Passada a crise, investidores estão provocando uma forte alta nos preços de combustíveis, minerais, metais e alimentos. O novo ciclo de alta das commodities é reflexo da demanda da China, da busca dos investidores por ativos mais rentáveis e da desvalorização do dólar.
O fenômeno indica um sinal de recuperação da economia mundial, mas há quem diga que tal fato não passa de uma bolha – provocando inflação em um ambiente ainda frágil de retomada.
O índice Commodities Research Bureau (CRB), principal termômetro dos preços das matérias-primas, subiu 44% entre fevereiro de 2009 – quando atingiu o nível mais baixo – e janeiro de 2010. Parte do salto (16,6%) ocorreu no último trimestre do ano, quando as economias americana e europeia começaram a se recuperar.
Os preços, porém, estão distantes dos recordes de 2007 e 2008, quando o temor de uma crise de alimentos assombrou o mundo. Rico em recursos naturais, o Brasil é beneficiado pelo aumento das cotações das commodities. Empresas como Vale e Petrobrás vão lucrar e assistir à valorização de suas ações, mas, para o País, a situação não é tão simples. As commodities já estão subindo em reais, o que pode estimular o Banco Central (BC) a elevar os juros, ocorrendo uma inversão que precisa ser acompanhada.
Há uma diferença significativa no desempenho das matérias-primas industriais e dos alimentos e os preços das commodities industriais dobraram. Um índice da revista TheEconomist aponta que as cotações desses produtos subiram 97% em 12 meses, enquanto o mesmo indicador das commodities agrícolas avançou 32%.
O petróleo é a principal commodity e influencia os demais mercados. Depois de cair a US$ 43,6 por barril em fevereiro de 2008, chegou a US$ 67,7 em setembro. A tonelada do minério de ferro já atinge US$ 135 no mercado, 68,5% acima do preço de referência de 2009. A Vale vai ser uma das empresas mais beneficiadas por essa alta de preço, porque falta minério de qualidade no mundo. Os preços da celulose se recuperaram, a tonelada saiu de US$ 480 em maio para US$ 560 em setembro e saltou para os atuais US$ 730. Porém, o valor está abaixo dos US$ 840 pré-crise. A China é um fator decisivo no novo ciclo de alta das commodities e explica a diferença de ritmo entre insumos industriais e alimentos. O país asiático saiu rapidamente da crise com um pacote de US$ 586 bilhões, voltado à infraestrutura, o que elevou a demanda por produtos como minério de ferro.
Considerações finais- Há quem diga que a alta do preço das commodities sempre foi uma bolha, que a economia dos EUA ainda está frágil e que o movimento dos preços ao excesso de liquidez no mundo é provocado pelas taxas de juros baixas e pelos bilionários pacotes de ajuda. Nas commodities agrícolas, a tendência de alta começou recentemente. Se descontarmos a queda do dólar, o aumento dos preços não é tão expressivo assim. Segundo a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), os estoques de cereais para a safra 2009/2010 estão em 510 milhões de toneladas, um nível muito mais confortável que os 430 milhões da época da crise alimentar em 2007 e 2008. Especialistas em crise alimentar do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud), tendênciam que os preços mudam conforme o produto: cereais e carne variaram pouco, mas açúcar e leite subiram muito. Não há temores de crise de alimentos, mas, em muitas regiões, como o leste da África, a situação já é precária.