O atraso do início do período úmido e o aumento das temperaturas devem levar a um aumento generalizado do custo de energia no país, mesmo sem haver risco de abastecimento. A Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) deve divulgar hoje o acionamento da bandeira tarifária vermelha, e há chances de que seja no patamar 2, com acréscimo de R$ 3,50 a cada 100 kilowatts-hora (KWh) consumidos. Se o cenário se confirmar, será a primeira vez que ela será acionada.
A falta de chuvas afeta também os consumidores de outra forma. Com os níveis dos reservatórios em baixa, as hidrelétricas são cada vez mais substituídas por outras fontes de energia, o que aumenta o déficit hídrico (medido pelo fator GSF, na sigla em inglês). Ao mesmo tempo, o preço de energia no mercado à vista (PLD) tem se mantido no teto de R$ 533,82/MWh.
A Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE) prevê que o GSF custará R$ 40,8 bilhões ao país neste ano. A conta considera o PLD médio projetado para o ano – R$ 345/MWh – e o déficit hídrico médio de 30,1%. Desse montante, R$ 27,5 bilhões correspondem ao custo nos contratos do mercado regulado de energia (das distribuidoras), e R$ 13,3 bilhões ao dos contratos no mercado livre.
Parte do prejuízo do GSF vai para as empresas geradoras, que estão expostas ao mercado livre, ou precisam vender menos energia para se proteger. Outra parcela vai para os consumidores, que bancam o GSF de toda a energia em regime de cotas (custo que pode chegar a R$ 1 bilhão por mês) e também o dos geradores do mercado regulado que aderiram ao “seguro” criado pelo governo.
Projeções divulgadas ontem pelo Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) apontam que as chuvas devem ficar em 79% da média histórica em outubro na região Sudeste. No Nordeste, a situação continua sendo mais grave, com previsão que as chuvas cheguem a 31% da média.
O patamar da bandeira só será conhecido hoje, quando será publicado pela Aneel. Especialistas ouvidos pelo Valor concordam que a bandeira será vermelha, mas não é possível saber com exatidão qual o patamar. Para Gustavo Arfux, sócio-diretor do grupo Compass, há 70% de probabilidade de a bandeira vermelha para outubro ficar no segundo patamar (mais caro). Segundo ele, há chuva prevista para a próxima semana, mas não em volume suficiente para reverter o quadro atual.
Lucas Rodrigues, analista de mercado da Safira Energia, também vê grandes chances de bandeira vermelha no patamar mais caro. “A situação das chuvas está crítica e sem dado de melhoria.”
Segundo Cristopher Vlavianos, presidente da comercializadora Comerc, os dados divulgados até o momento indicam que o preço ficará em R$ 680/MWh. A bandeira vermelha patamar 2 é acionada sempre que a última usina a ser despachada tem custo de geração superior a R$ 610/MWh. O patamar 1 da vermelha, que acrescenta R$ 3 a cada 100 KWh consumidos, é acionado quando o custo fica entre R$ 422,56/MWh e R$ 610/MWh. A bandeira tarifária vigente é a amarela, que acrescenta R$ 2 a cada 100 KWh consumidos.