O mais novo livro de Vaclav Smil, ‘How the World Really Works: The Science Behind How We Got Here and Where We’re Going’ (Como o mundo funciona de verdade: a ciência por trás de como chegamos aqui e para onde estamos indo, em tradução livre) revela que a maioria dos habitantes desse planeta sabe pouco, ou muito pouco, sobre a energia e seus fundamentos na economia global.
Smil pretende corrigir isso (concentrando-se em materiais em vez de fluxos eletrônicos de dados como a base da vida moderna) em grande parte examinando o que ele chama de quatro pilares da civilização moderna: cimento, aço, plástico e amônia. (A produção e o uso de todos os quatro atualmente exigem a queima de grandes quantidades de carbono fóssil.)
No contexto do livro de Smil, que será lançado em 10 de maio nos Estados Unidos, a expressão também é uma crítica aos que pedem uma descarbonização rápida para combater o aquecimento global.
— Não estou falando a respeito do que poderia ser feito. Estou analisando o mundo como ele é — disse Smil, 78 anos, ao diário norte-americano The New York Times (NYT) e que conta com Bill Gates entre seus vários devotos.
Carbono fóssil
Um dos principais argumentos na nova obra é que, para ter uma discussão séria sobre uma transição energética que nos faça deixar de lado a queima do carbono fóssil, precisamos de um reconhecimento mútuo das realidades materiais do mundo. Ou seja, um reconhecimento de que nosso modo de vida atual depende da queima desse carbono fóssil.
— A coisa mais importante a se entender é a escala. Uma transição energética afetando um país de um milhão de pessoas é muito diferente de uma transição que afeta uma nação de mais de um bilhão. Uma coisa é investir alguns bilhões de dólares, outra é encontrar um trilhão. É aqui que estamos em termos de civilização global: essa transição precisa acontecer em escalas de um bilhão e trilhões — disse Smil.
De acordo com o cientista, “de acordo com a COP-26, devemos reduzir nossas emissões de dióxido de carbono em 45% até 2030 em comparação com os níveis de 2010. Isso é impossível porque faltam apenas oito anos e as emissões continuam aumentando. As pessoas não compreendem a magnitude da missão e estão estabelecendo prazos falsos que não são realistas. Agora, respondendo à sua pergunta, se você supõe que o dióxido de carbono é o nosso pior problema, é claro que devemos descarbonizar totalmente”.
Inatingível
— Mas as pessoas dizem que até 2050 – elas chamam isso de emissões “líquidas” de carbono. O Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês) não diz zerar, mas “zerar as emissões líquidas”. Deixando esse atenuante – ainda estaremos emitindo um bilhão, cinco bilhões, dez bilhões de toneladas de CO2, mas cuidando disso com o sequestro de carbono. É realista que estaremos retirando o CO2 tão rapidamente em tal escala? As pessoas lançam esses prazos sem qualquer reflexão quanto a escala e a complexidade do problema. Descarbonização até 2030? Sério? — questiona.
Smil não vê qualquer sentido em impor uma meta inatingível para a questão.
— Qual é o sentido de definir metas que não podem ser alcançadas? As pessoas chamam isso de ambição. Eu chamo de delírio. Estamos seguindo em frente com mais SUVs, construindo casas maiores, e queremos inventar novas técnicas para produzir mais aço. Mas será que precisamos de tudo isso cada vez mais? Não sou contra estipular uma meta. Sou a favor de metas realistas. Não vou ceder em relação a isso. É ilusório e não serve para nada porque não vamos alcançá-la, e depois as pessoas dizem: de que adianta? Sou a favor de metas, mas também de ser absolutamente realista ao defini-las — concluiu.