A correta destinação de dejetos em granjas de suínos e a geração de energia são dois desafios que ganharam uma nova proposta para serem vencidos. A Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, por meio de sua Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (Apta), está desenvolvendo modelo piloto de tratamento para utilizar os dejetos do rebanho paulista de suínos para produzir energia elétrica, composto orgânico e fertilizante líquido. A ideia será usada para construir a norma paulista de tratamento e uso de dejetos de suínos e o modelo de licenciamento ambiental da atividade.
No projeto desenvolvido pela pesquisadora Edna Ivani Bertoncini, da Apta Polo Centro Sul, de Piracicaba, o objetivo é resolver o problema da destinação de dejetos, de reciclagem dos seus elementos químicos e ao mesmo tempo gerar emprego e renda na Bacia do PCJ (Piracicaba, Capivari e Jundiaí). Isso torna a suinocultura uma atividade sustentável por meio da redução de sua emissão de gases de efeito estufa e preservação da qualidade do solo, das águas subterrâneas e superficiais.
Para o secretário de Agricultura, Arnaldo Jardim, a busca por medidas inteligentes para unir produção e preservação do meio ambiente vai diretamente ao encontro às recomendações do governador Geraldo Alckmin. “O governador sempre nos incentiva a buscar alternativas para aumentar a produtividade agropecuária paulista, ao mesmo tempo em que preservamos a natureza. Este projeto mostra a preocupação da Secretaria com o meio ambiente, sem deixar de lado a geração de renda para o produtor”, pontuou Arnaldo Jardim.
A primeira fase do processo é a separação dos sólidos suspensos presentes no dejeto bruto por meio de peneiramento, e sua principal finalidade é aumentar a eficiência da fase seguinte, que é a digestão anaeróbia, que gerará o biogás. Esse material sólido, constituído de 6% do volume do dejeto gerado, é encaminhado para pátio de compostagem. O efluente separado na peneira é encaminhado para tanque de homogeneização, e posteriormente ao biodigestor anaeróbio.
O projeto testa dois tipos de biodigestores anaeróbios, um de lona, destinado aos médios e grandes produtores, e outro com recheio de bambu, de baixo custo de construção, destinado aos pequenos produtores. O biogás liberado nestes biodigestores pode ser utilizado diretamente nas atividades da granja, como no aquecimento de leitões na maternidade, aquecimento de água, ou utilizado para geração de energia elétrica.
A produção de biogás estimada para o rebanho de suínos paulista seria em torno de 270 mil metros cúbicos de biogás ou 120 mil kwh/dia de energia elétrica. Após o processo de biodigestão, o efluente tratado poderá ser utilizado diretamente no reuso agrícola, ou seja, na irrigação de culturas, ou seguirá processos de tratamento aeróbio, e físico-químico, gerando um efluente de melhor qualidade que poderá ser reutilizado na lavagem das baías após processo de desinfecção, despejado em mananciais ou utilizado na irrigação.
Renda e energia
Com um rebanho suíno de cerca de 900 mil animais, sendo 90 mil matrizes, o Estado de São Paulo tem um grande potencial de geração de energia por meio dos dejetos, mas o projeto da Apta vai além e prevê ainda ganhos financeiros para o produtor que investir na ideia. Isso porque o composto que pode ser comercializado, já produzido por empresas privadas, é extremamente recomendado para adubação de lavouras, e a procura pelo produto é grande.
Edna garante que o processo para gerar o composto dá bons resultados, mas aponta a desconfiança do suinocultor frente à novidade como principal obstáculo a ser transposto. “Mas alguns já aceitaram o trabalho e vão falando um para o outro que funciona. Assim teremos mais pessoas querendo conhecer esse sistema de tratamento”, contou Edna, lembrando ainda que dependendo da época do ano, o suinocultor não tem muito lucro.
A venda desse composto é uma alternativa para completar a renda mensal do produtor, ao mesmo tempo em que o mantém longe de multas ou até de um fechamento definitivo de sua granja. A pesquisadora da Apta revela que uma similar fabricação do produto já é feita por algumas empresas paulistas, que, levados pelos bons lucros, inverteram sua lógica de produção e atualmente apostam mais na fabricação do composto do que na suinocultura em si.
Edna explica que toda a tecnologia desenvolvida no novo sistema será transferida ao maior interessado nela, o produtor, por meio da realização de dias de campo.
Necessidade
Edna Ivani conta que a ideia surgiu há cerca de cinco anos, quando a má destinação dos dejetos suínos, contaminando o solo ao redor, estava motivando uma série de multas às granjas, além da ameaça de fechamento delas – culminando em um enorme prejuízo econômico para o setor. Além disso, a Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental (Cetesb), ligada à Secretaria do Meio Ambiente do governo paulista, cobrava uma solução para o problema para não ser obrigada a fechar todas as granjas.
“A saída era montar estações de tratamento desses dejetos, mas o suinocultor já vive no vermelho, é necessário investimento”, revelou Edna, lembrando que existem digestores de lona, mas eles não funcionam bem porque o gás queimado neles vai para a atmosfera. Para começar a colocar em prática sua ideia, ela escolheu a Granja Tanquinho, que já tinha recebido aviso da Cetesb, para montar o projeto. Uma parceria com o Fundo Estadual de Recursos Hídricos (Fehidro) garantiu recursos para a iniciativa.
O próximo passo será contratar uma empresa para montar a estação de tratamento com todas as suas etapas em funcionamento. Será feito também um levantamento com 40 granjas paulistas com questionário e coleta de amostras para caracterizar o material a ser tratado, que pode variar de um plantel para outro. Com a estação em funcionamento, a expectativa é que a Cetesb adote o novo sistema como regra para todo o Estado.