A crise financeira contemporânea exibe paralelos com aquela ocorrida em 2008, muito embora o cenário macro econômico estabelecido atualmente seja distinto. O motivo é que as condições vigentes não vêm provocando empoçamento da liquidez e assim continua fluindo a dinâmica interbancária, diferentemente da forte aflição que abateu os bancos há três anos.
O cenário parece requerer do Governo Brasileiro habilidade no estabelecimento equilibrado das táticas de ordem econômica – diminuição do compulsório dos bancos e da taxa de juros -, com efeito imediato, e das medidas de estímulo fiscal – diminuição da carga tributária, desoneração da folha de pagamentos, incentivos em geral – cujas expectativas são de médio prazo. O binômio crescimento moderado e controle inflacionário é desafiador.
Por influência conjuntural, a previsão é que as commodities agrícolas – milho, soja, trigo, açúcar, suco de laranja, etc. – continuem padecendo de ajustes ciclotímicos, embora no médio prazo a tendência seja a manutenção da valorização por conta de fatores fundamentados na baixa cotação do dólar em resposta à fragilidade econômica e expansão monetária nos EUA, além da contínua demanda da China e outros asiáticos.
É que nos próximos 20 anos os países asiáticos e africanos responderão por quase 80% do crescimento populacional global e 50% do aumento da renda. Seu voraz apetite por produtos de origem animal (carne, leite, ovos) por conta das mudanças dos hábitos alimentares ditarão as preferências no consumo e dispêndio.
A preocupação maior do Brasil deve estar voltada à locomotiva Chinesa e seu respectivo vigor, com forte influência nas transações internacionais, seja como supridora do mundo desenvolvido, seja na importação de soja, milho, minério de ferro, etc.
Para o milho a tendência de valorização se sustenta na crescente demanda por bio energia, influências climatológicas na produção americana (calor), efeito La Nina a partir do fim do ano, a despeito do aumento da estimativa de safra Brasileira 2010/2011 de mais de 56 milhões de toneladas e outras 75 milhões de tons de soja.
A subida forte nas cotações se deu a partir de julho do ano passado e o custo anualizado do milho acumulou aumento de 63 p.p., enquanto o farelo de soja manteve estabilidade por conta da valorização no segundo semestre de 2010 e queda no primeiro semestre deste ano. No caso do frango e suíno vivo, a valorização dos preços anualizada até julho de 2011 alcançou respectivamente 13 p.p. e 7 p.p., enquanto a alimentação acumulou aumento de 34 p.p. e 27 p.p, conforme índice da ração hipotética.
A valorização ou depreciação dos preços das carnes e sua forte dependência por commodities, cujas cotações seguem os desdobramentos da crise é que vão modular o desempenho da matriz exportadora e determinar sucesso ou insucesso das cadeias produtivas de aves e suínos.
Ariovaldo Zani é vice-presidente executivo do Sindirações