra, insumos mais baratos terra, água, técnicos e empresários competentes. Na virada do século 19 para o 20, firmaram-se padrões quanto à qualidade sanitária da carne, depois, vieram requisitos à qualidade organoléptica – cor, sabor, odor, textura -, agora é a vez da valorização da qualidade ética da carne, incluindo bem-estar dos animais, desde sua criação, abate ao mercado, além da sustentabilidade ambiental, social e econômica. Não está escrito em lugar algum que um animal tenha de sofrer para morrer e frigoríficos de Santa Catarina, Paraná, Rio Grande do Sul e São Paulo estão sendo treinados nesse sentido.
Para que dar bem-estar ao animal que vai morrer? Respondo da seguinte maneira, não concordando com o termo abate humanitário: a indústria sempre trabalhou em ganhos de produtividade, portanto o bem-estar esta atrelado ao ganho financeiro das empresas medido pelos índices de produtividade, sendo incoerente essa terminologia – abate humanitário – no setor de carnes. Hoje, a avicultura serve de exemplo, já que poderíamos criar um selo de bem-estar animal às aves com as práticas de manejo, nutrição, controle genético e sanitário aos animais pelos gestores de toda a cadeia avícola, garantindo segurança alimentar ao consumidor nacional e internacional.
Por Valter Bampi, médico veterinário e executivo avícola