Na plateia, grandes agricultores do interior do País e estudantes universitários, vários de agronomia. No palco, dois dos principais céticos da mudança climática contando como o jogo virou -para o lado deles.
Esse cenário insólito foi armado ontem em São Paulo, no Fórum Internacional de Estudos Estratégicos para Desenvolvimento Agropecuário e Respeito ao Clima, promovido pela CNA (Confederação da Agricultura e da Pecuária do Brasil), maior organização em defesa dos interesses dos produtores rurais no País.
O evento começou na noite de domingo, quando o vice-presidente da CNA, Assuero Veronez (representando sua presidente, a senadora Kátia Abreu, que está doente) alertou para que não se cometesse “o erro” de limitar a expansão da agropecuária no Brasil em nome do ambiente “sem as devidas convicções científicas”.
Ontem a manhã foi do estatístico dinamarquês Bjorn Lomborg e do climatologista americano Pat Michaels. A dupla esteve em São Paulo há exatos dois anos, num contexto diferente: após o relatório de 2007 do IPCC e antes do fiasco de Copenhague, quando o público apoiava a ciência do clima.
Michaels lembrou o crescente número de americanos que dizem achar que as preocupações com o aquecimento global são exageradas. “Você não pode assustar as pessoas para sempre”, comentou Lomborg.
Inquirido sobre se os resultados recentes das pesquisas eram uma vitória, ele disse que se tratavam de “uma demonstração de abertura ao diálogo”.
Lomborg disse à Folha que está com a agenda cheia para dar palestras mundo afora. “A receptividade mudou muito.”
Os dois céticos não negam que o planeta possa estar esquentando. Mas falam que não é possível afirmar com convicção que os humanos são responsáveis por isso, e que, mesmo que sejam, a ideia de cortar imediatamente emissões de CO2 não passa de histeria.
Michaels reafirmou sua posição de que os governos não deveriam gastar dinheiro contra o aquecimento global. “O mercado fará pressão para o desenvolvimento de novas tecnologias mais limpas.”
“É, de certa forma, como se você estivesse no Titanic afundando, soubesse disso, e achasse que o melhor é não fazer muita coisa”, disse à Folha o físico Luiz Pinguelli Rosa, diretor da Coppe-UFRJ, que também participou do evento.
Michaels, na sua apresentação, mostrou aos agricultores emails roubados de climatologistas da Universidade de East Anglia. Um deles, do americano Ben Santer, dizendo que, se encontrasse Michaels, ficaria “tentado a bater” nele.
Em comum entre céticos e não-céticos, só o pessimismo sobre a cúpula do clima de Cancún, no fim do ano. “Não acontecerá muita coisa”, diz Michaels. Até lá, um filme com Lomborg, baseado em seu livro “Cool It”, resposta a “Uma Verdade Inconveniente” de Al Gore , já terá sido lançado. “O produtor é Ralph Winter, que ajudou a produzir “X-Men”, diz.