Entre os maiores produtores de frango, os chineses ocupam a quinta colocação no ranking de importadores, atrás da Rússia, União Europeia, Japão e Arábia Saudita. Apesar de o mercado chinês estar aberto ao frango brasileiro desde o final do ano passado, os embarques só começaram a ser realizados depois da visita do presidente Lula, em maio deste ano, com o Brasil interessado numa fatia de aproximadamente 500 mil toneladas de carne de frango, que devem ser importadas pela China este ano.
Maior facilidade de acesso ao mercado chinês, oportunidade de atrelar a imagem a um produto com apelo mais sustentável e saudável e diluição de riscos são algumas das principais vantagens que empresas americanas devem trazer a seus novos donos brasileiros, sendo a carne de frango como uma espécie de “passaporte” para as demais proteínas brasileiras ingressarem no mercado asiático.
A China vai ultrapassar os Estados Unidos neste ano e se tornar o maior consumidor de frango do mundo e o Brasil ainda não é um grande exportador de frango para o país asiático com suas exportações direcionadas, principalmente, à Europa e ao Oriente Médio. No entanto, acredita-se que o Brasil tem potencial para se tornar o maior fornecedor de frango para a China no futuro. Recentes disputas comerciais entre China e Estados Unidos ajudarão o Brasil, pois os Estados Unidos é o maior fornecedor chinês. Os chineses ocupam a vice-liderança em produção mundial, porém possuem um déficit de oferta e a recente decisão da China de habilitar 24 estabelecimentos brasileiros para exportar frango congelado significa, na prática, uma oportunidade de embarques de até 1 milhão de toneladas por ano, fortalecendo o raciocínio das empresas americanas de usarem a plataforma de produção brasileira para continuar e ampliar este mercado.
O frango como alavanca
A produção de frangos é também uma oportunidade para redesenhar a imagem dos grupos de bovinos que entram no mercado avícola, que ficou arranhada com denúncias de utilização de gado criado em áreas desmatadas e que levou grandes redes varejistas, que atuam no Brasil, a pedir a suspensão dos contratos de fornecimento.
O “apelo verde” do produto está relacionado ao fato de que a criação de frangos ocupa menos espaço, consome menos energia e emite menor teor de gás carbônico, sem contar que a carne de frango é vendida como mais saudável por ser menos calórica. Também na questão sanitária, diferentemente dos bovinos e suínos, as aves não estão sujeitas à contaminação pelo vírus da febre aftosa, reduzindo o risco de eventuais embargos. As aquisições de negócios de frango ajudam no processo de diversificação de receitas e reduzem os riscos do negócio das empresas, além de diluir os riscos. A diversificação adotada pelos frigoríficos brasileiros é uma decisão acertada, uma vez que traz ganhos de sinergia em logística, comercialização e distribuição para as carnes nacionais de modo em geral.
Passada a crise, as exportadoras de carnes brasileiras têm grandes oportunidades e conglomerados brasileiros de proteína animal beneficiarão a cadeia de carnes e o País como um todo. União de empresas como estas criam gigantes que são importantes na conquista de novos mercados, porque têm capacidade para processar ou fazer parceiras com empresas locais, garantindo empregos e novos consumidores conquistados.
Por Valter Bampi, médico veterinário e executivo avícola.