Bem-estar e a consequente produtividade, expressada em ganho de peso, redução de mortalidade, uniformidade, baixa conversão alimentar e condenação do frango de corte, depende da interação de variáveis como peso pós-eclosão (qualidade do pintainho redundante do trabalho de cria, recria e produção das matrizes), nutrição adequada em todas as fases de criação, qualidade da água (manejo ou bem-estar geral) e ambiência, fatores que levam aves à condição de bem-estar elevado. No entanto, o desenvolvimento de pintainhos, em particular na primeira semana de vida, é condição para o desempenho futuro do animal, pois processos fisiológicos como hiperplasia e hipertrofia celular, maturação do sistema termoregulador e diferenciação da mucosa gastrointestinal influenciam no peso corporal e na conversão alimentar da ave no abate. A temperatura termoneutra de pintainhos encontra-se entre 33ºC e 37ºC e ave adulta entre 21ºC e 28ºC, e por aí vai. Temperaturas acima de 37ºC induzem à hipertermia com desidratação, levando a redução no consumo de ração e atraso no crescimento. Em temperaturas abaixo da zona de conforto é desencadeada a hipotermia, gerando síndrome da hipertensão pulmonar (ascite) em frango de corte. Um dos efeitos das altas temperaturas e falta de bem-estar em frango de corte é a redução no consumo alimentar e no apetite na tentativa de reduzir a produção de calor interno ocasionada pelo consumo de energia presente na ração.
O alimento aumenta o metabolismo e a quantidade de calor corporal, pois a digestão e absorção de nutrientes geram energia, liberada na forma de calor e chamada de incremento calórico, na qual as aves utilizam a gordura como fonte de energia, que produz menor incremento calórico, comparativamente ao metabolismo de proteínas e carboidratos presentes na ração. Redução do consumo de ração e redução na ingestão de nutrientes afeta a produtividade do lote, culminando em redução do ganho de peso e bem-estar das aves. O incremento na taxa respiratória das aves é indicador de bem-estar (mal-estar), estando ligado ao meio físico externo onde as aves estão. Quanto maior a pressão de vapor no ambiente, maior a dificuldade de liberação de calor por meios evaporativos e o ofego somente é eficiente, como meio de liberação de calor latente, quando a umidade relativa ambiental se encontra em níveis menores que 70%.
Conforto térmico – A umidade relativa passa a ter importância no conforto térmico das aves quando a temperatura ambiente ultrapassa 25ºC. Alta umidade relativa mais temperatura alta fazem com que menos umidade seja removida das vias aéreas, tornando a respiração mais ofegante, sendo que a ave não tem capacidade para manter uma frequência respiratória alta o bastante para remover o excesso de calor interno, causando hipertermia, seguida de prostração e morte (a soma da temperatura mais umidade não deve ultrapassar a 105). Altas amplitudes térmicas influenciam o bem-estar/produtividade dos frangos de corte, piorando conversão alimentar em aves adultas submetidas às temperaturas variando ciclicamente de 24ºC a 35ºC, quando comparadas a aves com microclima estável em torno de 21ºC. O fato das instalações avícolas brasileiras normalmente possuírem um baixo isolamento térmico, principalmente na cobertura, e a ventilação natural ser o meio mais utilizado pelos avicultores na redução de altas temperaturas nos aviários, faz com que as condições ambientais internas se mantenham sensíveis às variações diárias na temperatura externa, ocorrendo altas amplitudes térmicas diárias.
Ação do calor por radiação solar na superfície terrestre gera aquecimento do ar por convecção, a temperatura ambiente de um abrigo depende do balanço energético, que é função do calor incidente de radiação solar, do coeficiente de absorção, da condutividade e da capacidade térmica da superfície receptora. As três fontes de calor em uma instalação avícola são: radiação solar, calor total produzido pelos próprios animais e radiação emitida nos arredores da instalação. O calor de radiação solar direta representa 75% do total de calor que atinge uma instalação e em horas mais quentes possui um fluxo de calor cinco vezes maior que o calor gerado internamente. Em aves de postura a queda do pH sanguíneo decresce com o nível de cálcio. Após duas horas de estresse térmico, isso prejudica a formação da casca do ovo, pois há uma diminuição de Ca++ no sangue e a falta de bem-estar/conforto térmico em poedeiras provoca queda no consumo de alimentos, menor taxa de crescimento, alteração da conversão alimentar, queda na produção de ovos e maior incidência de ovos com casca mole. O efeito das estações climáticas e idade das aves sobre produção e tamanho dos ovos variam, sendo maior na primavera e menor no verão, e para reduzir o estresse calórico e aumentar o bem-estar necessita-se de ambiente, potencial genético e eficiência energética da ração.
Por Valter Bampi, médico veterinário e executivo avícola