A produção de biomassa pode ser uma fonte de renda extra para a suíno e a avicultura quando aproveitada sob orientação técnica e condições adequadas. Quem defende apostas na autossuficiência energética é o engenheiro agrícola da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), Paulo Armando Victória de Oliveira, com benefícios para o ambiente. O tema foi abordado na terça-feira (14) pelo especialista na AveSui, Feira da Indústria Latino-Americana de Aves e Suínos, em Florianópolis, SC.
A geração de energia se tornou uma fonte de renda para a avicultura?
É uma ótima fonte de energia desde que o produtor economize com a alternativa. Se tiver que vender para as concessionárias não é um bom negócio. Na hora que ele for vender, vai receber sempre menos do que poderia. Se ele vende a R$ 0,12 a R$ 0,14 o KW, a concessionária vende a R$ 0,24, R$ 0,26. O bom negócio é economizar a energia utilizada na propriedade.
É uma alternativa para pequenos e grandes?
No caso da suinocultura, é mais para médios e grandes produtores. Todos os motores para produção de energia consomem muito biogás, na faixa de 15 a 60 metros cúbicos por hora de biogás. Para produzir 15 [metros cúbicos por hora], ele teria que ter 3 mil suínos. E depois é preciso área suficiente de terra para manejar o biofertilizante, como em pastagens ou culturas de milho.
A utilização da bioenergia vem crescendo no país?
Logo que se implantaram os programas de biodigestor foi interessante, teve uma acolhida boa. Mas depois, quando os produtores começaram a verificar que para a produção de energia dependeria de um número grande de animais e muitos não tinham, isso estacionou. Outra possibilidade que existe é a dos produtores coletivos. Vários [produtores] fornecem o biogás para uma rede e essa rede abastece o gerador, como um consórcio.
A legislação ambiental tende a evoluir a ponto de exigir o aproveitamento dos resíduos por meio destas tecnologias?
Não, porque se você olhar para a Europa ou os Estados Unidos, eles não obrigam nenhum produtor a ter biodigestor em suas propriedades nem ter sistema de tratamento. Estão preocupados com o uso do biofertilizante.
Como o senhor analisa a perspectiva de adesão à produção de bioenergia e biomassa no país?
Acho que tende a crescer porque o Brasil tem grande capacidade de produção de biomassa. Só o que está faltando hoje é um pouco de incentivo por parte de linhas de financiamento e o conhecimento técnico por parte dos produtores. Hoje tem o programa ABC, que tem uma linha de financiamento bem interessante.
Quais seriam os desafios a serem vencidos no setor?
Entrave tecnológico daria para dizer que não existe. O que existe é falta de conhecimento dos produtores do potencial em termos de tecnologia, linhas de crédito. Os investimentos são muito relativos. Tenho que pensar: o investimento que eu estou fazendo traz retorno? Quanto tempo levo para pagar o empréstimo que eu fiz? No uso do biogás como geração de energia elétrica vai ter que ter um retorno.
E o aprimoramento do tratamento de resíduos, está caminhando?
Existem algumas alternativas de tratamento de resíduos. Todo e qualquer tratamento tem que ser autossuficiente, todo investimento tem que ter um tempo de retorno menor possível. O resíduo final tem quer ser praticamente zero.
Existem bons modelos de projetos autossuficientes?
Nós temos, em termos de tratamento de dejetos de suínos, um sistema de compostagem, que vamos lançar na AveSui, com um arranjo entre produtores, agroindústrias, produtores de serragem e uma fábrica de adubos.