Nas duas últimas décadas, de acordo com a OMC – Organização Mundial do Comércio, foram selados 543 acordos bilaterais ou regionais de livre comércio e, desses, 354 ainda estavam em vigor, em janeiro passado. Cerca de metade deles foram assinados de 2003 para cá.
O crescimento dos acordos bilaterais de livre comércio está associado, em certa medida, ao fracasso das negociações da Rodada de Doha, da OMC, que pretendia derrubar as barreiras ao comércio global, principalmente das commodities agrícolas.
Pragmático, o comércio internacional substituiu parte do foco em Doha pela ênfase em tratados regionais e, nessa nova configuração de acordos comerciais regionalizados, o Brasil ainda está um pouco ausente. Vamos comparar, aqui mesmo pelas Américas: o Chile tem 21 tratados em vigor, Estados Unidos 14, México 13, Peru 12, Colômbia 11 e Brasil 2 — além de acordos limitados de preferência tarifária com Índia e África do Sul.
A União Europeia tem 32 acordos de livre comércio em vigor e até a enigmática e às vezes arredia China tem 15 desses tratados bilaterais. Os Estados Unidos, além dos 14, está em duas grandes negociações – uma com países do Oceano Pacífico e outra com a União Europeia, que podem se transformar nas duas maiores áreas de livre comércio do planeta.
O Brasil tem uma economia grande e complexa, um agronegócio que é referencia mundial, e aparentemente foi em nome desses fatores que o país priorizou a opção multilateral de negociação da Rodada de Doha, o único fórum onde se discute os subsídios agrícolas. Nisso o posicionamento brasileiro esteve alinhado com o fato de ter um dos agronegócios mais dinâmicos do mundo.
Mas agora com a remodelação porque passam as economias do Hemisfério Norte e com as conversações para mega tratados regionais de livre comércio, talvez seja o momento do Brasil redosar estratégias e buscar mais oportunidades comerciais bilaterais ou regionais.
Um agronegócio abrangente, moderno e competitivo nós temos. Então, que tal sair mais do casulo e integrar as cadeias produtivas do setor, além de articular-se com outras áreas da economia que também tenham força competitiva externa.
Mais ainda: fazer marketing da marca Brasil e desenhar hipóteses de acordos comerciais com nações, principalmente de olho em faixas de produtos com maior valor agregado. Aliás, não seriam apenas produtos, pois o país reúne uma expertise exclusiva em agropecuária tropical e subtropical, com potencial para ter uma boa carteira de clientes nessas duas faixas do planeta.
Obviamente, há uma dimensão governamental e diplomática nesse desafio. Mas a semente e a rega podem nascer dos setores privados e empreendedores da economia. Bater na porta, ofertar e negociar: sempre foi assim, através dos tempos. Afinal, o mundo está abrindo cada vez mais suas fronteiras e a sustentabilidade do agronegócio também passa por uma forte integração internacional.
Por Coriolano Xavier, membro do Conselho Científico para Agricultura Sustentável (CCAS) e Professor do Núcleo de Estudos do Agronegócio da ESPM – Escola Superior de Propaganda e Marketing