O vice-presidente executivo da União Europeia, Frans Timmermans, defendeu perante os deputados do Parlamento Europeu, em Estrasburgo, que os preços recorde da eletricidade que se verificam em vários países da União Europeia — de Espanha ao Reino Unido, entre outros –, mostram que o bloco se deve livrar rapidamente dos combustíveis fósseis e acelerar a transição para a energia verde.
Os preços da energia nos mercados grossistas já duplicaram este ano, impulsionados pelo aumento dos preços do carvão e do gás natural, a alta dos preços das licenças de emissões de CO2 e a produção de energia renovável mais baixa do que o normal (sobretudo eólica).
“Se tivéssemos assinado o Green Deal cinco anos antes, não estaríamos nesta posição, porque teríamos já menos dependência dos combustíveis fósseis e do gás natural”, disse Timmermans, citado pela Reuters, sublinhando que, mesmo com os preços altos de de produção a partir dos combustíveis fósseis, os custos da geração renovável permaneceram baixos e estáveis.
Algo que “deve encorajar a UE a acelerar sua transição verde, para garantir que mais cidadãos tenham acesso a energia renovável a preços acessíveis”, disse.
Os preços do carbono na Europa (61 euros por tonelada), que impactam o custo da eletricidade, também subiram para níveis recorde este ano, mas Timmermans garantiu que não foram os principais culpados pelo aumento dos custos de energia. “Apenas cerca de um quinto do aumento do preço [da energia] pode ser atribuído ao aumento dos preços das licenças de emissão do CO2”, advertiu.
Como é que as renováveis fazem baixar o preço da eletricidade?
De acordo com uma análise do jornal espanhol El País, nesta quarta-feira, em que o MWh está a valer o preço nunca antes visto de 172,78 euros, no pico entre as 12h30 e as 13h, a origem da energia no Mibel será nuclear (25%), cogeração (15,8%), ciclo combinado a gás natural (14,5%), hidráulica (13,2%), carvão (7,4%), eólica (6,1%) e solar (0,75%).
Neste mix, quem manda é o preço fixado pelas centrais a gás (inflacionado pelo custo atual da matéria prima nos mercados internacionais e pela alta de preços das licenças de emissão de CO2), que são as últimas a entrar no sistema e, de “forma cega” marcam o tom para todas as outras.
Por contraste, no dia 31 de janeiro, quando o Mibel desceu a mínimos históricos de 0,89€/MWh, a eletricidade no sistema era 48,13% de origem eólica, 15,5% de cogeração, 14,85% hidráulica, 13,71%, nuclear, 7,63% fotovoltaica e 0,23%, solar, não havendo necessidade de recorrer às centrais a gás e a carvão. Ou seja, por regra, quanto mais renováveis, mais barata é a eletricidade.
Neste momento, a Europa enfrenta a tempestade perfeita no setor energético: com muita procura de energia elétrica por causa da retoma económica pós-pandemia; as renováveis em baixa a impedir a produção de energia elétrica a preços mais baratos e a exigir a entrada em cena das centrais a gás; os preços do gás a bater recordes sucessivos na Europa devido à elevada procura e aos baixos stocks; as licenças de emissão de CO2 cada vez mais caras; e um inverno pela frente.
Escreve o El País que, no Mibgas, por exemplo, o preço para esta quarta-feira será de 63,72 euros por MWh, uma subida de 3,7% face ao dia anterior e quase o dobro da tarifa de janeiro. “Por cada euro que sobe o gás, equivale a dois euros nos preço da luz. Os preços da luz que temos hoje têm 75% a ver com o gás”, explica Jorge Morales, diretor da elétrica espanhola Próxima Energía, citado pelo jornal espanhol.
De acordo com os dados do Mibgas, as tarifas de gás continuarão acima dos 60 euros no último trimestre deste ano e primeiro trimestre de 2022.
Na Europa, os preços do gás continuam em alta. Esta terça-feira, 14 de setembro, os preços do gás natural no Reino Unido e na Holanda voltaram a disparar para níveis recorde, avançou a Bloomberg. Os preços futuros de referência do gás europeu negociados na Holanda subiram até 7%, para 65,57 euros por megawatt-hora.
Para a segunda metade de 2021 é já esperado que o preço do gás neste índice seja 60% mais caro do que a média histórica dos cinco anos anteriores (isto sem considerar 2020, em que o preço esteve em mínimos, devido à pandemia).
Com o inverno à porta, basta uma tempestade ou uma vaga de frio mais rigorosa no continente para que os preços do gás dupliquem e cheguem aos três dígitos, acima de 100 euros por MWh, dizem os analistas.