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Comentário Avícola

Odor na Compostagem de Mortalidade - por Karolina Von Zuben Augusto

Maus odores são a maior causa das reclamações em uma compostagem de mortalidade.

A compostagem de mortalidade de granjas avícolas e suinícolas vem sendo recomendada por se tratar de uma decomposição aeróbia de estabilização de matéria orgânica em condições que permitem elevação de temperatura como resultado do calor produzido pelos microrganismos atuantes e eliminação de problemas sanitários advindos da decomposição das carcaças. Além disso, permite que o produtor descarte os animais mortos produzindo um produto fnal de valor agregado.
O processo é acelerado pela mistura correta de resíduos orgânicos estruturais ricos em carbono (materiais vegetais), fontes de nutrientes (esterco e carcaças), água e oxigênio. O produto final é um produto estabilizado, com volume reduzido em relação ao material inicial e atua como condicionador de solo e fertilizante orgânico.
Porém, os maus odores são a maior causa das reclamações em uma compostagem de mortalidade. O “cheiro” faz parte, de maneira geral, do processo de tratamento de resíduos, provocando as mais diversas reações provenientes de misturas complexas de moléculas orgânicas ou minerais voláteis com propriedades físico-químicas diferentes.
Teoricamente, este processo aeróbio não gera odores fortes como os processos aneróbios, no entanto pode ser acometido caso os materiais utilizados não sejam adequados ou não estiverem em quantidades ideais. Além disso, outros fatores como o mau gerenciamento também pode levar à geração de gases voláteis responsáveis pelo problema.
O odor associado à compostagem não é resultado de um único “cheiro”. Existem quatro fontes primárias de odores advindos da compostagem de carcaças; escolha e/ou granulometria inadequadas dos materiais utilizados; excesso de matéria-prima rica em nitrogênio com consequente perda de amônia e de enxofre; condições de anerobiose em áreas dentro das pilhas de compostagem; e teores de pH fora da neutralidade, principalmente quando alcalinos.
O fornecimento de carbono ao processo é essencial e garantido pelos materiais adicionais vegetais e secos introduzidos nas pilhas. Este, combinado à oferta de nitrogênio encontrada nas aves mortas, deve manter uma relação adequada ao processo para que não haja excesso de nitrogênio e, consequente, perda de amônia e geração de maus odores. Quando esta relação está desequilibrada é aconselhável o aumento de materiais vegetais secos dentro das pilhas.
A geração de amônia também pode ser acarretada pelo aumento do pH nas pilhas. Por causa da grande diversidade de microrganismos que participam do processo, a compostagem ocorre dentro de uma ampla gama de teores de pH. Mesmo assim, o ideal é que seja mantido pH entre 6,5 a 8,5, pois teores acima disso propiciam a conversão de compostos de nitrogênio em amônia volátil que aumenta a alcalinidade. Desta forma, a adição de cal, que é muito comum, não é indicada por elevar ainda mais o pH. Já os teores ácidos de pH favorecem a formação de sulfeto de hidrogênio que, em situações de anaerobiose e presença elevada de enxofre, pode causar maus odores.

O enxofre é um dos componentes dos aminoácidos cistina e metionina, que servem como precursores de compostos voláteis de enxofre na matéria orgânica decomponível. É um elemento odorificamente forte e reconhecível, associado à decomposição da matéria orgânica. Dentre seus compostos, os mais facilmente identificados são as mercaptanas. Embora os compostos de enxofre sejam detectáveis em zonas aeróbias são mais frequentes sob condições anaeróbias.
Além da amônia e enxofre, outros compostos orgânicos voláteis também são responsáveis pelos fortes odores, incluindo as cetonas, aldeídos e alcóois, entre outros. Vale lembrar que em processos controlados, com aporte adequado de oxigênio, a volatilização desses compostos é minimizada.
As condições de anaerobiose ocorrem devido ou ao excesso de água colmatando os espaços entre os materiais, reservados para a passagem de ar, ou à baixa granulometria dos mesmos que ocasiona o mesmo problema. Tais condições podem ser minimizadas através de uma gestão adequada, monitorando granulometria de partícula, quantidades/relação dos materiais e de água, modo de confecção das pilhas e a temperatura interna.
A compostagem além de ser indicada para a mortalidade diária das granjas, pode servir como método de tratamento e disposição na gestão de mortalidades vindas de catástrofes de origens não sanitária. Os princípios da compostagem, nestes casos, são os mesmos que para o processo diário, entretanto, com maior rigor na confecção das pilhas, controle de umidade, disposição das carcaças sobre as camadas, quantidade de materiais e aeração.
Em situações de emergências como estas, aconselha-se métodos de introdução forçada de ar para evitar as ocorrências de zonas anaeróbias. O método é simples e realizado com canos em PVC perfurados e introduzidos verticalmente no centro das pilhas. Esta simples prática irá garantir maior aporte de oxigênio e controle ao processo.
Um dos problemas recorrentes à compostagem de mortalidade, que pode ser indicativo dos motivos dos maus odores, é a lixiviação de líquidos para fora das pilhas. Locais úmidos, molhados ou pilhas com poças em suas bases indicam colmatação dos espaços aéreos e excesso de água, gerando zonas anaeróbias e falência do processo adequado de decomposição. Como solução deste problema é orientado ao operador que seja aplicada uma generosa camada de material palhoso nos locais de lixiviação e que se faça a retirada dos pontos úmidos e molhados, sendo substituídos por materiais novos e secos.
Vale lembrar que a geração de odor é inerente aos sistemas de tratamento de resíduos e que merecem atenção uma vez que causem incômodos e reclamações de vizinhança e comunidades, limitando os impactos a um certo nível de tolerância.

Dra Karolina Von Zuben Augusto

Responsável por projetos de manejo e tratamento de resíduos da agroindústria BITA Tecnologia Animal
www.bita.vet.br