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Comentário Avícola

Vida após a morte: Compostagem de carcaças - Por Karolina Von Zuben Augusto

A busca por uma solução definitiva para a questão da disposição da mortalidade das granjas avícolas, continua sendo um desafio. Veja vantagens e desvantagens de cada método de compostagem.

A busca por uma solução definitiva para a questão da disposição da mortalidade das granjas avícolas, continua sendo um desafio econômico, de segurança ambiental, de biossegurança e de praticidade. Embora na maioria das granjas haja uma pequena quantidade diária de aves mortas a eliminação ou o tratamento também devem ocorrer diariamente. Os métodos tradicionais e mais comuns de eliminação da mortalidade incluem o enterro e a incineração e, mais recentemente, a compostagem como uma opção de tratamento e reciclagem. Embora o Brasil ainda não conte com uma legislação rigorosa sobre o assunto, o enterro em fossas e a incineração são práticas não recomendadas, porém comumente utilizadas.

A compostagem é, dentre os métodos mais usados, aquele que melhor atende às exigências ambientais de controle de poluição do ar, água e solo. Na tabela abaixo estao expostas as vantagens e desvantagens de cada método.

TIPO DE TRATAMENTO

 

VANTAGENS (+) ou DESVANTAGENS (-)

Fossas

(+)

Previne odores, moscas e animais oportunistas;

 

(+)

Elimina as carcaças do ambiente, evitando a disseminação

de doenças e microrganismos patogênicos;

 

(-)

O atraso do manejo ou problemas no fechamento das fossas

podem ocasionar odores, moscas e animais oportunistas;

 

(-)

Risco de encharcamento das fossas com água de chuvas;

 

(-)

Risco de contaminação de águas subterrâneas.

Incineração

(+)

Indicada para casos de mortalidade por problemas sanitários,

eliminando o risco de contaminação dos lotes;

 

(+)

Elimina as carcaças do ambiente, evitando a disseminação de

doenças e microrganismos patogênicos;

 

(+)

Reduz o volume tendo as cinzas como resíduo final;

 

(-)

Custo inicial alto;

 

(-)

Risco de contaminação do ar pelos gases e pelo odor;

Compostagem

(+)

Quando bem manejada reduz odor e elimina moscas e animais

oportunistas;

 

(+)

Elimina as carcaças do ambiente, evitando a disseminação de

doenças e microrganismos patogênicos;

 

(+)

Produção de produto final de aplicação agrícola;

 

(+)

Eliminação de agentes patogênicos;

 

(+)

Custo inicial baixo;

 

(-)

necessidade de mão-de-obra treinada e orientada.

 

(-)

Aumento do volume final.

A princípio a compostagem foi desenvolvida como meio de eliminação das carcaças, mas recentemente tem se tornado um processo de reciclagem de matéria orgânica e dos nutrientes, trazendo benefícios com a eliminação de agentes patogénicos, de moscas e de odores. Desta forma, a compostagem pode ser considerada a única opção de reciclagem e não, somente, eliminação ou tratamento da mortalidade, aproveitando a energia contida na porção orgânica presente e ao mesmo tempo que garantindo a segurança ambiental.
O princípio básico do processo de compostagem é a mistura dos resíduos orgânicos em quantidades adequadas de C e N, pH, oxigênio e umidade para facilitar a decomposição. Porém, a compostagem de mortalidade requer uma abordagem diferente. Nela não há mistura das matérias-primas e sim confecção de camadas estáticas em pilhas ou baias. A mistura só ocorre após a decomposição total das carcaças. Desta maneira, a compostagem de mortalidade pode ser comparada ao enterro de uma biomassa, porém com processo aeróbio controlado de decomposição.
Como manejo geral, os animais mortos devem ficar dispostos separados por camadas de cama-de-frango/dejetos e material vegetal seco (Figura), sendo que a expessura destas camadas varia conforme o tamanho dos animais e a disponibilidade dos materiais usados. Assim, não existe um dimensionamento universal para as instalações, nem uma receita que seja aplicável a qualquer tipo de projeto. Toda a montagem vai depender das matérias-primas que estarão disponíveis, quantidade de aves e, especialmente, da qualidade da mão-de-obra, sob a orientação de um técnico responsável.

Na compostagem há transformação da matéria orgânica das aves mortas e dos outros materiais em nutrientes minerais disponíveis para plantas e matéria orgânica compostada. Nela, existem dois tipos de decomposição envolvidos; aeróbia, parte do processo onde podemos controlar e manejar, e anaeróbia, processo interno de decomposição das aves e que ocorre naturalmente de dentro pra fora.

Portanto, o que nos é importante controlar é a decomposição aeróbia, ou seja, aquela que ocorre de fora das carcaças para dentro. As bactérias envolvidas no processo são aeróbias e termofílicas. Desta forma durante a atividade microbiana, a temperatura eleva-se a ponto de eliminar microrganismos patogênicos presentes, fazendo o papel sanitário do processo.

Assim como na decomposição controlada de outros resíduos, na compostagem de carcaças a atividade bacteriana requer um balanço de nutrientes, especialmente de C e N. O suporte de C é fornecido pelo material seco, que pode ser a maravalha, o bagaço de cana, cascas, palhas ou gramíneas secas. Já uma boa e disponível fonte de N é a cama-de-frango ou os dejetos das próprias granjas.

Além dos nutrientes, diversos outros fatores influenciam o andamento de uma compostagem, mesmo que as matérias-primas estejam em quantidades adequadas. Por se tratar de um sistema aeróbio estático, o tamanho de partícula e a porosidade dos materiais usados também são importantes para garantir a circulação de oxigênio. Estudos comprovam que para a atividade microbiana é necessária porosidade mínima de 25 a 30%.
A oferta de água é condição essencial a qualquer tipo de vida, não deixando de ser no processo de decomposição de carcaças. Os níveis de umidade determinam não somente a viabilidade da atividade como a sua velocidade.
As queixas mais comuns dos produtores que utilizam a compostagem de mortalidade estão, geralmente, relacionadas ao manejo das pilhas ou baias. Na tabela a seguir estão destacados os principais entraves e as medidas de correção. Desta forma pode-se notar que a grande maioria dos problemas encontrados ao longo do processo de compostagem são de caráter técnico e que podem ser resolvidos com orientação tecnica adequada.

PROBLEMAS

CAUSAS

MEDIDAS DE CORREÇÃO

Temperatura

Falta de água na pilha

Corrigir a quantidade de água

não Aumenta

Deficiência na aeração

Usar materiais secos com porosidade maior

 

Excesso de material seco

Diminuir a camada de material seco

 

Cama-de-frango/dejeto muito seco

Corrigir a umidade da(o) cama-de-frango/dejeto

Cheiro forte

Excesso de água na pilha

Aumentar a quantidade de material seco

Carcaças expostas

Cobrir as carcaças expostas com material seco

Cama-de-frango/dejeto muito molhados

Abrir o local mais evidentemente úmido e colocar

Zonas de anaerobiose

material seco

Presença de moscas

Excesso de água

Colocar material seco nas partes úmidas que apresentem

 

larvas de moscas ou que estejam com pontos de umidade excessiva

 

Carcaças expostas

Cobrir as carcaças expostas com material seco

Animais oportunistas

Camada de material seco muito fina

Proteger o local dificultando a entrada desses animais

Carcaças expostas

Cobrir as carcaças expostas com material seco

Carcaças mumificadas

Falta de água

Retornar as carcaças mumificadas em novas pilhas ou

Falta de cama-de-frango/dejeto

baias e reiniciar o processo

Infiltração

Excesso de água

 

Carcaças sobrepostas

Colocar material seco nos locais de infiltração

Carcaças encostadas nas paredes laterais

e nas poças d’água, retirando o material

Camada inferior de material seco muito fina

com excesso de umidade da pilha

Pilha ou baia não coberta adequadamente

ou baia substituindo por material seco

Assim como em outros compostos orgânicos, o produto final gerado deve apresentar características benéficas ao solo e às plantas e estar livre de contaminação. Para isso, é recomendado o acompanhamento periódico com análises laboratoriais. Deve-se lembrar que o processo não termina antes que todos os vestígios de ossos e penas sejam eliminados pela decomposição, havendo assim a necessidade de um acompanhamento rigoroso durante todo o período de atividade.

Enfim, a compostagem pode ser definida como a mistura de arte e de ciência e, portanto, é necessário ajustar cada projeto usando tentativa e erro até que os resultados desejados sejam alcançados.

Por Karolina Von Zuben Augusto – doutoranda em Engenharia Agrícola na Unicamp (Feagri Unicamp) e assessora técnica em projetos de tratamento de dejetos e de aves mortas em granjas de frangos de corte e de postura comercial.