O semestre fechou com um quadro bem positivo sobre o dinamismo do agronegócio. Pela primeira vez na história as vendas externas do setor ultrapassaram US$ 100 bilhões, de julho/2012 a junho/2013, com um aumento de 4,2% sobre os resultados do mesmo período da safra anterior.
Com exportações efetivas de US$ 100,61 bilhões e só US$ 16,70 bilhões em importações, o agronegócio gerou uma balança comercial superavitária em US$ 83,91 bilhões, ajudando inclusive a salvar as contas gerais da balança comercial brasileira, que assim ainda conseguiu um superávit de US$ 9,35 bilhões.
Enfim, o agronegócio mostra vitalidade, continua bem no geral, e assim promete ficar por vários anos. Veja-se, por exemplo, a suinocultura, que nos últimos 12 meses cresceu 25,2% no faturamento e 2,47% na produção, segundo analistas da CNA e do CEPEA.
Tudo isso tendo como horizonte um crescimento projetado para a produção de carnes de 20% até 2020, além da perspectiva de que o Brasil será responsável por 27% das exportações mundiais de carne, também em 2020, de acordo com a OCDE.
O problema é que nada disso autoriza euforias ou baixa de guarda na gestão dos negócios, pois o Brasil é um país onde o horizonte é sempre muito belo, mas as estradas para se chegar lá podem ser acidentadas e trazerem surpresas. Principalmente se a meta for fazer o percurso com sustentabilidade, desde os quilômetros iniciais.
Sustentabilidade, a gente já sabe que significa ser sustentável no dinheiro, no social, no humano e no ambiental. A integração sustentável dessas quatro dimensões é que faz a real sustentabilidade.
Historicamente, no entanto, quando o cinto aperta na questão econômica, o fôlego das outras dimensões da sustentabilidade acaba perdendo força, o que deixa uma lição: em tempos de horizontes belos e estradas tortuosas e escorregadias, a própria defesa da sustentabilidade recomenda ousadia temperada com cautela.
As incertezas ou volatilidade dos mercados sempre foram fator de mudança qualitativa e evolução tecnológica acentuada nas cadeias produtivas do agronegócio – e a trajetória recente do setor tem sido um exemplo vivo e eloquente dessa tendência.
Por conta disso, no agronegócio de hoje só há espaço para profissionais, sobretudo para aqueles que gostam do que fazem, que não desanimam fácil, que investem mesmo nos momentos difíceis e, finalmente, que acreditam em gestão eficiente, qualidade e capacitação dos recursos humanos.
Não vai aqui, nenhuma profissão de fé em favor dos grandes e tecnificados, muito pelo contrário. Vai sim um alerta de que toda a necessária e legítima ação para inclusão e alavancagem dos estratos menos competitivos do setor também passa por essa visão profissional e empresarial que hoje impulsiona as cadeias produtivas do agro.
Para todos as pessoas dessa estirpe – sejam produtores, técnicos, dirigentes de cooperativas e agroindústrias, executivos do antes da porteira ou acadêmicos – o caminho tende a ser brilhante, mesmo se o trajeto às vezes for duro e íngreme. Mas o horizonte garante a confiança da viagem.
Por Coriolano Xavier, membro do Conselho Científico para Agricultura Sustentável (CCAS) e Professor do Núcleo de Estudos do Agronegócio da ESPM – Escola Superior de Propaganda e Marketing.