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Tecnologia

Plataformas querem soluções para tokenização de créditos de carbono

Identificar os créditos aptos a servir de lastro é um dos desafios para fazer do universo cripto um aliado no combate às mudanças climáticas

Plataformas querem soluções para tokenização de créditos de carbono

Mesmo considerado complexo, o mercado de carbono tem crescido a passos largos e já desperta o interesse de pequenos investidores. Estima-se que, no ano passado, o segmento tenha quadruplicado de tamanho, movimentando em torno de 2 bilhões de dólares apenas em transações voluntárias — aquelas que não dependem de uma legislação para acontecer.

No Brasil, essa continua sendo a única modalidade de negociação desses créditos. O projeto de lei para regulamentar as compras e vendas de carbono no país existe, mas está parado na Câmara dos Deputados e não há previsão para ser votado.  

A popularização do segmento acompanha o maior comprometimento das empresas com uma política de carbono zero, diante de stakeholders mais vigilantes sobre o cumprimento de acordos climáticos internacionais. O cidadão comum também já consegue ter acesso a esses ativos e compensar as próprias emissões. Diversas plataformas disponibilizam “calculadoras de CO2”, capazes de apontar a pegada de carbono de uma pessoa e dizer o quanto ela precisa desembolsar para compensá-la.  

Cripto de carbono?

Não é de se estranhar que esses créditos tenham chegado ao universo dos criptoativos, cada vez mais popular entre investidores. A solução de blockchain, sistema que registra a transação de moedas virtuais, como o bitcoin, parece preencher perfeitamente alguns gargalos do segmento de carbono. Por um lado, a tokenização do crédito garante sua rastreabilidade, além de evitar que a emissão seja compensada mais de uma vez. Traz também um ganho de escala a esse mercado, possibilitando que o ativo seja dividido em frações menores, tornando-o mais acessível ao investidor pessoa física.  

Contudo, esse modelo de negociação também tem sido alvo de críticas. Um crédito de carbono equivale a uma tonelada métrica de dióxido de carbono (CO2) que deixou de ser emitida pela empresa emissora do ativo. Não há regras, contudo, que especifiquem como um token de carbono deve ser criado — e isso tem sido visto como um problema de falta de transparência. Críticos da tokenização afirmam que não é possível garantir que o ativo digital esteja lastreado em um projeto real de descarbonização.  

Proibido tokenizar 

A Verra, que faz certificação e custódia da maioria dos créditos de carbono negociados no mercado voluntário global, trouxe mais questionamentos sobre a eficácia da tokenização. Em maio deste ano, a entidade passou a restringir a venda de créditos de carbono às tokenizadoras. Desde então, empresas como a brasileira Moss, criadora do token MCO2, estão proibidas de transformar créditos adquiridos com a Verra em criptoativos.  

Hoje, o investidor pode adquirir um crédito de carbono com o intuito de lucrar com sua valorização no futuro. As empresas também costumam estocar créditos, para compensar emissões que ainda estão por vir. O ativo só sai de circulação — é “aposentado” — quando é utilizado na compensação de uma emissão. Na tokenização, porém, o crédito é aposentado para ser introduzido na blockchain. É uma garantia de que o crédito não vai ser vendido duas vezes. 

A Verra, no entanto, não consegue saber quando os créditos foram usados para compensar uma emissão ou se são apenas objeto de especulação. A entidade usou essa justificativa para restringir a venda de ativos às tokenizadoras e admitiu que ainda não possui sistemas com a sofisticação necessária para fazer esse monitoramento.  

Caminho sem volta 

No início do mês passado, a Verra apresentou propostas para dar transparência às negociações de créditos de CO2 nas plataformas digitais. Sugeriu uma solução tecnológica que garanta a integridade do sistema de ponta a ponta e garantias para que as negociações não ocorram de forma anônima. Além disso, propôs uma forma de diferenciar os créditos “aposentados” após a comercialização daqueles “imobilizados” para servir de lastro à tokenização. Nos próximos meses, a entidade vai receber comentários a respeito dessas sugestões e anunciar uma decisão até o final do ano.   

Apesar dos percalços, a movimentação de grandes players mostra que a tokenização do crédito de carbono é um caminho sem volta. A International Finance Corporation (IFC), um braço do Banco Mundial, assumiu, recentemente, a empreitada de testar transações com esses ativos em uma plataforma na blockchain, o Climate Warehouse. As primeiras negociações estão previstas para este mês.  

O sistema promete fazer um controle mais rigoroso, identificando créditos que não tenham ainda sido usados para compensar emissões de gases do efeito estufa. Separar o joio do trigo vai ser fundamental para que o universo cripto seja de fato um aliado no combate às mudanças climáticas e não somente um espaço para especulação, como ocorre com muitos dos ativos negociados nesse ambiente.