Por Karolina Von Zuben Augusto
Paralelo aos crescentes problemas provocados pela contaminação ambiental a partir dos dejetos produzidos pela suinocultura, estão os processos de tratamento e reciclagem utilizados para extrair destes resíduos um efluente seguro para fins de utilização ou disposição.
O risco ambiental depende principalmente do poder de impacto dos dejetos, que estão diretamente relacionados à sua composição; à proximidade da suinocultura dos cursos de água e de habitação humana; ao sistema de tratamento; ao zoneamento do terreno e à finalidade da disposição.
Dos processos de tratamento empregados, percebemos que estamos distantes de alcançar métodos que propiciem controle absoluto, que são imprescindíveis a fim de assegurar a não ocorrência de prejuízos irreparáveis, sob o ponto de vista do meio ambiente, mesmo em áreas com menor capacidade de impacto ambiental. O controle é definido em termos da tecnologia disponível, o que é determinado pelo nível de informação técnica sobre todos os aspectos envolvidos e pela condição econômica.
Entre as tecnologias de tratamento utilizadas em nosso país, o sistema de lagoas de estabilização continua sendo o mais comum. Suas vantagens abrangem custos baixos, tanto para instalação do projeto, quanto para operação e manutenção, além da simplicidade quando comparados aos sistemas mais tecnológicos.
Porém, podemos pensar em formas alternativas complementares de tratamento que irão minimizar o número de lagoas e reduzir a demanda total de área dentro de um balanço geral de eficiência.
Uma opção de processo complementar pouco difundido no Brasil e com ótimos resultados é o sistema de leitos artificiais cultivados (wetlands). Trata-se de tanques desenhados exclusivamente para tratamento de efluente através de plantas aquáticas específicas em remoção principalmente de DBO5, nitrogênio e fósforo, podendo utilizar meios suportes (pedras, areia e outros materiais inertes) ou não.
Os chineses provavelmente foram os primeiros a usarem as plantas macrófitas no tratamento de efluentes, mas, cientificamente, foi na Alemanha onde os leitos foram estudados em meados do século XX. Nos EUA, Canadá e em toda a Europa os leitos cultivados são empregados tanto para tratamento de efluente doméstico em grande escala quanto na agricultura de pequeno porte com grande sucesso. No entanto, no Brasil há grande resistência cultural para o seu emprego.
Os leitos agem como um filtro em processos físicos (sedimentação), biológicos (atividade microbiana), químicos (transformação de nutrientes) e bioquímicos (fotossíntese), reduzindo teores de sólidos, nitrogênio, fósforo, metais e microrganismos patogênicos. As plantas auxiliam na transferência de oxigênio, o que permite a digestão aeróbia de poluentes orgânicos e também servem como meio suporte para bactérias aeróbias e anaeróbias.
Há que se evoluir em termos de informação técnica, uma vez que pesquisas sobre o assunto ainda são escassas no Brasil. Também é necessária a atividade de técnicos que possam orientar os produtores quanto ao controle do processo, espécies de plantas cultivadas e de meio suporte, além da necessidade de poda periódica das plantas.
Apesar de já ser um assunto imensamente discutido e com diversas opções já adotadas, o tratamento de dejetos de suínos definitivamente, tem de passar por reavaliação em termos culturais e tecnológicos de maneira geral, para alavancarmos o uso de novas tecnologias.
No próximo mês acontecerá em São Pedro, SP, o III Simpósio Internacional sobre Gerenciamento de Resíduos Agropecuários e Agroindustriais, onde este e outros assuntos serão discutidos por pesquisadores, profissionais e empresas nacionais e internacionais. Acompanhe!