Essa carne é conhecida como halal, pois segue os princípios do Islã tanto na produção quanto no abate. Em árabe, a palavra significa legal, permitido. Os muçulmanos só podem consumir alimentos que foram produzidos seguindo esse ritual islâmico.
De janeiro a setembro de 2018, a cada 100 quilos de carne de frango exportados pelo Brasil, 49 foram para países islâmicos, sendo a Arábia Saudita o principal destino, respondendo por 14% das vendas.
“O mundo islâmico é o principal destino para nós avicultores. Fazemos exportações para lá há mais de 30 anos”, relata Francisco Turra, presidente da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA). “As dificuldades são as menores possíveis, e o mercado tem crescido de forma gradual, mas constante”, acrescenta.
As exigências do Islã
Em um frigorífico em Pato Branco, Sudoeste do Paraná, toda a produção segue as normas do Alcorão sagrado. Para obter a certificação, é preciso cumprir exigências em toda a cadeia produtiva, desde o bem-estar animal das matrizes que põem ovos, dos pintinhos e do frango de corte até os rituais religiosos.
Dos mil funcionários do frigorífico, 15 são muçulmanos treinados para o abate halal. São os chamados sangradores, que trabalham em um ambiente escuro para não agitar as aves.
“Os requisitos mais importantes são verificar e se certificar de que as aves estejam vivas, apresentando sinais vitais, e fazer a degola da forma que o Islã determina”, explica Mourad el Moutaqi, supervisor do abate halal da unidade.
“Uma das exigências é que os sangradores sejam muçulmanos praticantes. A segunda é fazer a degola cortando as jugulares, as veias e artérias, para realizar o sangramento correto da ave, escoando o sangue para que o alimento seja próprio para a consumação”, completa.
Os sangradores muçulmanos devem seguir à risca a religião. Por isso, têm uma sala no frigorífico para fazer as orações do dia.
“Cinco vezes por dia, temos que fazer as nossas orações. A oração é importante em nossas vidas”, diz o sangrador Abdellah Chakiri, que veio do Marrocos.
O brasileiro Jorge José Camargo se converteu ao islamismo há 25 anos e chegou a morar na Arábia Saudita. Ele também é um dos habilitados a trabalhar como sangrador.
“O meu trabalho é um trabalho religioso. Nós, sangradores islâmicos, sacrificamos o frango mencionando o nome de Allah, o nome de Deus. ‘Bismilah, Allaho Akbar’, significa ‘em nome de Deus, Deus é grandioso'”, explica.
Outra exigência é que, na hora da sangria, os frangos estejam com o peito virado para a Meca, na Arábia Saudita, a cidade sagrada dos muçulmanos. Para isso, a indústria teve que construir uma nova calha de sangria.
O frigorífico abate 130 mil frangos por dia. Metade da produção vai para o Oriente Médio, e a outra metade se divide entre mercado interno e outros países da Europa e Ásia. O Brasil é o maior exportador de frango halal do mundo.