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Comentário Avícola

O mercado de grãos - Por Valter Bampi

Neste ano o Brasil pode ter um estoque de passagem três vezes maior do que em 2009. Com a intensificação da colheita de milho pode faltar espaço para sua armazenagem, mesmo com o crescimento das exportações de soja, o que ampliaria locais para estocagem do cereal.

A avicultura vive atenta aos principais insumos de sua ração, os quais compõem quase 70% do custo do frango entregue nas plataformas das indústrias. A intensificação da colheita de milho a partir desta semana pode trazer um problema para os produtores: a falta de espaço para armazenar o produto colhido, já que seus estoques ainda lotam os armazéns. Em Mato Grosso, apesar da quebra de quase 20% estimada pelo Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária, o volume a ser colhido ainda é bastante expressivo, cerca de 8,3 milhões de toneladas de milho. O receio é de que o Estado enfrente o mesmo problema de 2009, quando a safrinha de milho chegou a ser estocada a céu aberto.

Neste ano poderemos vir a ter um estoque de passagem três vezes maior que em 2009. No Paraná, isso chegou a acontecer com a safra de verão, que é a mais expressiva. São cerca de 20 milhões de toneladas de grãos. A situação no Estado melhorou em maio, quando as exportações voltaram a ganhar força e saiu bastante produto dos armazéns. Acho que agora, na safrinha, a situação vai ficar mais tranquila.

Se por um lado o aumento das exportações da soja abre espaço para a estocagem do milho, o próprio grão não vem tendo um desempenho positivo nos embarques. De acordo com a Secretaria de Comércio Exterior (Secex), em maio a exportação de milho recuou 54,2% em volume na comparação com abril, e 68,8% em relação ao mesmo mês de 2009. Por isso o mercado continua a apostar nos leilões de apoio à comercialização para escoar o produto e sustentar as cotações. Desta forma, as negociações permanecem arrastadas na maioria das praças e devem continuar assim. No dia 08 de junho aconteceu mais um leilão de Prêmio de Escoamento de Produto (PEP), com a oferta de um milhão de toneladas, e um leilão de Prêmio Equalizador Pago ao Produtor Rural (Pepro) para 140 mil toneladas da região oeste da Bahia.

Os preços do milho se mantiveram em alta na primeira semana de junho, já que os produtores estão segurando o cereal na expectativa de garantir o preço mínimo pago nos leilões de PEP. Em Campinas (SP), alguns compradores relatam dificuldade em adquirir milho, já que o mercado está pouco ofertado. O movimento de recuperação dos preços iniciou em maio, a partir do anúncio do governo sobre a realização de leilões semanais para venda de milho. Com isso, o Indicador Esalq/BM&F Bovespa, referência Campinas, subiu 7,4% no mês. A pesquisa, realizada pelo Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) projeta que na primeira semana de junho já se teve ganho de 1,64%, o que diminui a perda anual para 2,2%. No primeiro dia de maio essa perda chegou a ser de quase 11%. Seguindo esse ritmo, o Cepea avalia que, já na próxima semana, o acumulado pode ser revertido, tendo uma variação positiva.

Preços estáveis – Em sete dias o Indicador Esalq/BM&F Bovespa teve alta de 2,3%, fechando a R$ 19,70/sc de 60 kg, o maior valor desde 12 de janeiro. Na média das regiões pesquisadas pelo Cepea, os preços ficaram praticamente estáveis nos mercados de balcão (ao produtor) e de lotes (negociação entre empresas). Regionalmente, os preços se reduziram nas regiões do Centro-oeste e ficaram entre estáveis e em alta nas demais praças importantes na produção e no consumo no Brasil.


O milho fechou na sexta-feira (04/06) na menor cotação em oito meses na Bolsa de Chicago (CBOT). As cotações futuras do milho na CBOT encerraram naquela sexta-feira no nível mais baixo em oito meses, influenciadas por outros mercados. Os lotes mais negociados, com vencimento em julho, caíram 2,72%, cotados a US$ 3,40/bushel, mínima da sessão.
Os futuros de soja encerraram a primeira semana de junho de lado, após atingir na quinta-feira (03/06) os maiores valores em três semanas. O mercado continua pressionado pelas preocupações com a crise financeira global, que na sexta-feira (04/06) provocaram alta do dólar em relação a outras moedas e derrubaram as cotações nos mercados de ações e de commodities em geral. No entanto, a forte demanda chinesa e a retração na oferta da soja remanescente nos países produtores, aliadas às preocupações com o avanço do plantio nos Estados Unidos, devem dar sustentação aos preços da soja no curto prazo, mas a crise global é um fator que limita a continuidade dos movimentos de alta.


Os temores em relação aos desdobramentos da crise mundial na sexta-feira (04/06) foram mais fortes dos que os fundamentos do mercado de soja que levaram à alta do dia anterior. A oferta de soja da safra velha está restrita nos Estados Unidos, no momento em que as atenções dos agricultores estão voltadas para o plantio da safra nova. Tanto nos Estados Unidos, como no Brasil e na Argentina, os agricultores reduzem a oferta da soja remanescente, à espera dos rallys de preços que devem ocorrer durante o plantio e desenvolvimento das lavouras norte-americanas. A correspondente da Agência Estado em Buenos Aires, Marina Guimarães, relata dados das bolsas de Rosário e de Buenos Aires, que apontam vendas de 49,6% das 54,7 milhões de toneladas colhidas pelos produtores argentinos. Os analistas locais estimam que 65% da soja ainda não têm preço fixado e outras 8,5 milhões de toneladas da safra velha ainda não foram negociadas.

Argentina e China – Na primeira quinta-feira de junho, o secretário de Relações Exteriores da Argentina se reuniu com autoridades da China para discutir a retomada das compras de óleo de soja. A China suspendeu as importações do óleo de soja argentino em abril, em represália contra as tarifas antidumping impostas a produtos chineses, embora a desculpa oficial seja a presença de resíduos do solvente hexano. O governo argentino tenta retirar a barreira, pois no ano passado a China importou 1,87 milhão de toneladas das quatro milhões de toneladas produzidas na Argentina. A perda de receita é da ordem de US$ 600 milhões. Na China, as importações recordes de matéria-prima estão provocando problemas de logística. O atraso nos desembarques nos portos chineses pode levar ao cancelamento de algumas cargas da América do Sul, segundo o Centro Nacional de Informações sobre Óleos e Grãos da China (CNOIC). A expectativa é de desembarque de seis milhões de toneladas nos portos chineses em junho, que devem superar o recorde de 4,7 milhões de toneladas observado em julho do ano passado. O CNOIC relata problemas de falta de espaço para armazenagem da soja, principalmente em Shandong.