Quem trabalha ou acompanha a realidade econômica da suinocultura nos últimos 20 ou 30 anos tem vibrado ou lamentado com os distintos e dinâmicos momentos desta atividade. Atividade que tanto representa economicamente, socialmente e que muitas vezes tem se transformado na grande paixão ou frustração do agronegócio.
Sendo bastante realista, como produtor, sei que muitas vezes nossa boa lucratividade no suíno se dava à custa de quem plantava insumos, principalmente milho; com raras exceções. Não é à toa que a suinocultura e muitos suinocultores se mudaram para a região Centro-Oeste do Brasil. Não vamos se ingênuos. Por maior que seja a paixão pela atividade suinícola, mas não foi este motivo que transferiu grande parte da produção de suínos do grande pólo produtor (sul do Brasil) para esta região. O grande gargalo era e é o transporte, o milho na época era extremamente barato, o que, como a produção é em grande escala fez com que se inviabilizasse o nosso modelo de pequena propriedade produtora de grãos.
Hoje, depois de muito tempo, equilibram se os papéis: produtor de grãos sendo bem rentabilizado e o produtor de suínos conseguindo pagar os custos – embora elevados e tendo margem de lucro, não esquecendo é claro do déficit dos últimos anos – mas vive se um bom “momento”.
Aí surgem algumas dúvidas e interrogações: até onde o consumidor brasileiro consegue absorver estes valores? Em um cenário de assistencialismo, alimento de graça para muita gente, pessoas pagam por isso.
À custa desta reação de preços, aproveitando o embalo vem o aumento do combustível e derivado, fundamental para a produção e transportes dos mesmos. Não duvidando da competência e potencial dos criadores e criatórios das regiões até então produtoras de grãos, com estas altas, a grande dificuldade, qualificação e dedicação necessária para a produção de suínos como assegurar a continuidade da atividade nestas regiões?
Os três estados do Sul conhecidos como regiões coronéis na produção de suínos, que tinham como principal gargalo a destinação ou tratamento dos dejetos e que hoje com as tecnologias existentes deixaram de ser problema, temos aqui o maior complexo agroindustrial do País com grandes e pequenas indústrias, vários e competentes níveis de produtor, história, vocação e tradição na produção de suínos e com uma pequena desvantagem no custo do alimento se coloca novamente como grande alternativa em produzir proteínas de origem animal, levando em consideração o descaso do governo na construção da ferrovia norte/sul.
Wolmir de Souza, presidente do Instituto Nacional da Carne Suína (Incs)