Quando paramos para calcular a quantidade de ração que passa pelo comedouro por ano, começamos a observar que a qualidade do comedouro é um ponto crítico na produção de suínos. Em uma granja de terminação com 1200 animais, 48 baias e 24 comedouros, passam 42 toneladas de ração por comedouro por ano, totalizando, neste exemplo, 1000 toneladas de ração por ano. Portanto, R$25.000 em ração passam por cada comedouro na terminação por ano e mais de R$600.000 passam pela granja de terminação por ano. Se pensarmos que um comedouro irá durar 10 anos, e que irão passar, por exemplo, mais de R$250.000 em ração neste período, o investimento em um comedouro de altíssima qualidade, com menos de 2.5% de desperdício de ração e ótimo desenho irá se pagar facilmente e trará grandes retornos financeiros.
Pesquisas sugerem que o desperdício de ração pode ser de 2 a 11%, de acordo com o desenho do comedouro automático. O desenho do comedouro influenciará como a ração será apresentada para os animais, o espaço permitido para o suíno consumir a ração, o tamanho do compartimento de armazenamento da ração e a capacidade de regulagem acurada da quantidade de ração que estará disponível na panela do comedouro. Do ponto de vista prático de mão de obra sobre a qualidade do comedouro, comedouros de baixa qualidade irão exigir de 4 a 6 regulagens por dia para manter a quantidade adequada de ração na panela do comedouro, enquanto comedouros de alta qualidade irão exigir, no máximo, uma regulagem por dia. O material com que a panela, compartimento de reserva e outras peças dos comedouros devem ser de aço inoxidável, para aumentar a vida útil e confiabilidade dos mesmos. Fotos dos desenhos de comedouros e seus respectivos percentuais de desperdício de ração podem ser encontradas neste link: www.suinocast.com.br/comedouros.pdf.
Um ponto essencial é que existam divisórias sólidas entre os espaços dos comedouros para diminuir a disputa dos suínos por ração e, por consequência, diminuir o desperdício. Este fato faz com que os leitões alimentem-se em um ângulo de 90 graus em relação ao cocho, diminuindo disputa e liberando acesso das bocas do comedouro para os demais suínos da baia. Além disso, é interessante que as bocas dos comedouros tenham uma ligação entre elas na base do comedouro, permitindo que a ração liberada pelo compartimento de reserva seja distribuída igualmente entre as bocas do comedouro.
Nos últimos 25 anos, o peso vivo do suíno abatido apresentou uma tendência linear, aumentando 630 gramas por ano. No momento do investimento ou na construção de novas instalações, deve-se considerar este dado histórico, prevendo um peso de abate cerca de 6 kg mais pesado em uma década, período durável de comedouros e instalações. Consequentemente, aumenta o espaço que um suíno de terminação ocupa. Obviamente, a largura dos suínos de terminação aumenta. Em comedouros automáticos retangulares, são recomendados 35 cm de espaço de cada boca do comedouro para peso de abate médio de 125 kg. Baseado nas estimativas, daqui a 10 anos, com peso de abate médio de 131 kg, recomenda-se 36 cm de espaço de cada boca do comedouro. Para evitar que os animais pisem dentro do comedouro, recomenda-se que a altura da boca seja de 10 cm. A panela da base do comedouro deve ter um comprimento entre 20 e 30 cm para garantir que leitões pequenos e grandes tenham acesso adequado ao comedouro.
Como são poucas as pesquisas realizadas comparando desenhos de comedouros automáticos, ainda há uma escassez de informação transmitida ao suinocultor para tomada de decisão a níveis de investimento. Com as margens da suinocultura sempre desafiadoras e a necessidade constante de otimizar o uso do capital, é imprescindível estarmos cientes que precisamos melhorar, e muito, o desenho dos comedouros automáticos no Brasil, com o objetivo de diminuir o desperdício de ração.
Como mais de 250.000 reais em ração passam por um comedouro durante sua vida útil, o mercado brasileiro está demandando comedouros feitos com materiais de melhor qualidade, com desenho adaptado as necessidades de redução de desperdício e com maior vida útil.
Márcio Gonçalves, formado em Medicina Veterinária pela UFRGS, é fundador do SuinoCast – Educação continuada em Suinocultura. Trabalhou com produção de suínos nos Estados Unidos e no Brasil. Atualmente, é assistente de pesquisa e realiza seu PhD em nutrição aplicada de suínos pela Kansas State University (EUA).
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