Vivemos uma utopia. A ideia de que as utopias acabaram é falsa. Quem está imerso nessa fantasia não percebe, mas vivemos a utopia da técnica e do consumo inesgotáveis – e entre esses dois eixos já se vão 200 a 300 anos de história do mundo ocidental.
Nos últimos três séculos, o homem, a ciência e a tecnologia produziram prodígios. Foram tantos, que se acreditou ser esta uma tríade de “deuses” – e que os recursos planetários não teriam limite, jamais. E agora?
A ciência é a melhor ferramenta para aproximar nosso olhar da realidade. E ela está dizendo que os recursos são finitos, o que significa que um dia vão acabar. Sim, recursos escassos… e a melhor prova disso é que, não fosse essa escassez, nem existiria a chamada ciência econômica.
A ciência diz também que a energia renovável não sustenta a sociedade de consumo global, na qual vivemos hoje. O Brasil até ostenta uma posição privilegiada neste aspecto, pois cerca da metade da energia usada no Brasil é renovável.
Nossa eletricidade provém basicamente de hidroelétricas e agora, cada vez mais, de alternativas renováveis como o uso do bagaço de cana-de-açúcar. Temos também o consagrado etanol e outros ascendentes biocombustíveis, desenvolvidos a partir de oleaginosas e até produtos florestais.
O que não podemos é dormir sobre o sonho do pré-sal e abandonar as políticas estimuladoras da energia renovável – inclusive para as fontes que ainda possuem menor expressão de escala, como é o caso da energia eólica e da energia solar, que se mostram como alternativas viáveis e competitivas, para a realidade específica de certos mercados.
Enquanto sonhamos com o admirável mundo de uma nova economia harmonizada com o planeta, temos antes que entrar de cabeça em uma espécie de varejo da chamada “economia verde”, buscando pelo menos alguma redução imediata no consumo de matérias-primas e energia – e também um corte severo nos desperdícios (nos Estados Unidos, o desperdício de alimentos alcança 40% — do campo à mesa).*
Além desses desafios urgentes, acho que não faria mal começar a se pensar na revisão de alguns conceitos de crescimento econômico, diminuindo ou eliminando subsídios a setores de forte impacto no consumo de combustíveis fósseis – como o automotivo e petrolífero.
Também há quem fale no planejamento demográfico espontâneo e democrático, nas áreas mais pobres e populosas do planeta. E isso poderia ser indiretamente estimulado por meio de programas intensivos de educação e liberdade da mulher — um fato que, historicamente, parece estar associado a uma redução significativa nas taxas de natalidade.
O agronegócio já mostrou sua ótima capacidade de reação em prol da sustentabilidade. Hoje, por exemplo, produzimos 1 tonelada de carne (metade frango, metade suíno) com 1/8 da área utilizada com o mesmo objetivo, 50 anos atrás. Em sustentabilidade, o campo já comprovou que tem soluções. Mas esse é um desafio que, para ser equacionado 100%, precisa do compromisso de toda a sociedade.
(*) Fonte: NRDC – Natural Resources Defense Council, Estados Unidos, agosto 2012.
Por Coriolano Xavier, membro do CCAS – Conselho Científico para a Agricultura Sustentável, professor do Núcleo de Estudos do Agronegócio da ESPM – Escola Superior de Propaganda e Marketing.