Fonte CEPEA

Carregando cotações...

Ver cotações

Comentário Avícola

Concentração na avicultura. Será um sucesso? - Por Valter Bampi

Deve-se ter precaução ao ressaltar o sucesso imediato dessas operações, assim como ao afirmar que a concentração estará consolidada já nos próximos anos.

Processo apoiado pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) -que injetou recursos em grandes empresas -, dois anos se passaram e muitos frigoríficos foram incorporados por essas companhias, ocorrendo uma concentração no setor de carnes. Especialistas preveem que no médio prazo – cerca de cinco anos – restarão apenas quatro empresas no setor bovino e, num horizonte de mais de dez anos, estimam que sobrarão apenas duas ou três. Boa parte da consolidação feita até agora foi realizada com o apoio estatal, ação que provocou queixas entre empresas de pequeno e médio porte, preteridas diante de um pequeno grupo. Desde o primeiro trimestre do ano passado até agora, mais de dez empresas de carne bovina pediram recuperação judicial ou deixaram de operar, arrendando unidades a outros frigoríficos ou suspendendo abates.

A crise financeira mundial no fim de 2008 precipitou o quadro, já que o crédito para essas empresas secou, mas os frigoríficos já vinham sentindo os reflexos de oferta apertada de boi gordo e muitos estavam alavancados após um período de euforia com o crédito fácil. Essa combinação arrastou empresas e permitiu a formação de gigantes no setor, com incorporações e arrendamentos de unidades. A onda mais recente de pedidos de recuperação judicial pode ser explicada também pela dificuldade dessas empresas de porte médio de concorrer em um mercado dominado por companhias de grande porte. Confirmada as previsões de especialistas, vão sobrar poucos frigoríficos médios e pequenos, que vão atuar de forma especializada e regionalizada. Já outros acreditam que, no longo prazo, apenas duas ou três empresas sobreviverão, como ocorre hoje nos Estados Unidos.

Num primeiro momento, a concentração no setor se deu pela incorporação de empresas menores pelas grandes. Agora, porém, reflete um desequilíbrio no setor, reforçado pela atuação do BNDES, sendo os mais fortes, os grandes, tendo maior poder de barganha na compra de gado e nas vendas do produto final. No entanto, vale a pena uma reflexão: empresas da área bovina que incorporaram avícolas (e as próprias fusões de avícolas) sofrem com a definição da cultura de gestão que irão aplicar – a sua ou das incorporadas – e falta de mão de obra qualificada, principalmente nas áreas gerenciais. Diante disso devemos ter precaução em afirmar o sucesso imediato dessas operações e que a concentração é algo consolidado nos próximos anos.