O presidente Luiz Inácio Lula da Silva descartou ontem um compromisso do Brasil com o desmatamento zero. A declaração foi feita na Suécia durante a Terceira Cúpula União Europeia-Brasil, em Estocolmo, em resposta a reivindicações de organizações não-governamentais que têm a defesa do clima como bandeira. O presidente garantiu, no entanto, o compromisso de reduzir o desmatamento em 70% até 2017 e em 80% até 2020.
“Nem se o Brasil fosse careca conseguiria desmatamento zero. Sempre terá alguém cortando alguma coisa”, disse. Na chegada do presidente ao Palácio Rosenbad, que sediou o encontro, meia dúzia de manifestantes do Greenpeace exibiram faixas pedindo que o presidente vá a Copenhague e “salve o clima”. “Lula, você levou as Olimpíadas. Agora, salve o clima”, dizia uma delas. O protesto foi pacífico e o presidente chegou a acenar para os manifestantes.
Aproveitando-se da imagem que o Brasil vem consolidando de liderança que pode inspirar outros países em desenvolvimento a se comprometerem mais com as negociações sobre o clima, o presidente voltou a cobrar um compromisso maior das nações ricas para um acordo que será definido em dezembro, em Copenhague.
O líder brasileiro reiterou que todos os países devem assumir aquilo que é sua parte e saber com quanto vão se comprometer na hora de fechar um acordo pós-Kyoto na 15ª Convenção das Partes (COP-15) sobre mudanças climáticas na Dinamarca. Lula fez a afirmação durante declaração conjunta com o primeiro-ministro da Suécia – país que ocupa a Presidência rotativa da UE, Fredrik Reinfeldt, e com o presidente da Comissão Europeia, José Manuel Durão Barroso.
O dirigente brasileiro também voltou a defender fontes únicas para balizar as informações sobre quanto cada país polui e que se “deixe de falar de forma genérica”.
Segundo o presidente, a cúpula do clima será uma grande oportunidade para resolver um impasse, mas corre-se o risco de não ser alcançado um acordo caso a discussão continue generalizada. Ele lembrou que enquanto a proposta apresentada pela Europa de redução de 20% de suas emissões até 2020 tem por base os dados de 1990, os Estados Unidos aceitam conversar com a condição de que sejam considerados dados de 2005. “A China não pode pagar do mesmo jeito que os países que já estão há mais de 200 anos industrializados”, disse. “Tem de haver uma certa leveza. Temos de nos preparar para sermos mais delicados com o clima nos próximos anos.”
Lula brincou que gostaria de levar um carro flex fuel para Copenhague para mostrar o quanto são menos poluentes, ressaltando que 80% dos carros produzidos no Brasil são desse tipo. “Se eu pudesse, levaria um carro flex para Copenhague para ficar medindo (com o convencional) qual emite menos gás”, disse.
O plano de redução do desmatamento do Brasil foi elogiado pelos participantes da cúpula, que disseram que o Brasil é um exemplo a ser seguido. Segundo o primeiro-ministro sueco, o Brasil criou um programa ambicioso para combater o desmatamento que será discutido em Copenhague.
Durão Barroso também chamou de ambicioso o plano brasileiro. “É exemplo para outros países com grandes áreas de florestas. Espero que eles proponham um acordo comparável”, disse Barroso. O presidente Lula alertou, entretanto, que o Brasil terá de fazer um “esforço imensurável” para cumprir a meta.
O presidente da Comissão Europeia sugeriu que os líderes europeus e brasileiro façam outro encontro antes de Copenhague. “Sabemos que ainda há uma floresta de números e dados. As pessoas comuns e até mesmo os políticos ficam muitas vezes sem entendê-los.” A cúpula na Dinamarca será realizada de 7 a 18 de dezembro.