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Meio Ambiente

Fórum sobre mudanças climáticas

<p>Na quarta-feira (02/12) foi realizado em São Paulo o 17º Fórum da Abag. Tema foi "Copenhague e o Agronegócio Brasileiro".</p>

Na quarta-feira (02/12) foi realizado em São Paulo, o 17º Fórum da Associação Brasileira de Agribusiness (Abag), com o Tema: Copenhague e o Agronegócio Brasileiro.

O Governo Brasileiro estabeleceu metas de 36 a 39% na redução de emissões de carbono até 2020. Os Estados Unidos e a China, que juntos são responsáveis por mais de 40% das emissões mundiais, não definiram metas de redução de suas emissões, a menos de duas semanas da COP-15.

A COP-15 é tema recorrente na pauta de discussões entre ambientalistas, cientistas e governantes de todo o mundo, mas alguns paradigmas precisam ser desfeitos, como é o caso da agricultura, associada à imagem de vilã no que diz respeito às mudanças climáticas. “Ao lançarmos a Aliança Brasileira pelo Clima, em setembro passado, definimos como uma das principais demandas as metas de redução do desmatamento, que figura no Plano Nacional sobre Mudança do Clima. Obviamente que temos muitos desafios, mas iniciativas não faltam para garantir a sustentabilidade no agronegócio”, diz Carlo Lovatelli, presidente da ABAG.

O encontro teve como objetivo debater as principais ameaças e oportunidades para o Brasil na 15ª Conferência das Partes (COP-15) da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças do Clima, de 7 a 18 de dezembro em Copenhague, na Dinamarca.

Para debater todas as questões que envolvem clima foram convidados Marcos Sawaya Jank, presidente da Unica – União das Indústrias de Cana-de-açúcar, Paulo Moutinho do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia – IPAM e Carlos Clemente Cerri, professor do Centro de Energia Nuclear na Agricultura – USP.

O BeefPoint participou do reunião e transmitiu os assuntos discutidos através do Twitter, confira o resumo do que foi apresentado:

Carlos Clemente Cerri que é ganhador do Prêmio Trieste de Ciência 2009 com estudos de emissão de gases-estufa no Brasil e é também pioneiro em estudos da interação da agricultura com as mudanças climáticas, diz que irá apresentar no Fórum as opões de mitigação dos gases de efeito estufa na agricultura e na pecuária. “Nos estudos identificamos que com melhores práticas agrícolas é possível alcançar resultados favoráveis para o agronegócio brasileiro”.

Ele inicia sua apresentação falando dos principais gases do efeito estufa ressaltando que precisamos diminuir essas emissões deles para evitar problemas ligados ao meio ambiente e às mudanças climáticas. Segundo Cerri, os principais GEE são gás carbônico (CO2), metano (CH4) e óxido nitroso (N2O), “precisamos nos preocupar com todos esses gases, mas usamos o CO2 como referencia”.

Energia, processos industriais, uso de solventes, agropecuária, mudanças no uso da terra e florestas e tratamento de resíduos, foram os setores listados pelo Inventário brasileiro de emissões antrópicas, como as principais fontes de emissões de gases de efeito estufa (GEE) Segundo Cerri, cada um desses setores tem inúmeras subdivisões e isso dificulta o inventário das emissões de um país, por isso é tão difícil conseguir contabilizar o que está sendo realmente emitido. A agropecuária, por exemplo pode ser dividida em queima de resíduos, fermentação entérica, manejo de dejetos, manejo de solos agrícolas, entre outras subdivisões.

“Na agropecuária a questão é ainda mais delicada, pois existe absorção de CO2, pelas pastagens. Assim é injusto não considerar emissão líquida”, completa o palestrante informando que seu grupo de estudos está contabilizando todas essas emissões, mas também o que está sendo absorvido, para chegar ao número real.

No ranking das emissões do Brasil temos em 1º lugar as queimadas, em 2º o uso de combustíveis fósseis, seguidos da fermentação entérica (bovinos) e o uso do solo.

Para Cerri, o uso de energia limpa no Brasil reduz as emissões e dá uma grande vantagem ao país, “assim se focarmos na redução do desmatamento e em melhoria nas técnicas utilizadas na agricultura, o Brasil estará muito bem posicionando em relação aos outros países, quando o assunto é emissão de GEE”. “Trabalhando os outros pontos, fermentação entérica e uso de fertilizantes, o Brasil sai da posição de destaque em relação as emissões”.

Isso pode ser feito com uso de novas tecnologias na agropecuária e o agronegócio tem grande potencial para ajudar o país a cumprir as metas projetadas pelo Governo brasileiro, comentou o pesquisador da USP. “As opções para a pecuária são: melhorar o manejo de pastagens, usar o confinamento para terminação de animais – reduzindo o ciclo de produção e as áreas necessárias para a produção de carne – e difundir práticas de Integração Lavoura-Pecuária (ILP)”.

Ele também citou o plantio direto, produção de biocombustíveis e reflorestamento como boas alternativas para reduzir as emissões e além de terem grande importância na fixação de CO2.

“Com uso de tecnologia, o agronegócio pode reduzir de 1,5 a 3 bilhões de toneladas de CO2 até 2020. Assim, o potencial do agronegócio para reduzir emissões é enorme, o que precisamos é trabalhar direito para implantar essas tecnologias corretamente e da forma mais rápida possível”, alerta Cerri.

Pensando na expansão da produção de alimentos no Brasil, o palestra completa, “precisamos de 10 a 20 milhões de ha nos próximos 10 anos para atender o crescimento do agronegócio. A melhor alternativa é que essa área venha das pastagens e para isso é preciso intensificar a pecuária e evitar o desmatamento. E isso é claramente possível e não podemos ter medo de investir em tecnologia para atingir as metas nos estão sendo impostas”.

Paulo Moutinho, do IPAM, começa sua apresentação (e é aplaudido pela platéia) afirmando que “o Brasil é o único país do mundo que tem potencial para reduzir suas emissões e ainda assim continuar produzindo enorme quantidade alimentos. Com essa postura podemos ir muito otimistas para Copenhague e devemos cobrar nosso reconhecimento”.

“A COP vai ser um furacão, onde teremos a opção de mudar o que está acontecendo em relação as mudanças climáticas ou perder a chance como em Kyoto. A maior parte da emissão de GEE até agora foi feita pelos países em desenvolvimento e eles devem ser os primeiros a se comprometer com a redução”, alfinetou Moutinho.

Para o representante do IPAM as COPs sempre foram uma jogada para saber quem vai “pagar a conta”. “Espero que isso mude, e consigamos chegar a um acordo justo e viável”.

Segundo ele, a emissão de GEE é sim uma questão econômica, pois cada ano que adiamos o esforço para reduzi-la maior será o gasto para corrigir o rumo e realmente diminuir seus efeitos sobre as mudanças climáticas e apresentou dados que apontam perdas que podem ir de R$ 719 bilhões a R$ 3,6 trilhões até 2050 se nada for feito para alterar a situação atual.

Moutinho concorda que o grande problema é o desmatamento, mas lembra que também devemos alardear o que está sendo feito para contê-lo como nossas áreas de conservação, a legisção ambiental brasileira e a redução nas derrubadas.

“Existem muitas frentes onde o Brasil pode atuar para reduzir as emissões, mas o mais fácil e com reflexos de curto é a redução no desmatamento e para seguirmos com as ações para reduzir o desmatamento e manter a floresta precisamos ser recompensados de alguma maneira”, ressalta.

O palestrante afirmou que pressões externas e outros setores influenciam o aumento do desmatamento. “Petróleo em alta causou aumento da alta demanda por etanol, promovendo uma maior da demanda de grãos (já que nos EUA o etanol é produzido com milho, consequentemente assistimos uma alta de preços das commodities, pressionando o aumento das áreas destinadas a agricultura e o aumento do desmatamento”.

Para Moutinho a redução no desmatamento da Amazônia que estamos observando é com certeza reflexo da crise mundial. Mas ele lembra que não podemos desconsiderar a grande influência de ações concretas contra o desmatamento, como a Moratória da soja, pressões do Governo, implantação de novas áreas de conservação e preparação para a COP-15 também ajudam e devem ser reconhecidas.

O representante do IPAM ressaltou que o REDD precisa ter um sistema de negociação e ser encarado como uma alternativa de negócio. “Se isso não acontecer o REDD será insustentável, ninguém vai doar dinheiro para o Brasil em troca de nada”, completou.

Ele lembra que temos um enorme tesouro na mão com grande potencial de trazer desenvolvimento para o Brasil. “A Amazônia pode se tornar o “Pré-Sal Verde” do futuro, gerando imensos recursos ao país. Essa é uma das razões para mantê-la”.

Moutinho enfatiza que intensificação e compensação aos produtores são os caminho mais interessantes no momento, para lutar contra o desmatamento e reduzir as emissões de GEE. Estudos mostram que no Brasil o custo para reduzir as emissões é muito baixo e tem uma importância muito grande para o mundo. “Assim podemos aplicar ações de preservação baratas e conseguir um valor muito alto por essa compensação (REDD), inclusive gerando lucros ao agronegócio”.

“Para ter noção disso é só olhar que o mercado de CO2 no mundo movimentou em 2008 US$ 128 bilhões, e o Brasil tem grande potencial nesse mercado”.

Pensando nesse ganhos ele afirma que as metas de redução que os Estados estão assumindo são importantes, “mas precisamos juntar tudo em um lugar e criar um mecanismo que as integre. Só assim conseguiremos organizar o que está sendo feito no país e distribuir o capital que será conseguido com REDD”.

Moutinho fala da Aliança da Terra, destacando como uma iniciativa importante e apoiada por grandes institutos de pesquisa, empresas e bancos. “A preservação feita pelos pecuaristas da Aliança da Terra é muito bem vista pelo mercado.

Moutinho finaliza dizendo que apesar de otimista, o cenário da COP-15 não é ideal e demonstra fraquezas, com propostas pouco consistentes e pontos discordantes.

Ao final encontro, Rodrigo Lima, gerente geral do ICONE, apresenta um pouco do que vem sendo discutido sobre mudanças climáticas nas conferências da ONU e concorda que o cenário não é o ideal, mas comenta que se chegarmos a um meio termo será um grande avanço. “A 1ª semana da COP-15 será de apresentação dos dados e metas dos países e a 2ª terá cunho mais político”. Ele aposta que os Governos devem avançar nas negociações para chegarem a um meio termo, adiando a decisão final para 2010. “Se isso realmente acontecer estará de bom tamanho”, conclui Lima.

Autor: André Camargo, Analista de Mercado do BeefPoint

*Este artigo foi elaborado pela equipe BeefPoint, e originalmente publicado na sessão Giro do Boi, do Portal BeefPoint. Este texto poderá ser reproduzido integralmente, desde que a fonte seja citada.