Sob o clima ameno da quarta maior cidade da Alemanha, situada à beira do rio Reno, a feira de Anuga, a maior do gênero em todo o mundo, atrai milhares de visitantes a cada dois anos. Mesmo sem ter sido o “país parceiro” da organização do evento, que se espalha por mais de 6 mil estandes de empresas e entidades ligados ao mundo dos alimentos e bebidas, o Brasil atraiu a atenção de um batalhão de jornalistas e especialistas de 15 países no domingo (11/10).
A expansão da pecuária na Amazônia, os processos “verdes” de certificação e de produção de alimentos orgânicos concentraram os questionamentos. Na maior parte do tempo em posição defensiva, os dirigentes de sete associações de produtores devolveram as perguntas com apelos pelo fim do protecionismo da Europa. Estavam representados o complexo carnes, vinhos, frutas, suco de laranja e biscoitos.
Ao explicar as dimensões do Brasil, as dificuldades de produção e os esforços dos produtores em preservar a Amazônia, os dirigentes deixaram claro que “o cliente tem razão” e que o setor pensa em atender cada vez mais aos gostos e exigências dos consumidores. Mas deram o recado: “Tudo é orgânico no Brasil. E seremos o grande celeiro do mundo no futuro”, disse o presidente da Agência Brasileira de Promoção das Exportações e Investimentos (Apex), Alessandro Teixeira.
Mesmo reconhecido como potência do agronegócio mundial, o país ainda desperta desconfiança acerca de suas intenções em relação ao “pulmão do mundo”. Neste evento de inauguração da presença brasileira em sete dos onze gigantescos pavilhões de Anuga, alguns “inflitrados” levantaram as suspeitas de devastação provocada pelo gado no Norte do país. “Vocês cresceram 81% na Amazônia. Como garantem que isso não está desmatando a floresta?”, disparou o gerente da Associação Alemã da Carne (VDF), Detlef Stachetzki.
O presidente da associação dos exportadores de carne (Abiec), Roberto Giannetti da Fonseca, tentou rebater: “Temos um compromisso com o desmatamento zero na Amazônia, mas não está somente nas mãos das empresas. Depende do governo também. Mas não vamos comprar gado de lá”, afirmou. E emendou: “Irlanda e Reino Unido estão preocupados como a nossa competitividade. Em dois ou três anos, teremos rastreamento pleno do nosso gado e essas críticas não serão levadas a sério”.
O presidente da Apex elevou o tom e ampliou o recado inicial: “O Brasil está abrindo mercados para café, sucos, carnes com a China. Ainda faltam acordos de governos, mas haverá uma diferença muito grande entre demanda e oferta de proteína animal no futuro. Não precisamos de hormônios na carne e estamos muito além do padrão europeu. O Brasil será a grande potência mundial do agronegócio”, disse Alessandro Teixeira.
Ou seja, a Europa tem que garantir esse fornecedor sob pena de colocar em risco seu abastecimento futuro. No fim, entre canapés e caipirinhas, o clima ficou ameno. E os europeus correram para os estandes brasileiros atrás de produtos “verdes”.