As maiores empresas mundiais do ramo energético estão discretamente planejando grandes projetos de exploração de petróleo e gás natural que ameaçam o cumprimento das metas definidas pelo Acordo de Paris, gerando consequências trágicas para a vida no planeta.
A investigação, do jornal britânico The Guardian, revela que os atuais projetos destas empresas produziriam um volume de gases com efeito de estufa equivalente a uma década de emissões de dióxido de carbono da China, o maior poluidor mundial.
Os dados a que a publicação tem acesso permitem também estimar que estas companhias planejam gastar cerca de 97 milhões de euros por dia durante a próxima década na exploração de novos poços de petróleo e gás natural.
Apelidados pelos cientistas “bombas de carbono”, por serem capazes de emitir mil milhões de toneladas de dióxido de carbono durante a sua atividade, alguns destes projetos foram aprovados pelos governos nacionais imediatamente após os compromissos alcançados no ano passado na COP26, a cimeira do clima realizada em Glasgow.
O estudo a que o Guardian teve acesso, liderado por Kjell Kuhne, investigador da Universidade de Leeds, identificou 195 destas “bombas” um pouco por todo o mundo, incluindo na região moçambicana de Cabo Delgado.
Daniel Ribeiro, da associação Justiça Ambiental, que luta há mais de uma década contra a construção de um gasoduto e de uma exploração de gás natural nesta província, lamenta o rumo tomado.
“Já está a criar uma enorme disrupção para a pesca local e para os agricultores de subsistência, que estão a ser ‘corridos’ das suas terras. Se o projeto vai para a frente e países como Moçambique entrarem no caminho dos combustíveis fósseis, será um desastre global. Podemos esquecer o combate à crise climática… vamos todos sofrer”, diz Daniel Ribeiro ao jornal britânico.
Este projeto em particular, localizado num dos países mais vulneráveis às alterações climáticas, é apoiado em mais de 1.100 milhões de euros pelo governo do Reino Unido.
De acordo com o estudo, são o mesmo os governos nacionais os mais interessados em levar estes planos avante. As três empresas que mais dinheiro investiram nestes projetos são todas estatais: Qatar Energy, Gazprom e Aramco. Do top 10 constam também as grandes petrolíferas ocidentais, como a Exxon Mobil, a Total, a BP e a Shell.
O The Guardian indica, contudo, que os governos mundiais podem reverter este curso e assegurar que estes investimentos falham, através da introdução de políticas que permitam reduzir a dependência dos combustíveis fósseis e as emissões de gases com efeito de estufa. No entanto, o panorama atual, em que a invasão russa da Ucrânia fez disparar os preços dos combustíveis, abre o apetite destas empresas a novos investimentos ruinosos para o ambiente.