A aplicação do conceito de bem-estar animal na produção de suínos é uma prática exercitada há muito tempo no Brasil. Até por ser um dos grandes players mundiais do mercado suinícola, criar os animais em condições adequadas – livres de fome, sede, desconforto, dor, doença e medo e capazes de expressar seus comportamentos naturais – tornou-se uma questão vital para o setor.
Não que não existam assimetrias na garantia do bem-estar entre as várias fases de criação ou entre granjas. Mas o fato é que o aperfeiçoamento das condições de criação e abate dos animais no processo produtivo suinícola é um objetivo seriamente perseguido pelos produtores brasileiros. Não apenas porque o consumidor assim o exige, mas também e, principalmente, por questões de produtividade. Animais criados dentro de sua zona de conforto, longe de situações de estresse, são mais produtivos e têm carne de melhor qualidade. “Permitir sofrimentos desnecessários aos animais, além de ser uma questão moral, influencia na qualidade da carne”, afirma o médico veterinário Roberto de Oliveira Roça, professor da Universidade Estadual de São Paulo (Unesp). “Por isso, é cada vez maior o número de pesquisas na área suinícola que usam o bem-estar animal como pressuposto para o aumento da produtividade dos animais e para a qualidade de sua carne”.
Pré-abate – Segundo Roça, sob o ponto de vista do bem-estar animal um dos pontos críticos enfrentados pela indústria suinícola atualmente encontra-se, sobretudo, nas fases de manejo pré-abate e abate. O especialista argumenta que o manejo que antecede o abate engloba uma série de atividades estressantes – como jejum, remoção dos suínos das baias, transporte, mistura de lotes etc. – que pode causar reflexos psicológicos, físicos, ambientais e metabólicos nos animais. “E falhas no manejo pré-abate podem desenvolver carcaças com anomalias, conhecidas como carne PSE e DFD”, explica.
De acordo com Roça, para minimizar esses impactos na qualidade da carne – e na lucratividade das empresas – são necessários investimentos e uma nova postura dos responsáveis pela operação: produtores, transportadores e agroindústria. O produtor, explica o especialista, precisa aprimorar o trato com os animais nesta fase, promovendo, por exemplo, a realização correta do jejum dos suínos na granja antes do embarque. Aos transportadores (que são contratados pela agroindústria, diga-se) – cabe investir em modelos de caminhões mais modernos, com plataformas de embarques adequadas e carrocerias apropriadas para o transporte dos suínos e no treinamento da mão-de-obra dedicada à operação. Já a indústria, explica Roça, precisa aperfeiçoar procedimentos simples, porém de suma importância, como a adequação das baias de descanso, a redução do tempo de espera dos animais no abatedouro, a manutenção dos grupos de origem e, principalmente, a adoção de métodos de insensibilização mais atuais. “Os métodos de insensibilização causam vários graus de contração muscular e aumento da pressão sanguínea, durante e/ou depois da insensibilização”, explica Roça. “Quando realizado de forma incorreta pode causar violenta contração muscular, fraturas ósseas, equimoses e aumento de carne PSE”, completa.
No Brasil, a insensibilização é realizada, em sua grande maioria, pelo método elétrico – eletronarcose ou eletrocussão. De acordo com Roça, embora essa técnica tenha sido bastante difundida desde o final da década de 1920, o sistema de insensibilização a gás é mais moderno, e pode ser uma alternativa mais ajustada ao atual estágio de desenvolvimento da suinocultura.