Fonte CEPEA

Carregando cotações...

Ver cotações

Comentário Avícola

Como Ambiência Afeta Produtividade? - Por Marcus Bianchi

Marcus Bianchi, da Owens Corning, fala sobre ambiência e produtividade em frangos de corte.

Como Ambiência Afeta Produtividade? - Por Marcus Bianchi

*Por Marcus Bianchi

Tenho escrito artigos em ambiência nesta coluna sempre partindo da premissa que as condições térmicas afetam a produtividade de galpões de frangos de corte. Aliás, a produtividade de galpões de matrizes e de poedeiras também sofre com falta de condições ambientes adequadas. Mas como é que sabemos disto?

O ideal para mim seria poder descrever claramente todo o funcionamento da ave exposta a variadas condições ambientes, mas acredito que tal entendimento detalhado não existe. Mas, além da experiência de muitos integradores ao observar resultados piores no verão, há experimentos recentes que mostram a forte ligação entre a produtividade e as condições térmicas das aves.

Em 2012 Jody Purswell (USDA) e colaboradores realizaram uma série de experimentos com frangos de 4,5 kg em Starkville, Mississippi, onde eles colocaram aves em câmaras térmicas. Nestas câmaras a temperatura do ar, a temperatura das superfícies e a umidade relativa são controladas. A partir da temperatura de bulbo seco e da temperatura de bulbo úmido, é possível determinar um índice de temperatura-umidade (para frangos de corte, 0,85*Temperatura de bulbo seco+0,15*Temperatura de bulbo úmido). Combinações foram feitas para conseguir índice de temperatura-umidade (ITU) entre 14,7°C e 26,3°C. Cinquenta aves (25 machos e 25 fêmeas) foram colocados em 9 câmaras térmicas e mantidos num programa de temperaturas de termoneutralidade até o dia 42. Neste ponto a temperatura de bulbo úmido foi gradativamente aumentada ou diminuída até o seu ponto final no dia 49 e mantida neste valor até o abate no dia 63. A umidade relativa foi mantida em 50% até o dia 42. O peso das aves foi obtida nos dias 49 e 63, enquanto o consumo de ração foi medido constantemente durante o experimento. O aumento de peso e o fator de conversão alimentar foram calculados a partir dos parâmetros medidos.

A Figura 1 mostra a variação no peso final das aves (dia 63) para os diversos valores do índice temperatura-umidade . Verifica-se que para condições mais frias o peso final é muito maior do que para condições de estresse térmico. É possível notar também que há uma maior dispersão do peso a altas temperaturas do que nas temperaturas mais baixas.

 

Figura 1. Peso final dos frangos (dia 63) em função do índice temperatura-umidade (Purswell et al., 2012).

O consumo de ração no período do experimento está mostrado na Figura 2. Quanto maior a temperatura, menor foi o consumo de ração, que caiu de forma acentuada nas condições de estresse térmico, como esperado. Reparem que o consumo cai na média em torno de 33%; entre os pontos extremos a queda é de quase 50%.

Figura 2. Consumo de ração durante o período do experimento em função do índice temperatura-umidade (Purswell et al., 2012).

A Figura 3 mostra o ganho de peso durante o período do experimento em função das condições térmicas. Em temperaturas mais baixas o ganho de peso do melhor resultado foi cerca de seis vezes maior do que o do pior resultado em temperaturas mais elevadas.

Figura 3. Ganho de peso em gramas durante o período do experimento em função do índice de temperatura-umidade (Purswell et al., 2012).

Finalmente a Figura 4 apresenta o fator de conversão alimentar para as aves em função das condições térmicas para o período do experimento. Notem que há um multiplicador de quase 3 entre o menor fator de conversão e o maior na figura.

Figure 4. Fator de conversão alimentar durante o período do experimento em função do índice de temperatura-umidade (Purswell et al., 2012).

Naturalmente, as aves num galpão industrial de frangos de corte não se encontram expostas às condições de alta temperatura durante todo o período de crescimento (todos os dias e 24 horas por dia), como o experimento foi feito: os períodos de estresse são acompanhados por períodos mais amenos. Durante os períodos de maior estresse térmico, há queda de produtividade através da diminuição do consumo de ração, da diminuição ainda maior do ganho de peso, causando assim um aumento no fator de conversão alimentar. Tais condições são ruins tanto para o integrador, que tem que usar mais ração por kg de carne produzida, quanto para o produtor, que vê o índice de eficiência produtiva cair.

Conclusões
Quando comparamos os fatores de produtividade de inverno e verão de frangos de corte, é possível observar um desempenho melhor durante o clima frio. Os experimentos conduzidos por Jody Purswell (USDA) e colaboradores mostram que há perda significativa de produtividade em condições mais quentes. As temperaturas observadas durante os experimentos que eles realizaram não mostram degradação de produtividade no frio, mas os resultados no calor são muito inferiores.

Os frangos foram abatidos bem maiores do que é o costume no Brasil, mas esperam-se resultados semelhantes para frangos entre 42 e 48 dias.

Num artigo anterior comentei que o índice temperatura-umidade (ITU) não leva em conta todas as condições térmicas que devem ser consideradas para o frango. Porém, ele pode ser usado como substituto para outros fatores. Por exemplo, a redução da temperatura média radiante das superfícies e o aumento da velocidade do vento são equivalentes a uma diminuição do ITU.

Conclui-se que evitar as situações de calor é fundamental para aumentar a produtividade de frangos de corte.

¹ Detalhado para fazer um modelo que leve tudo em conta.
² Jody e eu estabelecemos um acordo de pesquisa entre o US Department of Agriculture e a Owens Corning para desenvolver melhorias térmicas em galpões de frangos.
³
http://lib.dr.iastate.edu/abe_eng_conf/157/
4 Os pontos azuis são os dados experimentais e a curva vermelha é a melhor regressão (polinômio de segundo grau).

*Marcus V. A. Bianchi, Ph.D., P.E., Owens Corning