O Brasil avança como potência agrícola e liderança na produção de alimentos. Estudos mostram produtos agrícolas de alto consumo interno, constando na pauta de exportação brasileira tendem a aumentar de produção por avanço tecnológico e ganho de mercado. Algodão deve crescer 47,8% nos próximos anos e a exportação do produto, sem as barreiras comerciais americanas, mais de 68%. Café aumentara produção em mais de 24% e no comércio exterior crescerá em 46%. Soja subirá em cerca de 40% e exportação em 39%. Demanda em expansão no mercado interno e externo, preços dos produtos agrícolas em ascendência, estimulando produção e liderança na produção de carnes de frango, bovina e aumentando a de suíno, são alguns dos motivos. O Brasil passará da produção atual de 24,6 milhões de toneladas de carne para 31,2 milhões de toneladas na temporada 2020/21 (crescimento de 36,5%). Produtos como leite e milho – nas qual Brasil não é líder em vendas – terão incremento em exportações, o primeiro devendo crescer 50,5% (atingindo 300 milhões de litros) e o milho crescerá em 56,5% (alcançado 14,3 milhões de toneladas). Cenário confirmado, o Brasil terá 12% do mercado de milho; 33,2% do mercado de grão de soja; 49% da participação da carne de frango; 30,1% da carne bovina e 12% da carne suína, acompanhados na expansão do consumo interno, que continuará como principal destino da produção: 85,4% do milho; 83% da carne bovina; 81% da carne suína; 67% da carne de frango; e 64,7% da soja.
Nova fronteira agrícola
Avalia-se que o País terá uma nova fronteira agrícola – Matopiba (Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia), essas áreas estão atraindo porque têm terras mais baratas que outras regiões e aumentarão produção de algodão, frango, boi, soja, celulose e papel. Cenário otimista poderá ser contrariado se houver recessão internacional e se as áreas agrícolas tiverem problemas climáticos ou aumento no protecionismo de concorrentes internacionais.
Bom desempenho nas carnes bovina, suína e de frango – duas últimas com acréscimo da quantidade vendida mostram otimismo do parágrafo acima, tendo setores responsáveis pelo aumento recorde cereais, que são farinhas e preparações, que subiram mais de180%; café, com incremento superior a 72%; carnes acima de 17%; complexo sucroalcooleiro (etanol e açúcar) mais de 14%; e produtos florestais mais de 10%. Soja (grão, farelo e óleo) aumentou de 186,5% nas vendas do óleo, apesar do decréscimo registrado no valor exportado em relação ao grão e ao farelo, que subirão, quando dos embarques.
Aos suínos, a estimativa é de 2% (para 15,68 milhões de toneladas) no consumo de ração, mais que a alta de 0,3% apurada em 2010, aumento modesto. Apesar da alta de 9% na receita das exportações em 2010, o volume dos embarques de carne suína recuou para 540 mil toneladas, o que levou a uma estabilidade na demanda por alimentação suína no ano passado. Abertura de novos mercados, como Estados Unidos, União Europeia e Coreia do Sul, farão as vendas de 2011 voltarem ao patamar histórico de 600 mil toneladas. No segmento de bovinos, demanda por ração subirá 6,3%, para 7,6 milhões/toneladas, maior que a de 2010 sobre 2009, de 5,5%.
Agronegócio consolidado
Sucesso, produção recorde, preços remuneradores, superávit na balança comercial, demanda internacional, segurando preços em patamares rentáveis e incentivando produtores e o Brasil se consolida no agronegócio, abrindo novos mercados, se tornando importante participante no abastecimento mundial de alimentos, porém desafios existem e o País precisa aproveitar esse momento de boa evolução de produção e renda para pensar em uma política de longo prazo, obtendo uma consolidação agrícola. Safra de grãos é recorde, mas apenas dois dos principais produtos que lideram a produção – soja e milho somam 81% do volume nacional e com arroz, o percentual vai a 90%, dependência muito grande para o país estar focado em apenas três produtos no setor de grãos. Um eventual problema na produção deles vai acarretar uma forte perda de renda no campo, se alastrando para todo o sistema econômico.
Financiamento desses três produtos no mercado atinge R$ 87 bilhões, 44% do total das principais culturas do País, soja equivale a R$ 55 bilhões por ano. Além do perigo de uma eventual quebra de produção, e consequente perda de renda, indústrias se voltam para esses produtos de grandes volumes, reduzindo pesquisas e oferta de insumos para os de menor volume. Problema não vem só das indústrias, mas das próprias “tradings”, que desmontam operações de comercialização para produtos de menor valor e focam apenas nos de maior volume, alguns casos, nem são produtos de menor valor, Paraná, por exemplo, líder de produção de café no passado perde estrutura de comercialização do produto em várias cidades, afastando produtores da cafeicultura.
Governo ensaia uma organização econômica aos produtores familiares, dando mais crédito, mas essas medidas devem visar não apenas a produção, mas também e a comercialização. O País não deve deixar de ser forte em soja, milho, cana e café, mas também tem de priorizar a produção outros produtos, como amendoim, aveia, girassol, feijão, mandioca e mamona, ex-carro-chefe do biodiesel e outras opções na pecuária, em crise de um produto, a economia agrícola se sustentaria em outro. Problema maior para essas culturas de menor Valor Básico de Produção é que ocupam pequenas áreas e necessitam de estrutura logística específica, dependendo mais de uma política do governo do que as de grande Valor Básico de Produção, que sempre estão na mira de “tradings”.
Valter Bampi, médico veterinário, professor universitário e especialista avícola.