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Quem não tem dúvidas está no mínimo mal informado - por Ariovaldo Zani

Mesmo diante de tantos cenários e projeções, empreendedores brasileiros poderão suportar uma economia global convalescente. Desempenho da indústria de alimentação de bovinos, aves e suínos depende de diversos fatores.

A instabilidade macroeconômica global combinada ao baixo estoque das commodities e a persistente demanda dos países emergentes exige atenção redobrada, já que qualquer restrição na oferta pode reverberar acentuadamente e gerar forte volatilidade nos preços agrícolas.

Não muito distante, mais precisamente, durante o segundo semestre do ano passado, a baixa taxa de juros nos Estados Unidos e a generosa liquidez disponível motivaram os fundos de investimento a fechar quase três vezes mais contratos na Bolsa de Chicago do que logo após a crise de 2008.

O índice de preços da FAO alcançou então a marca histórica, embora mais recentemente tenha demonstrado sinais de enfraquecimento imediato no caso dos grãos, leite, açúcar e cereais e efeito mais tardio na queda do preço das carnes, pois o cenário tempestivo contemporâneo vem provocando reversão das posições e praticamente eliminando a componente especulativa que sustentava os preços agrícolas.

Essa redução dos preços em dólares tem beneficiado sobremaneira a China que encontrou certo alívio na oferta de crédito e pode deixar de aumentar a taxa de juros para controle inflacionário mesmo diante do sustentado consumo doméstico.

O consumidor Brasileiro vai encontrar preço mais alto para carne bovina que chegou alcançar U$ 60/arroba por acompanhar a arbitragem ditada pelo mercado internacional. Nos Estados Unidos a arroba pode ultrapassar os U$ 85 por restrição de oferta conseqüente aos efeitos da longa e severa estiagem que eliminou a pastagem, fez explodir o preço do feno e volumoso, diminuiu a oferta de bois e forçou a manutenção do abate intenso de fêmeas. No Brasil o ciclo de retenção de fêmeas já dura cinco anos e se mantém robusto na Argentina, Uruguai e Austrália que deve ocupar boa parte do mercado internacional deixado pelos Estados Unidos.

O evidente esfriamento da economia Brasileira no último trimestre parece ainda não ter comprometido o preço e demanda dos alimentos no varejo, embora em 2010 o consumo de carne bovina tenha retraído mesmo diante do crescimento de 7% e elevação de muitos consumidores à classe média.

O impulso da indústria de alimentos, modulado pela capacidade de demanda do consumidor doméstico e pelo apetite dos clientes internacionais é que determina o desempenho da indústria de alimentação de bovinos, aves e suínos que depende da oferta e cotação dos seus principais insumos, o milho e a soja.

O estoque global de soja não deve acumular excedente em 2012 e nem sequer em 2013 por causa do nível crítico apurado nos Estados Unidos e do agricultor americano priorizar o plantio de milho no próximo semestre. No Brasil a expectativa é colher 75 milhões de toneladas na safra 2012/2013 e ampliar em 1 milhão de hectares a área plantada em resposta à abertura de áreas de cerrado no Nordeste, conversão de pastagens em lavouras de grãos, principalmente no Centro-Oeste, retração na lavoura do algodão e manutenção da área plantada de milho. A redução sistemática do preço em dólares tem sido compensada pela desvalorização do Real e pode continuar trazendo boa rentabilidade à cadeia de produção da oleaginosa.

Mesmo com demanda crescente e sem acúmulo recente de excedentes no estoque global o milho pode enfrentar queda de preço em 2012 e principalmente 2013, mesmo diante da firme demanda, mas influenciado por hipotética retomada da safra americana, capacidade de recuperação da economia global, escassa liquidez e falta de recursos para financiamento do comércio internacional. A safra Brasileira de milho a ser colhida em 2012/2013 pode alcançar até 65 milhões de toneladas, graças ao variado conjunto biotecnológico disponível. O preço reduzido combinado ao estoque suficiente para atendimento da demanda doméstica pode permitir certo alívio aos produtores de carne em 2012.

Finalmente, a possível retomada dos mercados agrícolas pelos fundos vai depender da manutenção de baixa taxa de juros, da liquidez global disponível e principalmente dos indícios de solução efetiva do imbróglio fiscal na zona do Euro.

Apesar dos solavancos vindouros o Brasil pode enfrentar essa desafiadora ciclotimia por causa da sua disciplina na gestão macroeconômica alicerçada em sistema financeiro sólido e moderno, Banco Central autônomo, política de câmbio flutuante, setor público que vem acumulando superávits primários e o Tesouro com mais de U$ 350 bilhões em reservas.

Mesmo diante de tantas dúvidas, cenários e projeções, os ousados empreendedores Brasileiros poderão suportar uma economia global convalescente se o país continuar a crescer e vencer os desafios dos ganhos de produtividade, da disponibilidade de mão-de-obra especializada e da mobilização dos investimentos voltados à infraestrutura.

Ariovaldo Zani é vice-presidente executivo do Sindirações