Falta de liderança na política, nas empresas, nas escolas, na vida pessoal, corroendo instituições. Esbarramos com indivíduos em posição de liderança, cujos valores são no mínimo questionáveis. Basta olhar ao redor ou ler os jornais para nos surpreendermos com as peripécias de líderes oportunistas, a turbulência que abalou a estrutura financeira do mundo no final de 2008, causando desemprego, afetando a vida de milhões de pessoas, desenrolando crise, revelou não se tratar de um problema so de escassez de crédito, mas também, de escassez de líderes responsáveis, uma crise de valores na qual interesses pessoais de curto prazo puseram em risco a sustentabilidade do sistema, levando ao caos várias empresas consideradas ícones do mundo moderno, fazendo ruir as bases de economias tidas como sólidas. A crise é de liderança, mas não è apenas nas esferas política e empresarial que sentimos a falta de líderes inspiradores, sintomas também se manifestam em escolas, professores que raramente conseguem despertar a atenção de alunos desmotivados e indisciplinados, educadores intimidados por crianças que sequer chegaram à adolescência, uso crescente da violência verbal e física para resolver desavenças, jovens que muitas vezes têm mais informação que mestres despreparados. Em muitas comunidades as adversidades de infra-estrutura básica são tão severas que o ofício de ensinar transforma-se em uma operação de guerra.
O modelo educacional está em geral formando profissionais para uma realidade já ultrapassada, com educadores não conseguindo orientar estudantes para enfrentar os desafios do futuro. Preconceitos e vários tipos de discriminação estão presentes entre estudantes, pais, professores, diretores e funcionários das escolas brasileiras. Muitas vezes, o que ocorre nas salas de aula é reflexo do que acontece em casa. Pais que não sabem mais negociar limites e reagem com incrível submissão a hábitos e desejos absurdos e irrealísticos dos filhos. Infelizmente, nos lares, deixaram de ser exceção às histórias de filhos agredindo e, em casos mais extremos, até assassinando os próprios pais. Ficamos chocados com os casos de adultos mantendo filhas menores em cativeiros e com a prática de abuso sexual na própria família. Também aumenta o numero de separações, muitas vezes causados pela falta de compartilhamento da liderança, que tem levado um dos membros a buscar alternativas de vida à tirania do outro. Nas ruas e em eventos públicos e esportivos, assistimos estarrecidos aos atos de vandalismo e violência que assustam os transeuntes, saindo de casa para trabalhar ou em busca de diversão e lazer. Muitas vezes a competência para influenciar pessoas e para aglutinar interesses são utilizados para prejudicar inocentes como é o caso de torcidas organizadas cujos integrantes se cadastram formalmente, não apenas para torcer pelos seus clubes, mas para provocar, agredir e travar verdadeiras batalhas campais.
Nas empresas, ainda predominam mais chefes que líderes, faltando sucessores preparados e vemos o triste espetáculo de empresas sólidas se desmancharem quando o fundador desaparece. Ficamos surpresos ao tomar conhecimento da perda de fortunas destinadas a formar gerentes mais eficientes, mas que não conseguem formar líderes eficazes. Empreendimentos, potencialmente vitoriosos, sucumbem diante da triste constatação: “a idéia é boa, mas infelizmente não temos quem possa liderar esse projeto!”. A maioria dos profissionais queixa-se de não conseguir o tão sonhado equilíbrio entre as diversas dimensões das suas vidas – profissional, familiar, pessoal, espiritual, financeira, saúde, cidadania. O grau de infelicidade e frustração é muito maior do que imaginamos em vários segmentos, não apenas entre executivos, mas também entre profissionais, comerciantes e empreendedores. As causas são recorrentes: dificuldades para liderar equipes, falta de comprometimento das pessoas, desavenças entre sócios, ausência de reconhecimento, problemas de comunicação, sentimento de injustiça, resultados insatisfatórios, conflito de valores, sobrecarga, mau gerenciamento das prioridades e do tempo. Repensar conceitos e a pratica da liderança e necessário se desejamos de fato construir famílias mais felizes, empresas mais saudáveis e comunidades mais solidárias.
Por Valter Bampi, médico veterinário, professor universitário e especialista avícola.