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Um novo tempo para o agronegócio paulista - por Antônio Julio Junqueira de Queiroz

Na última década, São Paulo foi responsável por um terço das exportações do agronegócio brasileiro, provedor de 36% das vendas no mercado externo e 40% dos empregos no País.

Na última década, São Paulo foi responsável por um terço das exportações do agronegócio brasileiro, provedor de 36% das vendas no mercado externo e 40% dos empregos no País. Entretanto, talvez por preconceito político-ideológico, a importância da atividade e a participação paulista não têm sido respaldadas pelo Governo Federal. Assim, deixamos de explorar todo o potencial presente no empreendedorismo dos produtores, nossa liderança na agricultura tropical conquistada pela pesquisa e a aptidão natural para a produção de commodities agropecuárias. Lamentável, pois tais virtudes respondem à necessidade de ampliação em 20% da produção de alimentos até 2020, indicada pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).

De janeiro a agosto de 2012, a balança do agronegócio paulista teve redução de 15,2% no saldo comercial em relação ao mesmo período de 2011, atingindo US$ 7,18 bilhões, e as exportações setoriais representaram 3% a menos. A queda pontual não pode virar uma tendência. Por isso, é imprescindível fortalecer a economia rural de São Paulo, cujos destaques são os complexos sucroalcooleiro e citricultor, carne bovina e madeira (pinus e eucalipto). Além disso, o cinturão verde da Região Metropolitana é responsável por um quarto da produção nacional de legumes e o Estado é o maior produtor nacional de frutas, com um terço do total.

A agricultura paulista é a maior e mais diversificada do País, mas duas questões se sobressaem quanto ao seu futuro: ampliar a oferta de alimentos e manter preços estáveis, para atender ao aumento da renda familiar dos brasileiros; e condições adequadas para que o setor sucroenergético cumpra seu papel. Por isso, independentemente da negligência federal, o Estado precisa fazer sua parte!

Nesse sentido, é necessário rever a estrutura da Secretaria de Agricultura e Abastecimento, a começar pelo atendimento às demandas das propriedades agrícolas, nas quais prevalecem as pequenas e médias. Dentre os estabelecimentos rurais paulistas, somente 15% já recorreram ao Crédito Rural, pois têm medo de hipotecar as propriedades, e 3,5% acionaram o Seguro Rural, pois a maioria não o conhece. A consequência é a dificuldade de modernização. A secretaria, por meio do Fundo de Expansão do Agronegócio Paulista, é fundamental para transformar essa condição. A presença do setor público, seja referente à pasta ou aos ministérios da Agricultura e do Desenvolvimento Agrário, ainda conta pouco para a imensa maioria dos pequenos e médios produtores. Uma limitação é a grande dificuldade de a informação chegar até eles (função da extensão rural); outra é que somente menos de um quarto participa de cooperativas ou sindicatos. É necessário melhorar a comunicação.

O governo paulista deve, ainda, fazer análise da logística de transportes de carga e das estruturas portuárias disponíveis. São Paulo já tem a melhor malha rodoviária do País e investirá mais na Hidrovia do Tietê-Paraná e na ferrovia. Esses são diferenciais competitivos, mas o Estado deve mostrar ao Brasil uma visão moderna e inovadora sobre o significado do desenvolvimento rural, baseada no paradigma contemporâneo do agronegócio mundial, centrado na produtividade, rentabilidade e aprimoramento dos mecanismos de gestão da qualidade, bem como na adequação ambiental e social em todos os elos das cadeias produtivas. Para a gestão desse processo, seria apropriada a criação do Índice de Desenvolvimento Rural das Regiões ou Municípios.

Todos esses fatores geram demandas e competências nas áreas pública e privada e precisam ser considerados na formulação das políticas do setor em São Paulo, cuja metodologia deverá situar-se em três vertentes: a importância e os limites do papel do Estado; a análise de experiências bem-sucedidas em outros países; e uma agenda sem traço tecnocrático. Para isso, é crucial ouvir os agentes produtivos, associações e sindicatos, pois eles vivem as dificuldades, conhecem as necessidades e saberão pleitear as ações e estratégias mais adequadas e decisivas para um novo salto quantitativo e qualitativo do agronegócio paulista.
 
Antônio Julio Junqueira de Queiroz, produtor rural, é formado em administração (Esan/FEI), membro do Conselho Superior do Agronegócio da FIESP e foi secretário interino da Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo.