Além da alta nos preços dos fertilizantes químicos há também uma mudança significativa, por parte dos produtores, no gerenciamento dos recursos naturais, tornando-se cada vez mais importante equilibrar os fatores econômicos e ambientais. Portanto, muitos produtores de aves se perguntam: “Quanto de fertilizante meus animais estão gerando?” ou “Qual o valor econômico destes dejetos?”.
Como não há um mercado formal para este tipo de fertilizante, o seu valor para os potenciais compradores é desconhecido. Sem antes passar por tratamento, a aplicação dos dejetos como fonte de nutriente para a produção vegetal deve ser realizada de forma controlada para garantir que eles não contaminem o solo ou a água. Em geral, esta prática é dificultada, pois as características desses dejetos não possuem um padrão. Estas características dependem de diversos fatores intrínsecos ou de manejo.
O potencial fertilizante tanto da cama de frango quanto dos dejetos de poedeiras é, inegavelmente, superior ao de muitos outros tipos de dejetos e, por este motivo, a melhor abordagem para o gerenciamento desses resíduos é, sem dúvida, estimar o valor máximo do potencial fertilizante para uma finalidade específica e realizar um tratamento direcionado.
Basicamente, há três passos principais para utilizar estes dejetos de forma ambiental e economicamente sólida:
- – Conhecer o teor de nutrientes do esterco;
- – Tratamento adequado, evitando perdas dos nutrientes e eliminação dos patógenos; e
- – Aplicação na agricultura com base nas necessidades de nutrientes das culturas, ajustando a taxa de adubo suplementar para compensar os nutrientes já aplicados.
Deste modo, iremos citar aqui apenas os aspectos gerais de cada passo da correta utilização dos dejetos e nos próximos “Comentários Avícolas” entraremos na discussão de cada um com detalhamentos técnicos e científicos.
Composição dos dejetos
Com relação às características dos dejetos de aves, a sua composição é variada, se difere dos demais dejetos de animais de produção por não produzirem urina aquosa, como os mamíferos, e excretam uratos e metabólitos sólidos que são adicionados às fezes como uma mancha branca.
Durante o metabolismo, a proteína ingerida é convertida em ácido úrico que combinado com as fezes se apresenta como um material pastoso branco e insolúvel em água. Todas estas características particulares dos dejetos das aves influenciam no processo de tratamento e no produto final deste tratamento, onde o ácido úrico vai ser usado por bactérias aeróbias para a formação de uma massa de células, com teores de nitrogênio maiores que o próprio dejeto inicial. Posteriormente, esta massa será convertida em amônia e, em seguida, com a adição de materiais ricos em carbono, em nitrogênio assimilável pelas plantas.
O teor de nutrientes presentes nos dejetos depende de diversos fatores, além dos intrínsecos como a idade das aves, sistema de produção, instalações, manejo, nutrição, clima e outros. Nota-se, com isso, a importância do conhecimento das características dos dejetos que irão influenciar na qualidade do produto final.
Com relação aos tratamentos desses dejetos, existem diversas opções que o produtor pode escolher mediante uma avaliação rigorosa de suas condições como: disponibilidade de espaço, investimento inicial e permanente, mão-de-obra, comércio ou utilização do produto final. Em resumo, a adubação direta, a compostagem, a biodigestão anaeróbia e a cogeração de energia são os métodos mais comuns de tratamento ou utilização dos dejetos. Todos eles, quando planejados, bem conduzidos e orientados diminuem a perda de nutrientes presentes nos dejetos e aumentam o seu potencial fertilizante, podendo resultar num material de alto valor comercial.
Valores
A taxa de aplicação do dejeto de aves ou do produto final do seu tratamento deve seguir as exigências e necessidades de nutrientes das culturas as quais serão adubadas. Em seu nível mais básico, o esterco tem valor fertilizante porque afeta diretamente a produção de culturas agrícolas e o seu potencial fertilizante depende das características fertilizantes presentes (basicamente N, P, K e matéria orgânica).
A maneira mais simples de colocar um valor econômico aos nutrientes dos dejetos é usar o valor comum de fertilizante comercial. No entanto, o N presente nos dejetos (ácido úrico e amônia), como não tem disponibilidade às plantas igual ao N comercial, é valorizado de forma diferente e inferior. Novamente, fica evidente a necessidade de tratamento antes da utilização e da venda do produto final, para que se possa agregar a este produto valores economicamente vantajosos.
Os valores de P e K comerciais provavelmente se aproximam do valor desses nutrientes dos dejetos, pois estes são estáveis. A matéria orgânica fornecida pelo dejeto tem altíssimo valor sobre a fertilidade do solo. Como não existe mercado para a matéria orgânica a melhor maneira de colocar um valor sobre o adubo fornecido por ela é determinar o valor do aumento da produção da cultura resultante da aplicação deste material.
Confira os detalhes de cada passo importante no gerenciamento dos dejetos de aves nos próximos textos que serão publicados no comentário avícola.
Por Karolina Von Zuben Augusto, doutoranda em Engenharia Agrícola na Unicamp e consultora em tratamento de dejetos de aves e de suínos