Stefan Zweig, um austríaco radicado no Brasil e apaixonado por nosso país, publicou, em 1941, um livro com o título “Brasil, país do futuro”, onde canta, em prosa de agradável leitura, as belezas e o enorme potencial da nação. O espírito entusiástico das palavras proferidas por Stefan, naquela época, insiste em perdurar, mesmo décadas após a publicação da obra. A impressão é que o futuro assinalado pelo escritor atingiu seu ponto máximo na chamada “era Lula”.
Muitos ainda devem se lembrar da crise americana de 2008, quando o ex-presidente afirmou que, no Brasil, o furacão econômico seria apenas uma “marolinha”. Agora, após instalada a crise do euro – que muitos analistas afirmam ser consequência da crise americana – a presidente Dilma Rousseff brada em alto e bom som que o Brasil está “300% preparado para enfrentá-la”. Nos parece um tanto duvidoso sustentar tal afirmativa, e ainda considerar que o Brasil pertença a outro planeta, como se estivesse imune a todas as crises e dificuldades que o resto do mundo está sofrendo.
O fenômeno da globalização, nesse aspecto, não deixa dúvidas de que país nenhum está fora da crise. O mercado europeu é poderoso, rico e grande consumidor. Sua dificuldade financeira foi criada pelo caráter perdulário dos governos dos países que hoje passam por graves dificuldades, como Portugal, Grécia e Espanha (inclui-se também neste rol Irlanda e Itália, que também acreditaram na gastança diante da oferta de crédito). O tempo demonstra que a situação é delicada para todas as nações.
Quem acompanha o noticiário econômico pode constatar que o crescimento das economias de todos os países – até mesmo daqueles que não figuram entre os mais críticos – também estão em marcha lenta. Na verdade, pouco adianta conceder crédito para as pessoas que já estão endividadas, assim como é pouco recomendável estimular a venda de carros com prestações a perder de vista, se a maioria já não está conseguindo pagar o que deve.
Enfim, não se trata de um “tsunami monetário” europeu invadindo o Brasil, conforme anunciou Dilma. É uma crise global que gera medidas urgentes de salvação de inúmeros bancos até então fortes, mas que, sem essa ajuda, ficam fadados a quebrar.
Por Joel Naegele, vice-presidente da Sociedade Nacional de Agricultura (SNA).