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Nutrição Animal

Nutrição Animal: A relação entre preços de insumos e produção de carne - por Roberto Bordin

Com relatório "Projeções do Agronegócio Brasil 2010/2011-2020/2021", intensificaram-se as discussões sobre os preços agrícolas no Brasil. Leia abordagem exclusiva que envolve produção animal.

Nutrição Animal: A relação entre preços de insumos e produção de carne - por Roberto Bordin

Segundo o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), o desempenho agropecuário do Brasil o coloca entre as nações mais prósperas e competitivas do mundo, sendo um dos principais fornecedores de proteínas no mercado de alimentos, abastecendo o mercado interno e destinando o excedente de sua produção a 215 países. A produção nacional de carnes bovina, suína e de frango aumentou, respectivamente, 43%, 96% e 107% entre 1999 e 2010.
No período de preparação do relatório do MAPA “Projeções do Agronegócio Brasil 2010/2011-2020/2021”, intensificaram-se as discussões sobre os preços agrícolas no Brasil, que para diversos produtos se situaram, entre 2010 e 2011, muito acima dos preços históricos. O relatório indica uma série de fatores que influenciaram preços e produção, dentre os quais se destacam os baixos estoques mundiais de grãos e cereais. Dentre estes, soja e milho adquirem elevada importância pelo amplo uso na fabricação de rações animais como fontes principais de proteína e energia, em especial para aves e suínos. É expressiva a participação destes dois insumos nos custos de produção e no desempenho animal.
Suinocultura e avicultura dependem essencialmente da disponibilidade desses ingredientes para a composição da dieta do plantel e de os dois insumos terem preços compatíveis com os preços pagos por quilograma de carne ou pelo animal vivo. Assim, o desempenho do setor de produção de soja e milho está ligado ao setor de carnes e às exportações. Contudo, as oscilações constantes de preços de milho e soja representam um fator de insegurança no controle de custos de produção de carne suína e de aves no Brasil. Pesquisas mostram diversos estudos de ingredientes alternativos às dietas com os insumos tradicionais. A questão chave nesses estudos, ainda incipientes, é a combinação com outros grãos que possibilitem o aporte adequado de nutrientes (proteínas, minerais, vitaminas, aminoácidos, entre outros) e de energia para a expressão do potencial genético dos animais de produção e ao longo de todos os seus estágios de desenvolvimento.

SOJA
Alguns fatores antinutricionais impedem que a soja seja utilizada in natura na formulação de dietas comerciais, e seu uso é dependente de processamento industrial. O tratamento da soja com altas temperaturas por processos de tostagem e extrusão desativa os fatores antinutricionais e torna a soja um alimento de alta qualidade. O farelo de soja é o principal subproduto resultante do esmagamento para retirada do óleo, este utilizado para alimentação humana. Sem restrições de uso, o farelo de soja pode compor 100% do concentrado proteico de rações animais e suplementos.
Aves e suínos são os grandes consumidores de soja na forma de farelo. Nos onze anos desde a safra 2000/2001, o consumo aparente de farelo de soja praticamente duplicou de 7 para 13,8 milhões de toneladas no Brasil. A soja é um item essencial de alimentação e nutrição considerando-se suas qualidades nutricionais, a alta produção e a facilidade de cultivo e de adaptação a quase todas as regiões do mundo.  Em sua constituição, ela possui proteína de alta qualidade e elevada quantidade de energia. Por outro lado, a soja possui baixos teores de cálcio, caroteno, vitamina D e fibras. Na pecuária, estes itens assumem grande importância e estão diretamente associados à qualidade de carne e leite, mas são insumos de custo alto e fazem com que produtores reduzam ou até mesmo descartem esta forma de suplementação.

MILHO
A importância econômica do milho se caracteriza pelas diversas formas de utilização. O uso do milho em grão como ingrediente de ração animal representa 70% do consumo desse cereal no mundo, segundo dados do departamento de agricultura dos Estados Unidos (USDA). O Brasil reflete esse dado, destinando, conforme a região do País, 60 a 80% da produção nacional a esse fim.
Quando comparado a outros cereais, o milho possui alto valor energético e é rico em amido, do qual pode se extrair glicose e dextrina. Da casca e do glúten podem ser produzidos o glúten 21 e o 60. O glúten 21 é o mais utilizado para nutrição de ruminantes, apresentando alta disponibilidade no mercado e preços variáveis. Já o milho grão é triturado para compor as rações e os suplementos em dietas animais.

O MERCADO DE SOJA E MILHO
No mercado de soja, a formação de preço ocorre a partir de preços em mercados internacionais e de fatores internos, como condições de oferta e demanda, diferenças qualitativas principalmente ligadas a teores proteicos do farelo, eficiência do porto exportador, disponibilidade do produto em armazéns portuários, greves portuárias, chuvas, etc. 
Segundo a Empresa Brasileira de Pesquisas Agropecuárias (Embrapa) – Central de Inteligência de Aves e Suínos, no ICP Suíno de 2011 e 2012 a nutrição representa de 76 a 78% dos custos de produção na suinocultura. Portanto, aumentos nos custos dos insumos para as rações, quando não acompanhados por aumentos correspondentes no preço de mercado da carne, aumentam a necessidade de ajuste da oferta de suínos visando garantir um preço de equilíbrio para o setor.
Uma forte crise no setor de suínos é um exemplo atual dessa relação. A crise foi causada pela quebra da safra 2011/2012 de soja e milho nos Estados Unidos e uma alta recorde no preço das duas commodities, especialmente a soja, aliada ao fechamento do mercado internacional de carne (Rússia e Argentina) e consequentemente a uma oferta excessiva no mercado interno brasileiro. Por operarem com margens de lucro baixas – por volta dos 3% –, produtores brasileiros afirmam que não têm como absorver o aumento de custos, e o repasse do preço de venda à carne suína é inevitável.
Em situação análoga à suinocultura, o setor avícola no Brasil registra redução de mais de 21% na receita em junho de 2012 comparado ao mesmo período em 2011 e ameaça derrubar a competitividade do setor neste ano. Esse cenário, associado à recente alta dos custos do milho e do farelo de soja, tem desestimulado o setor de suínos e aves, podendo levar a 20% de abandono na atividade. A ração de frangos tem como mistura básica milho e farelo de soja numa proporção de 3 para 1, além de alguns outros componentes.
Já os sojicultores e os produtores de milho comemoram, uma vez que há forte pressão para o aumento do preço dos grãos para a próxima safra. A soja alcançou em julho de 2012 pela primeira vez o preço de 55 a 60 reais por saca. Por outro lado, uma das soluções imediatas para a crise na produção de soja é aumentar urgentemente a produção de milho, de modo a evitar aumentos excessivos no preço final da carne de frango e suínos.

PREÇOS DE INSUMOS E PRODUÇÃO DE CARNE
Como vimos, a relação entre preços de insumos e produção de carne é complexa e variável. Os números atuais indicam uma correlação negativa elevada entre os preços de carne ou animal vivo e insumos. Dados do Instituto de Estudos do Comércio e Negociações Internacionais (ICONE) mostram um acúmulo da alta nos preços de soja de janeiro a julho de 2012 em torno de 74%, e no milho, de 37%. Segundo o Centro de Estudos Avançados em Economia (CEPEA) da ESALQ-USP, para o suinocultor brasileiro o cenário é de corrosão do seu poder de compra ante as altas nos preços de soja e milho.
Também na pecuária, os preços elevados de soja e milho encarecem expressivamente a produção de carne e leite bovinos, afetando valores nutricionais de rações e valor agregado do produto final. Julho de 2012 registra que são necessárias 14 arrobas de boi gordo para comprar uma tonelada de soja, ante 6 arrobas no mesmo mês de 2011.

AUTORES:
Prof. Dr. Roberto de Andrade Bordin
[email protected]
Docente – Produção, Nutrição, Sanidade e Agronegócio Animal.

Alexandra Isabel González Bergweiler
[email protected]
Graduanda em Agronomia.

FONTES CONSULTADAS
Avaliação econômica no uso da restrição alimentar qualitativa para suínos com elevado peso de abate. 2008. Disponível em http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1516-35982008000600015.
Brasil Projeções do Agronegócio 2010/2011 a 2020/2021. 2012. Disponível em http://www.agricultura.gov.br/arq_editor/file/Ministerio/gestao/projecao/PROJECOES%20DO%20AGRONEGOCIO%202010-11%20a%202020-21%20-%202_0.pdf.
Dietas à base de milho e farelo de soja suplementadas com enzimas na alimentação de frangos de corte. 2003. Disponível em http://www.scielo.br/pdf/cagro/v27n1/a25v27n1.pdf.
ICP Suíno Embrapa. 2012. Disponível em http://www.cnpsa.embrapa.br/cias/index.php?option=com_content&view=article&id=51:teste&catid=7:noticias&Itemid=51.
O agronegócio e o sucesso do Brasil no mercado de carnes. 2011. Disponível em http://www.ufrgs.br/nespro/arquivos/vijornada/agroneg_suces_brasil_merc_carnes_poa_rs_set_2011.pdf.
Plano Agrícola e Pecuário 2011-2012. Disponível em http://www.agricultura.gov.br/arq_editor/file/Ministerio/Plano%20Agr%C3%ADcola%20e%20Pecu%C3%A1rio/Plano_Agricola2011-2012%20-%20ATUALIZADO.pdf.
UBABEF reúne o setor para buscar soluções para evitar impacto do preço dos insumos no custo da produção. 2012. Disponível em http://www.abef.com.br/ubabef/exibenoticiaubabef.php?notcodigo=3230.
United States Department of Agriculture – Table 4 Corn area, yield and production. 2012. Disponível em http://www.fas.usda.gov/psdonline/psdreport.aspx?hidReportRetrievalName=BVS&hidReportRetrievalID=884&hidReportRetrievalTemplateID=1